06 Setembro 2012
Padre Silvano Fausti, jesuíta milanês, foi confessor do cardeal Martini durante 15 anos.
A reportagem é de Gabriele Moroni, publicada no sítio do jornal Il Giorno, 05-09-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Eu segurava uma mão enquanto ele morria; a irmã e os sobrinhos, a outra. No quarto, estavam Marisa e Marco, os dois enfermeiros que o haviam assistido e que choravam, o padre Marco Cortesi, seu secretário por muito tempo, o abade de Praglia, seu amigo, Mons. Brugnaro". O relato é do padre Silvano Fausti, jesuíta milanês e por 15 anos confessor do cardeal Martini. Mas também amigo, confidente, companheiro de excursões à Selva di Val Gardena. Hoje, testemunha excepcional.
Eis a entrevista.
Como o senhor se tornou confessor do cardeal?
Foi após a morte do padre Beck. Ele me pediu uma primeira vez e eu lhe respondi que não. Da segunda vez, eu aceitei, mas eu pus uma condição: que tomasse um dia de folga por semana. Até Deus havia feito isso. Um dia livre para aproveitar a vida. Ele sempre obedeceu.
O senhor se emocionava com o fato de ter o cardeal como penitente?
Era uma consciência muito delicada e muito atenta. Entre nós, nasceu uma amizade que já existia, no entanto. Eu gostaria de enfatizar uma característica de Martini. Ele tinha uma grande fé, mas não nas suas próprias ideias, como normalmente acontece com os clérigos que acreditam mais nas próprias ideias do que em Deus. Em Martini, havia uma atenção profunda pelo homem com tudo o que está ao redor. Por debaixo, estava a sua fé de que Deus está verdadeiramente dentro de cada pessoa. Como para São Paulo. Sem Paulo, o cristianismo teria permanecido uma seita judaica. Martini fez o mesmo. Pessoalmente, me comoveu o fato de que os judeus com o rabino-chefe rezaram tanto em Gallarate quanto em Milão, na Piazza Fontana.
Como era a relação de Martini com a doença?
Durava há quase 15 anos. Ele sabia que ela se agravaria sempre mais, mas que a mente permaneceria lúcida. Ele comparava entre o mal de Parkinson e o Alzheimer. Ele dizia: "O Parkinson é o antagonista do Alzheimer".
O papado e Martini.
Era a sua consciência interior que lhe fazia não o desejar. As coisas vão por inspiração. Ele apoiou Ratzinger. No Consistório, era ele quem tinha mais votos e os deu a Ratzinger. Se Martini tivesse sido o papa, teria feito um Concílio não sobre os dogmas, mas sobre grandes questões práticas, os padres casados, o sacerdócio para as mulheres, a readmissão dos divorciados aos sacramentos. Esse é o Concílio que ele teria feito ou que aconselharia ao papa. Ele sonhava com um novo Concílio para reestruturar uma Igreja que regrediu 200 anos, recuperar aqueles que estão atrás, abrir um novo curso. Ele pensava que a tarefa da Igreja não era a de conservar os crentes, mas sim de se abrir a todos as pessoas. E ele também pensava que o bispo deveria ser eleito pelo clero local. No fundo, Ambrósio foi eleito pelo povo.
Uma recordação das férias na Selva di Val Gardena.
Íamos todos os anos para lá. Em cada encontro nosso, ele não deixava de me perguntar sobre os amigos da Selva, os mesmos que foram ao seu funeral. Subíamos a montanha, falávamos, mas também nos comunicávamos com o silêncio. O que mais me impressionava era a sua capacidade de escuta. E de aprender sempre. Líamos São Paulo juntos. Diante dele, eu me sentia um pintinho. Ao contrário, ele tinha curiosidade de saber o que eu pensava.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''Enquanto Martini morria, eu segurava a sua mão.'' Entrevista com Silvano Fausti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU