06 Março 2014
O Papa Francisco está no cargo há um ano e é celebrado por muitos como reformador. O pároco Helmut Schüller, presidente da Pfarrer-Initiative (Iniciativa dos Párocos), analisa objetivamente: "Ele deu grandes sinais, mas que, até agora, não se concretizaram em mudanças de sistema".
A reportagem é da revista Ja – Die neue Kirchenzeitung, de março de 2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
São muitas as possíveis motivações: "Ou é ele mesmo que não quer, ou ele quer, mas não vê nenhuma forma de fazer a mudança, ou é impedido. Até agora, todas as interpretações são possíveis, porque, para cada uma, há algo que pode torná-la válida. Enquanto isso, já se passou um ano, e as coisas não são tão claras quanto pareciam no início. Também se pode pensar que o papa continua isolado com as suas ideias, que o sistema vaticano se impõe, e que, portanto, o abismo entre a Igreja do cotidiano, da base da sociedade, e a hierarquia eclesiástica em nível mundial também continuará no futuro. Essa seria uma variante bastante pessimista, mas que não pode ser completamente excluída".
A variante otimista seria "a necessidade de um período considerável de tempo para que tudo possa ser transformado, e que, por isso, se deve continuar tendo paciência. As coisas, no entanto, ainda estão em aberto. Mas um certo ceticismo começa a ganhar espaço, começa-se a pensar que a situação de impasse pode surgir também do fato de que o papa sozinho não consegue realizar a mudança, e que as Conferências Episcopais e os bispos, agora como antes, não o apoiam contra do sistema. Os bispos, da forma como eu os conheço, estão esperando para ver como as coisas vão acabar – para só então decidir. E isso, naturalmente, seria uma catástrofe".
A nomeação do cardeal Müller
A nomeação a cardeal do conservador pertencente à linha dura Gerhard Ludwig Müller "dificilmente é avaliável de fora. Ela pode ser interpretada como uma tentativa de envolver a ala conservadora no seu modo de ver as coisas. Mas, naturalmente, também pode ser um sinal do fato de que a ala conservadora é muito forte e quer continuar condicionando as decisões".
Sínodo: sentimentos contrastantes
O próximo Sínodo dos Bispos sobre a família desperta em Schüller sentimentos ambivalentes: "Eu observei a forma pela qual o papa agora constituiu o Pontifício Conselho para os Leigos – aquele órgão que, no fim, terá grande influência no Sínodo. Nele, há um fortíssimo predomínio de leigos conservadores, ou seja, representantes de movimentos e comunidades que estão em profundo acordo com o Vaticano. Portanto, certamente não reflete os resultados do questionário".
Seria preciso ter confiança no fato de que os batizados têm uma maior experiência de vida no âmbito do casamento e da família do que o papa e todos os bispos juntos.
Para Schüller, isso significa: "Não se deve suspeitar de que a opinião dos fiéis é determinada pela leviandade. São pessoas que enfrentam a vida, têm família, criam filhos, estão à frente de várias experiências de vida e se esforçam, em tudo isso, para estar à altura dos ideais. Justamente nesse contexto, eu daria um peso muito mais forte à voz dos leigos. Precisamente essa é a competência original e fundamental dos batizados! Aqui, excepcionalmente, os consagrados e os celibatários deveriam ouvir mais do que falar. Se isso vai acontecer no Sínodo, eu não sei. Mas deveria acontecer, se realmente o questionário quer trazer alguma coisa. Porque aqui é possível pegar da base da Igreja algo que é importante para a Igreja inteira".
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''Grandes sinais, mas nenhuma mudança de sistema'', afirma Helmut Schüller sobre Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU