Por: André | 08 Março 2012
Junto com o autor de Indignez-vous!, cerca de 40 personalidades, de Lilian Thuram a Edgar Morin e Michel Rocard, sem esquecer o neto de Franklin D. Roosevelt em pessoa, propõem 15 medidas para sair da crise. O Coletivo Roosevelt 2012 espera, dessa maneira, colocar a política no seu devido lugar em relação às finanças.
A reportagem é de Christine Monin e está publicada no sítio da revista francesa La Vie, 06-03-2012. A tradução é do Cepat.
“Crise social, crise financeira, crise ecológica, crise democrática... em todos estes campos, nossas sociedades aproximam-se de um ponto de ruptura, de um ponto de não retorno”. Diante da gravidade da situação, “nós não podemos ficar calados. Nós não podemos ficar parados”. 39 personalidades se uniram para criar o Coletivo Roosevelt 2012 e propor ao próximo presidente 15 medidas a serem colocadas em prática imediatamente após sua eleição.
O movimento reúne economistas, sociólogos, artistas, políticos, lideranças de associações... majoritariamente de esquerda. Entre essas grandes figuras encontram-se Stéphane Hessel, Claude Alphandéry, Michel Rocard ou Edgar Morin, cristãos como o economista jesuíta Gaël Giraud ou Pierre Larrouturou, também ele economista. Todos recusam o “suicídio coletivo” e querem reanimar a esperança.
Eles se colocam sob a figura tutelar de Franklin D. Roosevelt, presidente norte-americano que tirou os Estados Unidos da crise de 1929 ao lançar, imediatamente após sua eleição em 1933, o New Deal. Roosevelt agiu vigorosa e rapidamente, sem tergiversar. “O processo é de uma rapidez extraordinária: algumas leis são apresentadas, discutidas, votadas e promulgadas no mesmo dia”, destaca o coletivo em seu manifesto fundador. Sobretudo, o presidente norte-americano não se preocupa com os interesses particulares de uns e outros e mantém seu rumo. Apesar da oposição dos acionistas e dos milhares de negócios, propõe a separação dos bancos de depósito dos bancos de investimento e impõe uma taxa sobre as rendas mais altas.
A paralisia política atual não é, destaca o Coletivo, muito diferente do período que precedeu a chegada de Roosevelt ao poder: “Atualmente, no momento em que a oligarquia que nos levou à crise tira proveito da crise para reforçar seu poder fazendo crer que não há alternativa às políticas de austeridade, uma retomada da política se faz necessário”.
Os 39 fundadores propõem, portanto, um plano global de 15 reformas radicais que afetam tanto a organização do sistema bancário, a mudança climática, a tributação, o emprego, a habitação, como a Europa. Essas medidas estão reunidas em três grandes capítulos:
1. Evitar a derrocada;
2. Contra o desemprego, construir uma nova sociedade;
3. Finalmente, construir uma Europa democrática.
Entre as principais medidas encontram-se reformas fiscais. O Coletivo Roosevelt defende a criação de um imposto europeu sobre os lucros das empresas, que permitiria angariar recursos para o orçamento europeu e acabaria com o dumping fiscal entre Estados vizinhos. Propõe, também, em escala da França, anular uma boa parte das reduções de impostos concedidos às grandes empresas e aos cidadãos mais ricos nos últimos 10 anos e fazer uma “revolução fiscal”. Eles retomam aqui as proposições dos economistas Camille Landais, Thomas Piketty e Emmanuel Saez que visam modificar o imposto sobre a renda para torná-lo mais progressivo. Este imposto seria cobrado na fonte sobre as rendas do trabalho e do capital e unificado com a CSG. O coletivo convida também a boicotar os paraísos fiscais e a criar uma verdadeira taxa sobre as transações financeiras.
Outro eixo central de seu programa: o emprego. Como? Através de uma série de reformas com vistas a limitar as demissões, tranquilizar os precários prolongando a indenização de trabalhadores desempregados, lutar contra os deslocamentos impondo o respeito de normas sociais e ambientais no comércio mundial, investir numa verdadeira política de habitação, desenvolver a economia social e solidária, reduzir novamente o tempo de trabalho...
A Europa também está no centro das suas preocupações. Os membros do Coletivo Roosevelt 2012 retomam as ideias do ex-ministro alemão de Assuntos Exteriores, Joschka Fischer, para propor uma reforma das instituições comunitárias e a passagem para um sistema inteiramente parlamentar, em vez do atual sistema intergovernamental. Eles militam também para que seja adotado um Tratado Social Europeu com cinco grandes critérios de convergências sociais: uma taxa de desemprego inferior a 5%, uma taxa de pobreza inferior a 5%, uma taxa de habitação precária inferior a 3%, uma taxa de analfabetismo aos 10 anos inferior a 3% e uma ajuda pública para o desenvolvimento superior a 1% do PIB.
Na sua totalidade, essas 15 proposições formam um conjunto coerente que tem o mérito de propor uma resposta global para uma crise global, ao mesmo tempo social, econômica, financeira e ecológica... A força desse programa não está em buscar ideias novas – algumas proposições estão em pauta há vários anos, como a taxa sobre as transações financeiras ou a reforma das instituições comunitárias –, mas na vontade afirmada e martelada de dar à política o seu verdadeiro lugar. E imaginar um caminho concreto para que a França e a Europa possam conservar seu ideal de progresso social.
Diante da urgência da situação, os fundadores do Coletivo Roosevelt 2012 apelam aos cidadãos. “Nós não temos escolha. Trata-se das nossas vidas e das vidas dos nossos filhos. Em vez de esperar pela ação miraculosa de um homem ou de uma mulher providencial que ninguém vê chegar, devemos nos multiplicar para refletir e agir em conjunto. Nós temos todas as condições para enfrentar o desafio e impor nossas soluções no debate público”.
Eles convidam àqueles que compartilham de suas convicções e que querem provocar um novo dinamismo para assinarem suas 15 proposições no sítio www.roosevelt2012.fr, esperando, dessa forma, interferir nas decisões do próximo presidente francês.
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Roosevelt 2012: o novo manifesto de Stéphane Hessel diante da crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU