01 Abril 2014
Rowan Williams, ex-arcebispo de Canterbury, atacou os estilos de vida ocidentais por eles estarem causando mudanças que impulsionam a “crise do meio ambiente no qual vivemos”.
A reportagem é de Robert Mendick, publicada no sítio The Telegraph, 29-03-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Num artigo publicado no jornal The Telegraph, Williams diz que as “terríveis” inundações e tempestades que devastaram partes da Inglaterra neste último ano foram uma demonstração do “que podemos esperar” no futuro. Ele também critica fortemente os céticos da mudança climática.
As inundações na Inglaterra e as “catástrofes” relacionadas com o clima nos países mais pobres do planeta, insiste ele, são os indicativos mais claros até agora de que as previsões do “aquecimento acelerado da terra” causado pela “queima descontrolada de combustíveis fósseis (...) estão se tornando realidade”.
Seu apelo para se combater o aquecimento global reduzindo o consumo de combustíveis fósseis vem na véspera da publicação do estudo de um respeitado estudo sobre o impacto das mudanças climáticas.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da ONU, irá publicar seu mais recente estudo – de milhares de páginas – sobre as consequências do aumento previsto nas temperaturas globais.
Segundo um trecho que vazou à imprensa, o relatório irá afirmar que o custo do combate aos efeitos do aumento na temperatura de 2.5 graus célsius, no final deste século, será de 60 bilhões de libras esterlinas anuais (cerca de 225 bilhões de reais). O texto mostrará que o impacto das mudanças do clima vai ser sentida, com mais intensidade, na África, na América do Sul e na Ásia e apresentará previsões de prever secas, escassez de alimentos e um aumento no índice de doenças tais como a malária.
Céticos sustentam que, embora o planeta esteja aquecendo, não está claro que isso acontece por causa da ação do homem. Eles apontam para erros em relatórios anteriores produzidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e acusam a indústria do aquecimento global de elevar os riscos de uma mudança climática, o que tem consequentemente levado à introdução, nenhum pouco barata, de políticas energéticas verdes.
Mas Williams, até pouco tempo líder da Igreja Anglicana, escreve: “Durante anos ouvimos as previsões de que a queima descontrolada de combustíveis fósseis irá levar a um aquecimento acelerado do planeta. O que agora está acontecendo indica que estas previsões estão se tornando verdadeiras; nossas ações têm gerado consequências que são profundamente ameaçadoras para muitas das comunidades mais pobres do mundo”.
E acrescentou: “Sem dúvida, os países ricos e industrializados foram os que mais contribuíram para a poluição atmosférica. Tanto o nosso estilo de vida atual quanto a história industrial de como criamos tais possibilidades para nós mesmos tem que assumir a responsabilidade por estar impulsionando uma crise do meio ambiente no qual vivemos”.
Williams, escrevendo na qualidade de presidente da Christian Aid, disse que as tempestades há pouco ocorridas e que devastaram a Inglaterra trouxeram a questão das mudanças climáticas à tona no país e que o relatório do IPCC, a ser publicado num encontro especificamente convocado a acontecer em Yokohama (Japão) nesta segunda-feira, coloca “nossos problemas locais num contexto global profundamente perturbador”.
O IPCC, diz ele, estará “mostrando que (...) nós [ingleses] nos saímos, na verdade, relativamente bem em comparação com outros países”.
Enquanto que o “caos [das enchentes] veio como um choque para muitos de nós”, outros países tais como Bangladesh e Quênia sofreram catástrofes muito piores causadas pelas mudanças climáticas ao longo de muitos anos.
Williams argumenta contrariamente aos céticos do aquecimento global e aqueles que negam as mudanças climáticas. “Há, naturalmente, os que duvidam do papel da ação humana nesta questão, e que argumentam que deveríamos direcionar nossos esforços apenas para nos adaptar às mudanças que são inevitáveis, em vez de modificar nosso comportamento”, afirmou o religioso.
“Tal abordagem pode ser ‘bem interessante’ na Inglaterra, onde as defesas contra inundações e outras medidas podem ser adaptadas de forma relativamente barata. Porém, nos países mais vulneráveis e pobres mais afetados pelo aquecimento global, ela não é uma opção”.
A intervenção de Williams no debate sobre a mudança climática vem ao mesmo tempo em que autoridades e pesquisadores que se encontram no Japão finalizam o texto do estudo conduzido pelo Painel Intergovernamental. O relatório – uma coleção de provas científicas reunidas a respeito da mudança climática – irá focalizar os impactos do aquecimento global. O texto irá mostrar que a África será afetada por secas mais longas, que ameaçarão animais e o rendimento de culturas agrícolas.
O IPCC espera ver uma piora na saúde como resultado de um aumento da desnutrição, de casos de malária e outras doenças.
O aumento da temperatura vai também afetar a produção e segurança alimentar em regiões da Ásia, com uma queda na produção de arroz causada por um período de crescimento mais curto.
O relatório do IPCC irá dizer que a região norte da Ásia se beneficiará com temperaturas mais quentes, embora levando a um aumento da produção de trigo e cereais. Na América do Sul, o IPCC dirá que o gelo e as geleiras nos Andes vão estar “recuando num nível alarmante”, afetando o abastecimento de água enquanto que “ecossistemas singulares” serão ameaçados, seja pelas mudanças climáticas, seja pelo aumento da industrialização.
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Rowan Williams, ex-líder da Igreja Anglicana, alerta sobre catástrofe climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU