22 Julho 2012
O papa parece estar consciente do risco de apresentar uma Igreja desequilibrada sobre um único lado, que se encerra no museu de um período da sua história, que não deve ser renegado, mas nem absolutizado. Seria uma autoguetização mortal!
A análise é de Christian Albini, doutor em ciências sociais e teólogo italiano membro da Associação Teológica Italiana, publicada no blog Sperare per Tutti, 18-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Há poucos meses, os "bem informados" das informações católicas davam por certo o retorno à comunhão com Roma dos tradicionalistas lefebvrianos que rejeitam o Vaticano II. Os seus simpatizantes dentro da Cúria Romana e da hierarquia católica haviam alimentado o máximo possível essa convicção, fortalecidos pela vontade do papa de curar o único cisma do século XX e pelas suas concessões no campo litúrgico.
Em pouco tempo, a situação passou por uma inversão, por causa da não aceitação por parte dos lefebvrianos do texto doutrinal que deveria sancionar a reconciliação. O fato em si é simples: os tradicionalistas intransigentes estavam convencidos de que o Vaticano II já poderia ser posto em uma gaveta e esquecido. A sua visão tem um fato histórico em sua base, bem sintetizado por Massimo Firpo em um artigo publicado no jornal Il Sole 24 Ore:
"No Concílio de Trento, para combater o sola Scriptura dos protestantes, a Igreja Católica elevou o seu magistério, fundamentado sobre a tradição apostólica, ao cargo de fonte da revelação assim como a Palavra de Deus. Essa tradição, na realidade, conheceu múltiplas mudanças ao longo dos séculos, e a Igreja 'de sempre' dos lefebvrianos nada mais é do que a severa Igreja tridentina prolongada de Pio V a Pio XII que o Vaticano II tentou, ao menos em parte, superar."
É verdade que Joseph Ratzinger não compartilha com certos desenvolvimentos pós-conciliares (veja-se o famoso livro-entrevista com Messori, A fé em crise, de 1985) e que compartilha muitas instâncias tradicionalistas. Também é verdade, porém, que ele é um teólogo muito preparado para não saber que a visão de tradição de certos ambientes é muito fechada e não sustentável, porque absolutiza a forma daquela que é uma fase da Igreja. A tradição, na realidade, é mais ampla e variada.
Além disso, "resetar" de fato um Concílio que envolveu todo o episcopado e que foi compartilhado por quatro pontífices teria efeitos devastadores para a coerência interna e a solidez do catolicismo, pois relativizaria a sua hierarquia para subordiná-la ao arbítrio de algumas camadas.
Para além da história do famoso preâmbulo doutrinal, na verdade, no último período foi registrada uma série de intervenções com as quais Bento XVI reafirmou aqueles aspectos do Vaticano II mais indigestos para os lefebvrianos.
Em junho, encontrando-se com uma delegação do patriarcado de Constantinopla, ele indicou no Concílio um ponto de partida para o ecumenismo. Na mensagem para o encerramento do Congresso Eucarístico de Dublin, ele reiterou a reforma litúrgica. Em Frascati, ele indicou nos documentos conciliares uma riqueza para a formação das novas gerações.
Em suma, o papa parece estar consciente do risco de apresentar uma Igreja desequilibrada sobre um único lado, que se encerra no museu de um período da sua história, que não deve ser renegado, mas nem absolutizado. Seria uma autoguetização mortal!
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Bento XVI e o Vaticano II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU