15 Setembro 2012
A Igreja e o mundo estão hoje muito mais pobres por causa da morte do cardeal Carlo Maria Martini. O jesuíta estudioso da escritura e arcebispo emérito de Milão foi o gigante indiscutível do Colégio dos Cardeais. Mesmo aos seus 80 anos e incapacitado pelo mal de Parkinson, ele continuou publicando livros, oferecendo reflexões espirituais e até mesmo respondendo a perguntas dos leitores em uma coluna mensal que ele escrevia – até poucos meses atrás – na edição dominical do jornal Corriere della Sera, um dos jornais mais importantes da Itália.
A reportagem é de Robert Mickens, publicada na revista católica britânica The Tablet, 31-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Durante seus 22 anos como chefe da maior diocese da Europa, o cardeal Martini emergiu como talvez o líder da igreja mais respeitado do continente. Na Itália, ele foi sem dúvida o homem católico mais procurado na busca de orientação espiritual e sabedoria, mesmo em uma era em que a personalidade hercúlea que era o Papa João Paulo II comandava grande parte da atenção do mundo.
No palco internacional, Martini era uma inspiração e uma figura de esperança para os chamados católicos do Vaticano II e os católicos moderados-progressistas em um momento em que o falecido papa e os cardeais mais conservadores trabalhavam para retardar o espírito de reforma do Concílio e para efetuar um programa contínuo de restauração.
O jesuíta italiano mostrou aos católicos mais liberais uma forma de viver fiel e criativamente viver com os ensinamentos mais difíceis da Igreja, especialmente no campo da sexualidade humana e da justiça social, e mesmo assim ter um pensamento à frente.
Se João Paulo II tivesse morrido uma década antes, ou se o cardeal Martini tivesse estado mais saudável no último conclave, ele poderia ter sido o Bispo de Roma. De fato, ele continuou sendo um dos principais candidatos ao papado na eleição de 2005, até que ele deixou claro que estava doente demais para a tarefa.
Eu guardo com carinho uma imagem muito vívida do cardeal Martini de apenas alguns meses após o conclave que elegeu Bento XVI. Eu estava em um congresso internacional em Roma para marcar o 40º aniversário do documento do Vaticano II sobre a escritura, Dei Verbum. O evento reuniu mais de 100 bispos, além de algumas centenas de biblistas e catequistas – todas pessoas que estiveram envolvidas em tornar a Bíblia mais acessível às pessoas comuns. Eu tinha ido para ouvir o grande cardeal jesuíta, então com 78 anos, dar uma conferência. E muitos outros também.
O cardeal Martini, vestido em um terno preto simples com uma camisa clerical cinza, lentamente fez o seu caminho até a sala de conferências lotada, com a ajuda de uma bengala. Ele parecia ainda mais frágil do que no conclave. Imediatamente ao ver essa figura augusta e digna, o público explodiu em aplausos vigorosos. E, antes mesmo que ele chegasse ao seu lugar, as pessoas já estavam lhe dando uma ovação de pé. Eu sabia que ele tinha um público fiel, mas a resposta entusiástica surpreendeu até mesmo a mim. Era como se o próprio papa houvesse entrado naquela sala. E eu me lembro de pensar: "Isso deve estar na mente de muitas pessoas também".
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Cardeal Martini: um gigante do Colégio dos Cardeais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU