“Pode haver mais amor cristão em uma união irregular do que em um casal casado pela Igreja”. Entrevista com Adolfo Nicolás

Mais Lidos

  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS
  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: André | 08 Outubro 2014

“Pode haver mais amor cristão em uma união irregular do que em um casal casado pela Igreja”. O padre Adolfo Nicolás (na foto com o Papa), superior geral dos jesuítas, atravessa a pé a entrada vaticana do “Petriano” com uma pasta preta na mão. Pode-se ler o lema dos jesuítas escrito em árabe: “Para a maior glória de Deus”. O chamado “papa negro”, que dirige 18 mil religiosos de 112 países, acredita que “o Sínodo está completando o Concílio”.

 
Fonte: http://bit.ly/1s6B3C7  

A entrevista é de Giacomo Galeazzi e publicada por Vatican Insider, 07-10-2014. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.

A moral familiar será atualizada?

A discussão, livre e franca, está se dirigindo para uma mudança, para a adequação pastoral à realidade dos tempos de hoje. É um sinal histórico, porque nestes anos houve forças que trataram de fazer retroceder a Igreja em relação à grande estação conciliar.

E quanto à comunhão aos divorciados recasados?

Não se pode impedir que o Sínodo discuta a este respeito, como queriam alguns. Os bispos não foram convocados para insistir em ideias abstratas a golpes de doutrina, mas para buscar soluções para questões concretas. É muito significativo que o Papa e muitos padres sinodais fizeram referência, em suas intervenções, aos textos do Concílio. Também o cardeal Martini, até o final de seus dias, esperava que a Igreja que se manifestasse fosse essa Igreja que escuta.

Os “conservadores” dizem que a doutrina está em perigo...

Não é correto absolutizar. Por exemplo, o caso das uniões de fato. Não quer dizer que se existe um defeito, tudo esteja mal. Mais, há algo bom onde não se prejudica o próximo. Francisco insistiu sobre isso: “Todos somos pecadores”. É preciso alimentar a vida em todos os âmbitos. A nossa tarefa é aproximar as pessoas da graça, e não afastá-las com preceitos. Para nós, jesuítas, é uma prática cotidiana. A Inquisição sabe muito bem disso.

Como?

Nosso fundador, Santo Inácio de Loyola, foi submetido oito vezes ao exame da Inquisição depois de ter falado em escutar o Espírito. Naquela época, assim como agora, para nós conta mais o Espírito, porque vem de Deus, do que as regras e as normas, que, ao contrário, vêm dos homens. A moral familiar e sexual necessitam de doçura e fraternidade. Não se trata de dividir, mas de harmonizar. Não se pode evangelizar as pessoas a golpe de Evangelho. Só a decisão de se concentrar em Cristo nos salva de disputas estéreis, das controvérsias ideológicas abstratas. As lacunas e imperfeições não invalidam a integridade da evolução da família na sociedade das últimas décadas. Se há algo negativo, não significa necessariamente que tudo seja negativo.