07 Dezembro 2012
"Entregues à própria sorte. Assim os haitianos nestas paragens. São mais de 300 numa casa com apenas um banheiro", denuncia Israel Souza, cientista político e membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO), em nota publicada no blog Insurgente Coletivo, 05-12-2012. As imagens são de Israel Souza.
Eis a nota.
Após o grande terremoto que atingiu seu país em 2010, muitos haitianos, fugindo da miséria e do cólera, abandonaram sua terra natal e se aventuraram em terras outras. Atraídos pela esperança de prosperidade, proclamada aos quatro ventos pelo governo brasileiro, muitos deles aportaram por aqui.
Estado de fronteira, o Acre tornou-se uma das portas de entrada para muitos desses sujeitos. Chegando aqui, porém, o que encontraram foi muita miséria e abandono. A situação em que se encontram na terra de Chico Mendes é degradante, subumana.
No momento, a dona da casa em que residem ameaça deixar-lhes sem teto. É que já faz mais de 8 meses o governo estadual acreano deixou de pagar o aluguel. Também já somam alguns meses que o mesmo governo deixou de pagar a conta de energia.
Entregues à própria sorte. Assim os haitianos nestas paragens. São mais de 300 numa casa com apenas 1 banheiro. Entre eles, há recém-nascidos. As condições de higiene são precárias, quase inexistentes. Alguns deles estão cozinhando improvisadamente nos quartos - quando há o que cozinhar. É comum uns tantos passarem fome ali, ficando mais de 1 dia sem comer. Vez em quando se viram comendo manga, fruta da estação.
Forçados pelas condições, alguns estão usando de criatividade e coragem para dormir. Sem quartos para todos, uns têm feito sua “cama” do lado de fora da casa. Como se pode vê nas fotos, trata-se de uma pequena “cobertura”, pouco menos de um metro, feita com faixas, que cobre o chão coberto de papelão. Mas se vier chover e no Acre estamos em período de chuva...
Um dos haitianos nos dizia que o que muitos querem ali não é tanto a caridade dos outros ou do governo. Eles anseiam mesmo é pelo CPF. Dizia que muitos têm parentes aqui no Brasil. Que se tirarem o CPF poderão ir para a casa de seus parentes e procurar trabalho. É patente a falta de vontade política de resolver ou minorar a situação destes homens e mulheres.
O governo estadual acreano e o federal, em regra, têm lhes dispensado a mais pura indiferença. Em tom ufanista, tais governos não se cansam de falar em crescimento econômico, redução da pobreza e da miséria, desenvolvimento sustentável, integração etc. Aqui em nossa terra, porém, os haitianos não foram acolhidos senão pelo abandono. Aviltados, encontram-se reduzidos a menos que gente.
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Menos que gente: a condição de abandono dos haitianos no Acre - Instituto Humanitas Unisinos - IHU