22 Agosto 2014
Acredita-se que o jihadista britânico que decapitou o jornalista americano James Foley seja o líder do grupo de combatentes ingleses que mantém reféns estrangeiros na Síria, segundo fontes consultadas pelo jornal The Guardian.
A reportagem é de Martin Chulov e Josh Halliday, publicada pelo jornal The Guardian, 20-08-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Numa espécie de caçada internacional iniciada nesta quarta-feira, o militante de língua inglesa foi identificado por um de seus ex-prisioneiros como o líder dos três jihadistas britânicos que, supõe-se, são os principais guardas dos cidadãos estrangeiros em Raqqa, reduto dos rebeldes do Estado Islâmico – ISIS.
O militante que apareceu no vídeo de Foley, que referiu a si mesmo como John e que se acredita ser de Londres, provavelmente é o principal rebelde negociador que atuou durante as tratativas no começo deste ano quando se buscou libertar 11 reféns do Estado Islâmico – os quais, finalmente, foram entregues a autoridades da Turquia depois que as demandas para os resgates foram atendidas.
Na quarta-feira à noite, o FBI, o MI5 [serviço de segurança da Inglaterra] e o comando para o contraterrorismo da Scotland Yard apressaram-se para identificar o militante que aparece no vídeo divulgado pelos rebeldes, mostrando o assassinato brutal de Foley, jornalista que estava sumido desde 2012.
Fontes na Síria reconheceram o militante como a pessoa de referência para as negociações de reféns em Raqqa, onde diz-se que ele manteve discussões com várias famílias de cidadãos estrangeiros presos via internet.
Um ex-prisioneiro do grupo, mantido durante um ano em Raqqa, contou ao The Guardian que o carrasco britânico é inteligente, educado e um crente devoto das doutrinas radicais islâmicas. Os três militantes nascidos na Inglaterra eram chamados de “Os Beatles” por outros reféns por causa de sua nacionalidade, acrescentou o ex-prisioneiro.
Especialistas nas áreas de contraterrorismo e linguística disseram que o homem parecia ser um dos até 500 jihadistas nascidos na Inglaterra “brutalizados” pelo ISIS depois que saíram do país para lutar na Síria e no Iraque.
Os serviços de segurança na Inglaterra e nos EUA estiveram, junto com especialistas em fonética forense, analisando o vídeo divulgado na tentativa de identificar o militante mascarado a partir de seu sotaque.
O professor Paul Kerswill, especialista em linguística na Universidade de York, disse acreditar que o homem falava um “inglês multicultural londrino”, mais facilmente encontrado na região leste da cidade. “Ele provavelmente tem um outro fundo cultural linguístico, mas a sua fala se parece com um inglês londrino multicultural, que é formado por pessoas de várias origens que se juntam na região leste de Londres. É um novo tipo de ‘cockney’”, disse.
Claire Hardaker, especialista em linguística da Universidade de Lancaster, analisou o vídeo e disse que as vogais do homem que nele aparece sugerem que ele seja do sudoeste da Inglaterra, mas mais provavelmente de Londres. “Definitivamente, estamos perante um sotaque inglês, do sul, e provavelmente de Londres, Kent ou Essex”.
O envolvimento da Scotland Yard na caçada internacional foi visto como importante por fontes especializadas em contraterrorismo, os quais indicaram que o homem já, provavelmente, esteja na mira da polícia, ou por algum comportamento criminoso de antes ou porque era conhecido por outros jihadistas de outros países.
O professor Peter Neumann, diretor do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização, da King’s College, em Londres, disse que a escolha por um militante de língua inglesa em fazer a frente no vídeo de Foley se deu de forma deliberada para causar um impacto maior no ocidente. “Isso é importante porque significa uma virada no sentido de ameaçar o ocidente. Estão dizendo que iremos atrás de vocês caso continuem nos bombardeando”.
Neumann disse que combatentes ingleses vêm levando a cabo “atos terríveis” como decapitação, torturas e execuções há 18 meses, mas que esta pareceu a primeira vez que o faziam com uma vítima ocidental. E acrescentou: “Não é tão importante que combatentes britânicos vêm decapitando e torturando, pois isso vem sendo feito há um ano e meio. O que é importante é que esta vítima era um americano e que este caso estava conectado com uma mensagem direta de que ‘nós estamos de olho em vocês’”.
Os serviços de segurança da Inglaterra há meses vêm alertando sobre o grande número de terroristas locais deixando suas cidades em todo o país para ir lutar na Síria e no Iraque. A estimativa é de 500 britânicos, que se juntam a outros 700 franceses e 500 belgas nas linhas de frente destes dois países.
Afzal Ashraf, do Royal United Services Institute, disse que o vídeo divulgado era o mais recente de numa guerra de propaganda travada pelo ISIS, com a intenção de espalhar terror nos EUA e na Inglaterra como uma ferramenta de recrutamento para extremistas ocidentais.
“Haverá um pequeno impacto sobre os recrutamentos. Na verdade, afetará um certo tipo de indivíduos psicopatas, mas que, felizmente, são uma minoria. A mensagem que realmente motiva as pessoas é que esta é uma forma de dar o troco naquilo que consideram ser assédio e dominação do mundo islâmico por parte dos EUA. Estas pessoas se sentem impotentes quando enxergam o poderio americano aéreo e por terra; elas consideram o que estão fazendo uma forma de dar o troco, retaliar. Eis a principal motivação”.
Rafaello Pantucci, diretor de estudos sobre segurança nacional no Royal United Services Institute, disse: “Este vídeo nos mostra que pessoas estão indo para estes lugares e estão sendo brutalizadas por este conflito. Elas não estão apenas participando em um tipo de campanha contra [o presidente sírio Bashar] al-Assad; elas estão envolvidas em ações hediondas contra aqueles que fazem reféns. Sabíamos que estas coisas estavam indo nesta direção, mas agora este vídeo é uma confirmação”.
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Militante britânico do ISIS no vídeo de James Foley vigia reféns estrangeiros na Síria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU