Por: André | 31 Julho 2014
As constantes fricções entre os fiéis árabes e o alto clero do patriarcado greco-ortodoxo de Jerusalém (foto) transformaram-se quase numa guerra aberta. O que catalisou esta nova situação entre os cristãos ortodoxos da Terra Santa é a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, com o trágico balanço de mortos entre a população civil palestina: os cristãos árabes de confissão greco-ortodoxa acusam o patriarca e outros membros gregos da cúpula de uma interessada convivência com os autores do que em seus comunicados definem de “guerra genocida” de Israel. E o conflito interno da Igreja ortodoxa de Jerusalém terá possíveis consequências em nível ecumênico: justamente o patriarcado greco-ortodoxo de Jerusalém sediará entre os dias 15 e 23 de setembro a próxima reunião plenária da Comissão para o Diálogo Teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa, convocada para continuar o discernimento comum sobre o tema do Primado.
Fonte: http://bit.ly/1oKLeKP |
A reportagem é de Gianni Valente e publicada no sítio Vatican Insider, 30-07-2014. A tradução é de André Langer.
O patriarca ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III indicou que o encontro estava previsto para acontecer na capital jordaniana, pois faz parte do território canônico do patriarcado e parecia garantir o desenvolvimento dos trabalhos de reflexão afastado das incógnitas que envolvem toda a região. Agora, justamente em Amã (Jordânia) eclodiram os protestos da base contra o patriarca e o Sínodo hegemonizado pelos bispos gregos.
Na semana passada, na capital do reino da Jordânia nasceu um movimento para a reforma e o renascimento do Patriarcado. Mais de 700 representantes das comunidades cristãs árabes ortodoxas da Terra Santa, dirigidos pelos poucos bispos e arquimandritas ortodoxos árabes, discutiram e publicaram seus objetivos, fruto de uma reunião convocada no Orthodox Club, que apresentaram como uma batalha reformista para enfrentar o declínio do patriarcado.
No “manifesto” programático da revolta eclesial, que foi publicado depois do encontro, surgem novamente os argumentos polêmicos que os fiéis árabes já haviam esgrimido no passado contra o predomínio exercido sobre a Igreja ortodoxa da Terra Santa por parte de patriarcas e bispos de origem grega, todos selecionados entre as fileiras da Congregação monástica de São Miguel.
O bispo árabe Atallah Hanna, em companhia dos arquimandritas, sacerdotes e fiéis árabes, voltou a denunciar a “dominação racial sobre a Igreja de Jerusalém” e o declínio provocado pela ausência de cuidados pastorais para seus filhos, que se cristalizou numa redução drástica dos cristãos de confissão religiosa nos últimos anos e sua migração para outras Igrejas cristãs.
Os redatores do manifesto protestam contra a dilapidação das riquezas doadas à Igreja no passado. Também denunciaram o estado de abandono das escolas patriarcais e das cortes eclesiásticas, além da corrupção na administração dos bens do Patriarcado, que não segue nenhum critério de vigilância ou de transparência.
No documento são recordadas também as medidas às quais foram submetidos há tempos os autores de uma reforma considerada inadiável. Mas, no atual momento histórico que se vive na Terra Santa, o que surpreende é o uso de argumentos que aludem ao conflito entre israelenses e palestinos. “Hoje, nosso povo é exterminado pelo Exército de Israel”, pode-se ler no apelo, “enquanto um sacerdote nos visita com um plano para animar os cristãos a entrarem obrigatoriamente no Exército de ocupação sionista sob a cobertura e a bênção do patriarca greco-ortodoxo, que nunca levou em consideração os sofrimentos de seu povo”.
O personagem ao qual o documento se refere implicitamente é Gabriel Naddaf, sacerdote greco-ortodoxo que trabalha na região de Nazaré e que se converteu no principal apoio eclesiástico da campanha patrocinada por diferentes setores políticos israelenses com a qual se estende aos cidadãos árabes cristãos a obrigação de prestar serviços no Exército de Israel. O patriarca Teófilo III também é criticado por ter outorgado condecorações a “um oficial do Exército de ocupação, enquanto o nosso povo (mulheres, crianças e idosos) está na mira da artilharia”.
No manifesto, os cristãos ortodoxos da Terra Santa reivindicam suas origens árabes e uma sintonia com “os nossos irmãos muçulmanos” em relação à “defesa do nosso país”. Eels invocaram um despertar eclesial que “guarde os ensinamentos dos Pais, os cânones da Igreja e sua espiritualidade em suas dimensões pastorais e patrióticas”. Para isso, propõem oito pontos concretos como primeiro objetivo do programa “de reformas”: pede-se o fim da venda das propriedades eclesiais, a modificação da composição do Sínodo permitindo a presença árabe e a criação de um grupo eletivo de sacerdotes e leigos para administrar ordinariamente a Igreja.
Os “insurretos” ortodoxos também tratam de angariar algum apoio político para a sua ofensiva eclesial, declarando a própria fidelidade ao rei Abdullah II da Jordânia, pedindo a ajuda do presidente palestino, Mahmoud Abbas, e recordando à família real hachemita seu papel de custódio dos “lugares santos muçulmanos e cristãos de Jerusalém”.
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Terra Santa. A revolta dos cristãos árabes contra o patriarca ortodoxo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU