Por: André | 10 Dezembro 2014
“Quando ouvi pela primeira vez a Missa Crioula eu era estudante, creio que de teologia, mas não recordo bem”, contou o Papa Francisco na entrevista exclusiva do domingo ao La Nación. “E gostei muito. Gostei muito do Cordeiro de Deus, que é de uma beleza impressionante. Do que nunca me esqueço é que a ouvi sendo cantada pela Mercedes Sosa”. E Francisco voltará a ouvi-la no dia 12 de dezembro, durante a missa solene na Basílica de São Pedro, para celebrar a Festa da Virgem de Guadalupe, padroeira da América Latina. Mas o Cordeiro de Deus não será a única peça que o Papa irá ouvir da célebre Missa Crioula, obra do compositor argentino Ariel Ramírez, que este ano festeja seu cinquentenário.
A reportagem é de Andrea Bonzo e publicada no sítio Tierras de America, 08-12-2014. A tradução é de André Langer.
Também se completam os 50 anos de outro acontecimento importante da história latino-americana. “Ao celebrar o Dia da Virgem de Guadalupe, padroeira da América, no dia 12 de dezembro, e os 50 anos da Missa Crioula, estamos comemorando um caminho da Igreja latino-americana”, comentou o Papa na entrevista ao jornal argentino. Um percurso que começou precisamente há 50 anos com “a primeira reunião do Conselho Episcopal Latino-Americano, convocada por dom Larraín”, que “não se pode ignorar, porque é um caminho de tomada de consciência de uma Igreja na América Latina e de amadurecimento na fé.
Meio século de história latino-americana que confluirá em Roma dentro de alguns dias com as notas da Missa Crioula, interpretada por um grupo de argentinos junto com um coro romano e com a direção do pianista Facundo Ramírez, filho do seu autor, Ariel Ramírez.
“Olha, eu não acredito em casualidades. É como se houvesse uma conspiração do universo”, disse Patricia Sosa, a voz solista do grupo, quando explica a Tierras de América as circunstâncias que a levarão a cantar diante do Papa. “Justamente para festejar os 50 anos da Missa Crioula aqui na Argentina estávamos trabalhando há algum tempo em uma série de apresentações”, conta. “Certo dia, alguém teve a ideia de escrever ao Vaticano. Obviamente, não tínhamos ilusões, mas escrevemos. No dia seguinte já tínhamos a resposta. Quando Facundo me fez ler a mensagem eletrônica, nos pusemos a chorar, não podíamos acreditar”, recorda a cantora.
“Foi – e segue sendo – uma emoção muito grande. Vamos cantar entre as colunas de Bernini e será um concerto especial, porque nós cantaremos enquanto Francisco celebra a missa. Será como uma conversa com ele”, explica. “Disseram-nos: ‘serão vistos por cerca de 800 milhões de pessoas’. E nós respondemos: ‘é muita gente!’ Depois nos deram instruções sobre o protocolo, como nos comportar, a roupa que devíamos levar. Meu vestido será azul escuro, com mangas, obviamente sem decote. Austero. Por outro lado, austeridade é a palavra de ordem do Papa”.
Não há dúvida de que Patricia Sosa faz parte a pleno título da história do que em Buenos Aires chamam de “rock nacional”. Foi a primeira mulher na história do rock a liderar uma banda (na década de 1980 com La Torre), antes de começar uma brilhante carreira solo. Suas declarações nunca são superficiais e, muitas vezes, vão na contracorrente. Há poucas semanas, provocou um grande rebuliço na Argentina a publicação de uma entrevista onde a cantora ataca decididamente a droga e a banalização de seu uso – sobretudo das leves – no mundo do espetáculo. “Detesto as drogas!”, disse nessa oportunidade, e contou também que tinha dois sobrinhos internados em centros de recuperação de dependentes de drogas. “Os famosos deveriam ser mais responsáveis com a mensagem que transmitem. Pousar em uma revista a favor das drogas é imaturidade. É não pensar no próximo”.
Palavras com as quais provavelmente Bergoglio estaria plenamente de acordo, assim como a estimulou em suas atividades beneficentes. “Mas não o fez diretamente. Fez-me chegar uma mensagem por meio de uma terceira pessoa”, esclarece Patricia Sosa, que não tem nenhum interesse em que os refletores midiáticos apontem para sua obra. Sua fundação Pequeños Gestos dedica-se especialmente a socorrer populações indígenas da paupérrima Província do Chaco, no norte argentino. “Começamos ajudando 100 pessoas e terminamos com 300. Procuramos transmitir a cultura do trabalho por meio da formação de cooperativas. Dessa maneira, por exemplo, um grupo de artesãos pôde sair da floresta. Agora viajam pelo país participando das feiras para vender seus produtos e têm muito êxito, porque são produtos autenticamente indígenas”. Outra atividade consiste em construir caixas que depois são vendidas para as casas de música para fabricar instrumentos musicais. E também colaboram com casas e escolas, perto de 10, que construíram em toda a Província.
Antes de nos despedirmos, pedimos a ela para que nos dissesse o que pensa sobre o Papa: “O adoro”, respondeu com entusiasmo. “Creio que chegou no momento oportuno. Ele tem a missão de pacificar e ordenar, de abrir a Igreja às pessoas que se sentiam excluídas; penso nos gays e nos divorciados. Rezo por ele todos os dias. Ele chegou para renovar a fé. E o faz pregando com o exemplo”.
Ainda restaram alguns minutos para falar sobre os projetos para o futuro. “No final do ano, a Missa Crioula será feita também nas ruas de Buenos Aires. Depois vou para Málaga. Na volta, faremos um tour durante todo o verão pela Argentina. Em maio, Chucho Valdés, um dos mais importantes pianistas do mundo, me procurou e vamos gravar um álbum e também participaremos do Montreux Jazz Festival, em julho. E, por último, vou gravar meu novo CD”.
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A estrela de rock que reza pelo Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU