07 Outubro 2014
Neste domingo, o Papa Francisco abriu um encontro mundial de bispos – um possível marco de seu papado – advertindo contra os “maus pastores” que, indevidamente, sobrecarregam os fiéis e os quais “frustram” o sonho de Deus ao não se deixarem guiar pelo Espírito Santo.
Francisco falava numa homilia durante a missa de abertura do encontro, conhecido como Sínodo,onde focou-se nas lutas modernas da vida familiar. A celebração foi realizada na Basílica de São Pedro.
Ao se referir às leituras da missa para o dia e à advertência do profeta Ezequiel sobre os pastores que cuidam de si e não de seu rebanho, o pontífice disse que alguns pastores foram tentados pela “ganância, pelo dinheiro e pelo poder”.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 05-10-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Para saciar esta ganância, os maus pastores carregam sobre os ombros do povo pesos insuportáveis, que eles próprios não põem nem um dedo para os deslocar”, disse Francisco.
O pontífice também falou claramente sobre o que o Sínodo não deve fazer.
“As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente”, disse. “Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projeto de amor a respeito do seu povo”.
As palavras do pontífice no domingo provavelmente mostram a direção que ele quer dar ao Sínodo, evento em que cerca de 190 bispos e cardeais discutirão tópicos relacionados à vida familiar em sessões a portas fechadas.
Os preparativos para o evento, o primeiro de dois sínodos sobre o assunto em 2014 e em 2015, levantaram esperanças de que algumas das práticas pastorais da Igreja concernentes à vida em família podem mudar, em particular a forma como a Igreja lida com os católicos divorciados e recasados.
Ao se referir à leitura do Evangelho de domingo – uma parábola de Jesus no Evangelho de Mateus sobre os inquilinos que se apropriam da vinha do proprietário –, Francisco disse aos bispos: “A nós também nos pode vir a tentação de ‘nos apoderarmos’ da vinha, por causa da ganância que nunca falta em nós, seres humanos”.
“O sonho de Deus sempre se embate com a hipocrisia de alguns dos seus servidores”, disse Francisco. “Podemos ‘frustrar’ o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo”.
“O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a ciência, para trabalharmos generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade”, continuou.
As palavras do Papa Francisco neste domingo seguiram observações semelhantes que o pontífice fez na manhã de sábado numa vigília de oração na Praça de São Pedro, antes da abertura do Sínodo.
Falando para dezenas de milhares de pessoas, o papa pediu ao grupo que “invoquemos a disponibilidade para um confronto sincero, aberto e fraterno que nos leve a considerar, com responsabilidade pastoral, as interrogações que trazem as mudanças desta época”.
O trabalho dos bispos durante o Sínodo, que acontecerá a portas fechadas na Sala Paulo VI no Vaticano, começou formalmente nesta segunda-feira pela manhã com discursos de abertura dos prelados que conduzem o evento.
Há cerca de 190 prelados presentes em condição de votar nos debates. Outras 60 pessoas aproximadamente, na maioria não prelados, foram escolhidas para desempenharem outros papéis. Estes poderão contribuir nas discussões, mas não votarão.
De segunda-feira pela manhã até terça-feira à noite, os bispos vão abrir os seus encontros com um pronunciamento sobre o tema em questão. Após isso, um casal irá dar o seu testemunho de vida sobre o assunto tratado.
Após uma semana de reuniões, os bispos devem produzir um esboço – documento de trabalho – para o Sínodo, o qual será trabalhado durante a segunda semana de reuniões para resultar num documento final a ser entregue ao papa.
Um cardeal falando ao National Catholic Reporter no sábado disse que o Sínodo iria se focar nas realidades vividas das pessoas na atualidade.
“Na verdade, aquilo sobre o que estamos falando é a vida das pessoas”, declarou o cardeal Vincent Nichols, arcebispo de Westminster e que está participando no Sínodo na qualidade de presidente da Conferência dos Bispos da Inglaterra e País de Gales.
“Temos que lidar com estas coisas de forma sensível e pastoral – e dar a nós mesmos o espaço para acompanhar os indivíduos, as pessoas reais, em suas situações concretas”, falou.
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O Papa abre o Sínodo criticando os “maus pastores”, aqueles que frustram o sonho de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU