Por: Jonas | 20 Novembro 2014
Francisco (foto) está decidido a não deixar Daniel sozinho, uma das vítimas de abusos sexuais por parte de uma dúzia de sacerdotes e leigos de Granada. Segundo publicação exclusiva de Religión Digital, após o emotivo primeiro telefonema do dia 10 de agosto, o Papa voltou a telefonar para Daniel, no dia 10 de outubro, para convidá-lo para a Comissão Vaticana de Vítimas de Abusos, e para lhe pedir perdão pela atuação da Arquidiocese durante a investigação eclesiástica.
Fonte: http://goo.gl/TzI6ro |
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 19-11-2014. A tradução é do Cepat.
O “feixe” dos fatos, ao qual este veículo teve acesso, coloca em evidência o proceder do arcebispo de Granada, Francisco Javier Martínez, que hoje precisará dar explicações sobre o mesmo diante da Plenária. Assim, constata-se que foi a vítima que teve que entrar em contato com o arcebispo, que em um primeiro momento reprovou o fato de a mesma ter se dirigido diretamente ao Santo Padre.
Após prometer uma investigação exaustiva, dois juízes do Tribunal Eclesiástico de Valência interrogaram tanto ao rapaz, como aos seus pais e mais duas vítimas. Em inícios de outubro, Martínez informou a Daniel que somente dava crédito às acusações contra três sacerdotes. Na conversa, muito tensa, o Arcebispo quis fazer com que Daniel acreditasse que o restante dos envolvidos (outros sete sacerdotes e dois leigos, todos eles atualmente investigados judicialmente) eram vítimas como ele.
Daniel saiu indignado da Arquidiocese ao ficar sabendo que os acobertadores, que ele próprio denunciou com nomes e sobrenomes, ficariam livres. Justamente depois, recebeu o segundo telefonema papal, que como prometeu, acompanhou o processo, e pediu perdão à vítima pela forma como se procedeu com o interrogatório e as conclusões. E o animou a apresentar a denúncia, como o rapaz fez quatro dias depois.
Este é, dia após dia, o relato dos fatos
1. Em 24 de julho, Daniel escreve uma carta, de cinco páginas, explicando ao Papa a situação de abusos que sofreu e solicitando ajuda para que os responsáveis por estes abusos – e seus acobertadores – não fiquem impunes.
2. Em 10 de agosto, o Papa Francisco telefona para Daniel e lhe pede perdão “em nome de toda a Igreja de Cristo. Perdoa este gravíssimo pecado e gravíssimo delito que você sofreu. Perdoa, meu filho, tanta dor ocasionada e o tanto que você sofreu. Estas feridas fazem com que a Igreja sofra inteiramente”. Durante a ligação, Bergoglio lhe promete: “Conta com todo o meu apoio, meu filho, e o apoio de toda a Igreja. Próximo, tenho a viagem a Coreia, mas já há pessoas trabalhando para que tudo isto possa ser resolvido”.
3. Entre os dias 11 e 20 de agosto, Daniel telefona para o Arcebispo: havia combinado com o Papa que, para ganhar tempo, telefonaria para dom Martínez, e enquanto isso receberia instruções escritas de Roma. Como durante aquele mês o arcebispo não estava em Granada, a irmã Teresa, vice-chanceler, pergunta-lhe a respeito do que se trata e ele diz que é urgente, que não pode explicar para ela, que é uma coisa da Santa Sé. Ela lhe diz que imediatamente telefonará para o Arcebispo.
4. No dia 29 de agosto, Daniel, por indicação de pessoas próximas, telefona para Javier Martínez, pela manhã. O Arcebispo o recebe nessa mesma tarde. A conversa é tensa. Na reunião, no Palácio, o Arcebispo está com os papéis da Santa Sé e a cópia de sua carta ao Papa. O Arcebispo pede perdão a Daniel e se compromete em investigar com urgência, colocando-se inteiramente à sua disposição. Dias depois, Javier Martínez também recebe seus pais e lhes anuncia que a investigação foi iniciada.
5. No dia 2 ou 3 de outubro, os juízes vão a Granada e ouvem o depoimento de duas vítimas. No dia 9 de outubro, quinta-feira, dois juízes eclesiásticos de Valência ouvem o depoimento de Daniel, deslocando-se ao norte da Espanha.
6. O Arcebispo de Granada recebe Daniel, diz-lhe que os três autores materiais são culpados e que adotará medidas contra eles. [Também diz] que os outros sete e os dois leigos são vítimas assim como Daniel e os demais. A vítima fica indignada diante do fato de que os acobertadores possam sair livres de tudo e abandona a sede episcopal.
7. No dia 10 de outubro, o Papa volta a telefonar para Daniel e o convida para a Comissão de especialistas e pede perdão pela forma como ocorreu o seu interrogatório.
8. No dia 14 de outubro, Daniel denuncia os fatos para o Promotor Superior do Tribunal Superior de Justiça de Andaluzia. O Arcebispo lhe informa, dois dias depois (16 de outubro), que ele não pode fazer a denúncia, por Daniel ser maior de idade, e que está pronto para o que resultar da investigação.
9. No dia 18 de outubro, o Arcebispo apresenta à Promotoria Provincial de Granada um texto denunciando alguns fatos em que estão envolvidos alguns sacerdotes, aparentemente três que estão relacionados diretamente com a denúncia previamente interposta por Daniel diante do Promotor Superior. A Arquidiocese, segundo o texto, quer “assegurar sua plena colaboração para a erradicação destes delitos”.
10. Em fins de outubro, a Promotoria Superior de Andaluzia abriu procedimentos informativos e incentivou a Promotoria Provincial a denunciar os fatos. Em inícios de novembro, segundo o TSJA, o Juizado de Instrução número 4 de Granada iniciou atividades de investigação penal, que atingem doze envolvidos (dez sacerdotes e dois leigos), encarregando a Polícia Judicial de localizar as pessoas denunciadas, e as duas testemunhas que possam confirmar “a situação sofrida pelo denunciante e por outros menores, que também precisarão se identificar”.
A denúncia também fala da assistência psicológica e do tratamento farmacológico recebido pelo denunciante, e se reserva ao direito de pedir o depoimento da facultativa.
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Pela segunda vez, Francisco telefona para vítima de abuso e pede perdão pela atuação da diocese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU