20 Dezembro 2013
Reza Aslan, estudioso bíblico e autor de Zelota: A vida e a época de Jesus de Nazaré (Ed. Zahar, 2013), falou ao The Huffington Post para dar uma perspectiva histórica sobre o nascimento de Jesus, um evento que os Evangelhos relatam de diferentes maneiras.
A reportagem é do sítio The Huffington Post, 14-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"As próprias histórias não são e nunca foram pensadas para serem lidas como um relato histórico literal do nascimento de Jesus", explicou Aslan. "Elas são, ao contrário, um argumento teológico sobre quem era Jesus".
Embora os fatos históricos em torno do nascimento de Jesus sejam muito fracos, ao examinar as práticas culturais e religiosas daquele tempo é possível fazer algumas suposições sobre como a Natividade provavelmente deve ter sido.
Aslan disse ao The Huffington Post que, "se os Evangelhos estão corretos ao dizer que ele era de uma aldeia chamada Nazaré e que ele veio de uma família de tekton (marceneiros ou construtores), isso significa que ele era o mais pobre dos pobres. A palavra tekton, na verdade, era um termo de abuso entre os romanos, que o usavam como uma gíria para um camponês rude ou analfabeto".
A antiga Nazaré era um pequeno vilarejo de talvez 100 famílias judias ou menos, localizado no topo de uma colina da baixa Galileia. Aslan descreveu-a como uma pequena aldeia de casas de barro e tijolo, "um lugar tão pequeno e insignificante que não aparece em nenhum mapa antes do século I".
Apesar da narrativa da Natividade dizer que o nascimento de Jesus ocorreu em Belém, Aslan explicou que é muito mais provável que ele realmente tenha nascido em Nazaré. Embora os Evangelhos de Mateus e de Lucas ofereçam explicações diferentes para por que Jesus nasceu em Belém, Aslan argumenta que o objetivo deles era expressar verdades sobre a identidade do Cristo, ao invés de serem historicamente precisos. Além disso, esses evangelhos foram escritos ao menos 60 anos depois da morte de Jesus.
Então, como deve ter sido o nascimento de Jesus em Nazaré?
"Ele deve ter nascido em casa, com a família ampliada ao seu redor", disse Aslan ao The Huffington Post. Essa família incluía ao menos quatro irmãos e um número desconhecido de irmãs. "Provavelmente, os membros do vilarejo teriam ajudado com o processo do parto".
"Ele deve ter sido circuncidado no oitavo dia, mas não no Templo, que ficava a três dias de distância a pé. Os galileus não costumavam fazer a viagem ao Templo na Judeia, porque era uma longa e extensa viagem, que ficaria fora de questão para um recém-nascido".
Aslan disse que deve ter sido na cerimônia de circuncisão também que a sua família o nomeou. "Eles devem tê-lo chamado de Yesu, o diminutivo de Yeshua, um nome incrivelmente comum".
Com relação aos magos que vieram para dar presentes ao rei recém-nascido na tradicional narrativa da Natividade, Aslan explicou que os magos eram sacerdotes persas ou zoroastrianos. Alguns gregos acreditavam que os zoroastrianos eram astrólogos, razão pela qual os magos teriam notado o aparecimento de uma nova estrela no leste. Aslan disse: "A maioria dos estudiosos diria que a aparição dos magos foi uma tentativa de conectar o movimento de Jesus com os movimentos espirituais orientais".
Depois do seu nascimento, a sua vida teria se assemelhado a de qualquer outro residente de Nazaré. "Ele era o filho de uma família de camponeses pobres, analfabetos, piedosos e iletrados do sertão da Galileia", disse Aslan. "Essa é a infância que Jesus deve ter tido".
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A narrativa histórica do nascimento de Jesus vista por um muçulmano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU