Por: Jonas | 29 Julho 2013
Em Santiago de Cuba, no dia 26 de julho, há 60 anos, ocorreu a primeira revolta – mesmo que fracassada – do movimento que derrubaria a ditadura de Batista. Seu significado marcou uma nova etapa na história do país.
A reportagem é publicada no jornal Página/12, 27-07-2013. A tradução é do Cepat.
A velha guarda da Revolução Cubana regressará, hoje, ao local onde começou a escrever sua história. Sessenta anos depois da fracassada investida ao quartel Moncada, a cúpula do governo cubano celebrará, em Santiago de Cuba, o que é considerado o início da sublevação que levou Fidel Castro ao poder. Nessa cidade do extremo leste da ilha, no dia 26 de julho de 1953, ocorreu a primeira revolta do movimento que derrubaria o regime ditatorial de Fulgencio Batista.
Seis décadas atrás, quase 80 homens saíram na madrugada do dia 26 de julho para surpreender cerca de 800 soldados, enquanto dormiam, no quartel Moncada de Santiago. Seu líder era o próprio Fidel Castro, então um jovem advogado de 26 anos. Com um ataque simultâneo em outra guarnição, na cidade de Bayamo, e a tomada do hospital e Palácio de Justiça de Santiago, os rebeldes esperavam desencadear um levante popular, em todo o país, para forçar a queda de Batista.
Quase todos os moncadistas eram pessoas das classes populares, que juraram o Manifesto de Moncada. Presente na justificativa de autodefesa de Fidel, “A história me absolverá”, o Programa apregoa seus objetivos políticos, econômicos e sociais, os mais avançados nessas matérias, encaminhados para resolver uma série de problemas de prioridade, entre estes, os ligados com a terra, a industrialização, a moradia, o desemprego, a educação e a saúde do povo. O grupo era por Fidel, que deu o passo à frente após esperar inutilmente uma reação das forças opositoras contra os golpistas. A maioria eram jovens operários, empregados, camponeses, trabalhadores de ofícios diversos ou desempregados, e apenas meia dúzia eram estudantes, três contadores profissionais e quatro graduados universitários.
Diante da situação em que vivia a maioria dos cubanos, Fidel e seus companheiros assumiram como legítimo se opor à segunda ditadura de Batista e mudar a realidade do país. “Carece colocar em ação um motor pequeno que ajude a arrancar o motor grande”, disse Fidel, por aqueles dias, segundo lembrava seu irmão Raúl Castro. “O motor pequeno seria a tomada da fortaleza de Moncada, a mais distante da capital, que uma vez em nossas mãos faria mover o motor grande, que seria o povo combatendo”.
Batista estabeleceu sua segunda ditadura em junho de 1952, semanas antes das eleições presidenciais de primeiro de junho, nas quais se esperava o triunfo do partido Ortodoxo, não obstante a morte de seu líder, Eduardo Chibás. Como advogado, Fidel interpelou Batista no Tribunal de Garantias Constitucionais e Sociais, sem êxito algum. Após aguardar inutilmente uma reação das forças opositoras contra os golpistas, Fidel assumiu a responsabilidade de levar adiante a Revolução com a gente do povo, desconhecida. Conseguiu treinar e organizar, em sigilo, mais de mil homens, dos quais selecionou pouco mais de uma centena em razão da carência de armas.
A investida fracassou e a maioria dos atacantes foi assassinada. Fidel foi condenado a 15 anos de prisão. Dois anos mais tarde, saiu em liberdade por meio de anistia. Após ficar alguns anos exilado no México, voltou à ilha no final de 1956 para liderar a guerrilha que forçou finalmente a fuga de Batista, no dia primeiro de janeiro de 1959.
Apesar do fracasso nas investidas contra os quartéis Moncada, de Santiago de Cuba, e Carlos Manuel de Céspedes, de Bayamo, o significado disto marcou uma nova etapa na história de Cuba. De acordo com o plano militar, o objetivo era tomar de surpresa, com o menor derramamento de sangue possível, a segunda fortaleza militar do país. Em seu apoio, também a pequena guarnição da cidade de Bayamo, um ponto estratégico para impedir a vinda de reforços das guarnições de Holguín e de Manzanillo.
A estratégia se completaria com a ocupação do centro de comunicações de Bayamo, para interromper as linhas telefônicas e telegráficas, a estação de polícia e a posterior passagem das pontes do rio Cauto pelo pessoal das Minas de Charco Redondo, comprometido nas ações.
Não se tratava da busca de um golpe no plano militar, mas de uma ação política que chamaria o povo e que colocaria amplos setores da população em pé de luta, com as armas e munições para ocupar o quartel Moncada. O ataque aos dois quartéis começou simultaneamente e foram caindo, um após o outro, os edifícios que rodeavam o quartel Moncada. Com 7 homens, Raúl Castro ocupou o Palácio de Justiça e Abel Santamaría, com 21, o hospital civil Saturnino Lora, em apoio ao grupo de Fidel, que dirigiu pessoalmente o ataque ao quartel Moncada com 45 combatentes, precedido de oito que tomaram o posto 3.
Porém, as circunstâncias imprevistas fizeram com que falhasse o fator surpresa na tomada dos enclaves militares. Em Bayamo, os assaltantes tropeçaram com um depósito de latas vazias, enquanto se arrastavam para os muros da fortaleza, o que alertou os soldados e se generalizou o tiroteio antes do tempo. Nos dois casos, os assaltantes tiveram que se retirar em razão da superioridade do armamento do exército.
“As ações do dia 26 de julho despertaram a consciência nacional em apoio e simpatia aos moncadistas, com alguns presos ou perseguidos e outros mortos. Os ossos e o sangue generoso dos caídos concretizaram o martírio de uns 20 mil cubanos que ofereceram suas vidas na luta contra a tirania”, explicou a historiadora e jornalista Marta Denis Valle. Poucos anos depois, veio a derrota do regime pró-estadunidense e o triunfo da Revolução, no dia primeiro de janeiro de 1959.
Entre 1959 e 1960, realizou-se plenamente o programa de leis e medidas revolucionárias enunciadas no Programa do Moncada, após o qual a Revolução Cubana empreendeu passos mais avançados de cunho socialista.
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Seis décadas depois, as memórias da investida ao quartel Moncada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU