Por: Jonas | 27 Junho 2012
No último dia 10 de junho, o jornalista estadunidense Greg Burke (foto) tomou uma decisão que mudará a sua vida. Ele aceitou a nomeação de “assessor de comunicação” da Secretaria de Estado da Santa Sé. Um posto inédito, inexistente no passado, efeito do “vatileaks”, a crise do vazamento de documentos secretos do papa Bento XVI para a imprensa. Um trabalho que ele mesmo qualificou de “alto risco”.
Membro da Opus Dei, com 52 anos, assumirá concretamente sua nova função no início de julho, provavelmente na segunda-feira, dia 2. Até esta semana era correspondente da Fox News, após ter passado pelo semanário Time. Residente em Roma, há mais de duas décadas, conhece bem as dificuldades do mundo vaticano. É consciente que ninguém pode mudar, rapidamente, as velhas inércias da Cúria Romana. Nem sequer o próprio Papa.
Porém, como todo jornalista, sabe que a Santa Sé vive um de seus piores momentos em matéria de imagem. Atormentada, não somente pelo vazamento de notícias e pelos “corvos” anônimos, mas também por uma série de evidentes falhas na gestão interna, que se refletem negativamente na imprensa mundial. Em entrevista ao Vatican Insider, o jornalista explicou como pensa em contribuir, com o seu “grão de areia”, na necessária mudança de rota na comunicação apostólica.
A entrevista é de Andrés Beltrano Álvarez, publicada no sítio Vatican Insider, 25-06-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Como você decidiu aceitar o posto de conselheiro de comunicação do Vaticano? Certamente é uma daquelas decisões que não tem como voltar.
Como me disse um amigo: “ânimo, esta é uma das decisões que se tomam de joelhos”. De joelhos ou não, pessoalmente, eu pensei muito. Inicialmente, havia respondido não à proposta, talvez por um pouco de medo de uma responsabilidade demasiada complicada ou muito grande e, depois, porque, até esta semana, tinha um trabalho muito bonito, do qual eu gosto e que me fazia muito bem, com perspectiva de futuro. Meu novo trabalho tem um pouco mais de “alto risco”. É uma grande mudança para mim, embora estejamos sempre falando do mundo da comunicação. Finalmente, eu aceitei. É um risco, mas nós o assumimos.
Um grande desafio...
Sim, é um desafio. De vez em quando, ele nos serve para sairmos de nossa “zona de tranquilidade”, porque, além do trabalho, na verdade levava uma vida geralmente tranquila.
Como será o trabalho que você desempenhará?
Quando me explicaram, no Vaticano, sobre o meu papel, eu pensei no posto de “diretor de comunicação” da Casa Branca, em que é o porta-voz que aparece, sendo que existe outro personagem que nos bastidores pensa as estratégias: como formular a mensagem? Como transmiti-la? Onde e quando? Trata-se de um trabalho de longo prazo, porque quando a comunicação se concentra só em reagir, tudo se torna mais difícil.
Não tenho a ilusão de começar e mudar tudo, eu conheço bastante o Vaticano, não sou especialista, mas o conheço suficientemente para saber que ninguém chega e muda tudo, nem sequer o Papa. Imagine, então, um jovem leigo, que não é bispo e nem cardeal. Eu não terei poder, porém terei um escritório na Secretaria de Estado e, certamente, acesso àqueles que podem tomar as decisões. Darei a contribuição de minha experiência profissional, dizendo o que os jornalistas buscam, o que eles esperam, qual será a reação para esta ou para outra declaração.
Por que você acha que foi escolhido?
Duas coisas fundamentais: estou aqui há mais de 20 anos, com uma boa experiência. Não gosto de dizer que sou católico praticante, porque depois dirão que me escolheram por eu pertencer à Opus Dei. Posso garantir que não me chamaram, nem no Time e nem na Fox pela “Obra”. Também, acredito que eles procuravam um anglófono, não porque os estadunidenses resolvam todos os problemas, mas possuem um olhar diferente e mais internacional.
Acredita que escutarão você?
Espero que me escutem, pelo menos um pouco. Acredito que podemos dar pequenos passos na direção correta e ficarei feliz se conseguirmos.
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Uma função de “alto risco”. Um estrategista para a comunicação vaticana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU