''Nunca um líder esteve tão à frente. A justiça não é vingança''

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

27 Outubro 2014

"Um discurso de altíssima qualidade jurídica e ética que, dentre outras coisas, critica a fundo o populismo penal. Ou seja, a ideia da sanção como vingança que utiliza a pena para enfrentar as contradições da vida social".

Luigi Manconi, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Itália, está admirado com a intervenção do papa Francisco.

A reportagem é de Maria Elena Vincenzi, publicada no jornal La Repubblica, 24-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Senador, comecemos pelo "não" à prisão perpétua.

O pontífice recorre a uma fórmula semelhante à que o pensamento jurídico mais crítico utilizou para contestar o justicialismo. O discurso não é só contra a pena de morte, mas também contra a prisão perpétua, a tortura e todos os tratamentos desumanos e degradantes. Francisco utiliza a língua das convenções internacionais e lembra que o código do Vaticano também aboliu a prisão perpétua, definida como "uma pena de morte dissimulada".

E as críticas ao regime carcerário?

A extraordinária modernidade do raciocínio surge justamente da análise de todos os institutos que nós estamos acostumados a ver, preguiçosamente, só no cárcere. O papa indica os institutos para menores, os hospitais psiquiátricos judiciários e aqueles "campos" que, nas legislações europeias e na minha experiência, não podem ser nada mais do que os Centros de Identificação e Expulsão (CIE) para os migrantes. Isso é importante porque o moderno sistema do vigiar e punição passa por muitos lugares de aprisionamento.

Que outras coisas chamaram a sua atenção?

Dois lembretes formidáveis: à dignidade da pessoa, critério a ser afirmado antes e independentemente da condenação. E à "cautela na pena", que, na linguagem jurídica laica, corresponde à necessidade de evitar toda pena que possa envolver um sofrimento maior do que aquele que a própria pena pretende reparar.

Que consequências terá esse discurso?

Nenhum líder europeu jamais disse coisas semelhantes. A mensagem às Câmaras do presidente Napolitano estava ia na mesma direção e permaneceu não ouvido. Espero de todo o coração que não aconteça o mesmo com essa mensagem de força moral tão radical.