Por: Cesar Sanson | 05 Setembro 2012
Estudo indica que, se não forem protegidas, um quinto das espécies de insetos, crustáceos, moluscos e outros poderão desaparecer, reduzindo a biodiversidade mundial e afetando também o modo de vida do ser humano.
A reportagem é de Jéssica Lipinski e publicado pelo Insituto CarbonoBrasil, 04-09-2012.
Quando pensamos em animais que correm risco de extinção, nossa atenção costuma se voltar quase que exclusivamente para espécies grandes e adoráveis como tigres, pandas, ursos e focas. Quase nunca lembramos dos invertebrados, que muitas vezes são vistos por nós como pragas, mas que têm um papel importante para a biodiversidade global e para o homem.
Pois uma nova análise da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL) revelou na última semana que insetos, crustáceos, moluscos e outros animais deste tipo também correm o risco de desaparecer, e a porcentagem de espécies em perigo se assemelha à de vertebrados e plantas.
“Sabíamos que cerca de um quinto dos vertebrados e plantas estavam ameaçados de extinção, mas não era claro se isso representava as pequenas criaturas invertebradas que compõe a maioria da vida do planeta. As descobertas iniciais neste relatório indicam que 20% de todas as espécies podem estar ameaçadas. Isso é particularmente preocupante, já que somos dependentes dessas criaturas invertebradas para nossa própria sobrevivência”, comentou Jonathan Baillie, coeditor e diretor de conservação ZSL.
A pesquisa avaliou cerca de 12 mil espécies de invertebrados da Lista Vermelha da IUCN e está sendo considerada a maior análise sobre esses tipos de animais já feita. Apesar disso, como se calcula que existam cerca de 1,3 milhões de espécies de invertebrados, ou 80% do total de espécies de animais na Terra, isso significa que o estudo avaliou menos de 1% dos que existem atualmente.
Segundo a avaliação, os invertebrados que enfrentam os maiores perigos são aqueles cujo habitat é menor e mais limitado. “O risco mais alto de extinção tende a estar associado a espécies que são menos móveis e são encontradas apenas em áreas geográficas pequenas. Por exemplo, anfíbios vertebrados e moluscos invertebrados de água doce enfrentam níveis altos de ameaça – cerca de um terço das espécies”, afirmou o relatório.
“Ao contrário, o risco de extinção global vivido por insetos voadores como libélulas, libelinhas e borboletas tende a ser muito mais próximo ao risco das aves (cerca de uma em dez espécies está ameaçada)”, completou o documento.
De acordo com o texto, entre as razões do desaparecimento da maioria das espécies de insetos, crustáceos, moluscos e outros estão as mudanças climáticas, a poluição, a perda de habitat, a acidificação dos oceanos, o uso de agrotóxicos em plantações, o despejo de resíduos tóxicos em seus habitats, doenças, invasão de espécies exóticas em seus ecossistemas e outras, a maioria causada pelo ser humano.
E apesar de os riscos enfrentados pelos invertebrados serem praticamente os mesmos dos vertebrados, o estudo aponta que estes últimos são muito mais avaliados quando se trata das causas e taxas de extinção.
“A análise de invertebrados tem ficado atrás da dos vertebrados [na Lista Vermelha da IUCN]. Uma das razões frequentemente citadas é a falta de informação. Os dados são de fato difíceis de encontrar, e são particularmente pobres para invertebrados marinhos de águas profundas e microinvertebrados de água doce”, admitiu o relatório.
“Nosso sistema marinho é o menos conhecido, então há muito mais trabalho a ser feito em termos de descobrir o que há lá e o que está acontecendo. É possível que os níveis de ameaça sejam maiores, particularmente das que não têm fronteiras reais, como a acidificação oceânica”, acrescentou Ben Collen, diretor da Unidade de Indicadores e Análises da ZSL.
Os cientistas lembraram também que é extremamente importante rastrear e divulgar a situação da biodiversidade invertebrada, pois além de ter um papel chave nos ecossistemas, ela é essencial para o ser humano, que depende dela de várias formas, como polinização e adubagem de plantações (abelhas, minhocas), alimentação (crustáceos, moluscos), vestuário (bicho-da-seda), purificação de águas (corais) etc.
Para se ter uma ideia, estima-se que a polinização de colheitas realizada por insetos, por exemplo, tenha um valor equivalente a US$ 191 bilhões por ano. Já um estudo de 1997 colocou o valor econômico da biodiversidade do solo – considerando principalmente minhocas, tatuzinhos-de-jardim e besouros – em US$ 1,5 trilhão por ano.
“Os invertebrados são engenheiros do ecossistema. Eles produzem muitas das coisas das quais os humanos dependem e as produzem de graça. As coisas que [os invertebrados] fazem valem bilhões de dólares por ano à economia global e no momento esses custos não são levados em conta nas decisões”, ressaltou Collen.
“Precisamos comunicar o significado e o valor da vida invertebrada se quisermos resgatar as milhares de espécies ameaçadas da beira da extinção”, alertou Richard Edwards, diretor executivo do Wildscreen, organização parceira da Lista Vermelha da IUCN que promove a biodiversidade através da fotografia. “Esse relatório importante enfatiza o impacto que estamos criando para a biodiversidade invertebrada do mundo, espécies das quais todos dependemos para sistemas naturais saudáveis, modos de vida sustentáveis e bem-estar humano”, completou Edwards.
Para ajudar a reverter essa taxa de extinção, o relatório sugere que mais pesquisas sejam feitas para mapear as espécies existentes e sua situação. “Estamos agora tentando expandir o número de espécies invertebradas avaliadas pela Lista Vermelha da IUCN de Espécies Ameaçadas. Espero sinceramente que a expansão da informação relacionada à conservação de invertebrados os ofereça muito mais conservação no futuro”, concluiu Simon Stuart, presidente da Comissão de Sobrevivência de Espécies da IUCN.
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Cerca de 20% dos invertebrados enfrentam extinção - Instituto Humanitas Unisinos - IHU