Por: Jonas | 02 Julho 2013
Muitos o consideram o maior teólogo cristão de nossa era. Sua “eclesiologia eucarística” (que reconhece a fonte da Igreja na eucaristia, celebrada pela comunidade eclesial reunida ao redor do bispo) é muito apreciada, tanto por Francisco, como por seu predecessor Bento XVI.
Ionnis Zizioulas (foto), Metropolita de Pérgamo, copresidente da Comissão Internacional de diálogo entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa, conduziu a delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla durante sua viagem a Roma, por ocasião da celebração da solenidade dos Santos Pedro e Paulo, patronos da Igreja de Roma.
Fonte: http://goo.gl/jPzkX |
A entrevista é de Gianni Valente, publicada no sítio Vatican Insider, 30-06-2013. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Eminência, em sua visita a Roma, o papa Francisco lhe dirigiu palavras muito importantes...
Estou muito feliz de ter ouvido que a ideia da sinodalidade seja tão forte em sua concepção de Igreja. Dedicou uma passagem chave no discurso que nos dirigiu quando nos reunimos na sexta-feira, 28 de junho, e voltou a falar disso com muita força na homilia da Missa pelos Santos Pedro e Paulo. Quer dizer que é um pensamento constante. Outro elemento decisivo é o fato de que o papa Francisco parece conceber e colocar a si mesmo como e, sobretudo, Bispo de Roma. Caso se caminhe na via que sugerem estas duas coordenadas (compreender-se primeiro como bispo e reconhecer a sinodalidade da Igreja), acredito que será muito fácil que os ortodoxos e os católicos se encontrem na unidade sacramental, como irmãos em Cristo, e não somente como aliados nas estratégias culturais e batalhas éticas.
Embora, eu não saiba como mudará concretamente a forma de exercer o papado. No entanto, em muitos gestos práticos e nas palavras de Francisco parece surgir o melhor sobre o conceito de papado, a ideia da Igreja dos primeiros tempos. O Papa é, antes de tudo, o bispo de uma Igreja, a Igreja de Roma. As demais coisas vêm depois. O papa Francisco também compreende a sinodalidade como algo essencial para a Igreja e isto, certamente, poderá sugerir mudanças concretas.
Quais são as reformas que um ortodoxo poderia esperar?
Um ortodoxo, por exemplo, esperaria que o Papa reconhecesse o sínodo dos bispos católicos como uma autoridade deliberativa e não apenas com função consultiva. Permitir que o sínodo decida. Caso continue como até agora, o sínodo continuará sendo um órgão consultivo que, inclusive, o Papa pode ignorar. Inteirei-me de que o papa Francisco já criou um grupo de cardeais para aconselhá-lo no governo da Igreja e na reforma da Cúria.
A Comissão Teológica mista entre católicos e ortodoxos, ao trabalhar sobre a questão da primazia, está vivendo uma fase de “stand by”. Como seguir adiante?
Como é de conhecimento, no documento de Ravenna de 2007, reconhecemos que a primazia é necessária e que faz parte da essência da Igreja. Não é apenas um elemento “organizativo” humano, mas sempre deve ser considerada (e exercida) no contexto da sinodalidade. Os católicos disseram estar de acordo a respeito disto. Se marcharmos nesta direção, poderemos continuar o caminho. Por isso, espero que o papa Francisco continue nos dando sinais que tornarão muito mais fácil aceitar a primazia entre os ortodoxos.
De que maneira?
Tradicionalmente, os ortodoxos se preocupam com o fato de que o Papa queira submetê-los e exercer a jurisdição sobre eles. Poderia ajudar o fato de se deixar de lado, explicitamente, qualquer pretensão jurisdicional. E isto está em sintonia com o fato de que o papa Francisco se apresenta como Bispo de Roma. Ele disse a todos nós, os bispos: eu sou um bispo como vocês. Todos os bispos, do Papa até os Patriarcas, são iguais do ponto de vista do sacerdócio.
O patriarca Bartolomeu I convidou Francisco para se reunirem em Jerusalém, 50 anos após o histórico abraço entre Paulo VI e Atenágoras. O encontro acontecerá?
Francisco concorda, gosta muito da proposta. Contudo, a questão é complexa, envolve as relações com realidades políticas e, sobre este aspecto, disse que terá que consultar seus colaboradores. Aguardamos sua decisão final. De nossa parte, estamos prontos. Claro, seria muito belo, especialmente neste momento. O Papa e o Patriarca ofereceriam uma mensagem de paz e de reconciliação para todo o Oriente Médio.
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“Com Francisco a unidade é mais fácil”, afirma autoridade eclesiástica ortodoxa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU