Por: André | 17 Dezembro 2015
O arcebispo Jozef De Kesel fez, no último sábado, sua primeira homilia como arcebispo de Malinas-Bruxelas. Uma homilia na linha da humildade, da solidariedade e da esperança.
A reportagem é de Elodie Blogie e publicada por Le Soir, 12-12-2015. A tradução é de André Langer.
“Não se esqueçam de que vocês também são humanos como os outros”
O novo primaz da Bélgica inicia sua intervenção com as palavras do Evangelho de São João, enfatizando a exigência (da conversão), mas também da humildade: “Não se esqueçam de que vocês também são humanos como os outros”, recorda citando São João. “O que João pede é muito comprometedor. É verdade. Mas ele não pede coisas extravagantes. Aquele que é batizado não se afasta dos outros. Nós somos devolvidos à responsabilidade e à solidariedade que nós partilhamos com todos os homens, independente da sua religião ou crença”.
O coração do cristianismo? “Não uma doutrina ou uma moral”
De Kesel arrisca agora a seguinte pergunta: “Mas, então, por que se fazer batizar? Por que ser cristão?” O novo arcebispo destaca a liberdade de consciência: nós não nos tornamos crentes “por necessidade ou por obrigação”. “É com toda a liberdade e por amor que eu sou cristão”.
Este é o coração do cristianismo – a liberdade e a alegria –, prossegue o arcebispo, que destaca que não é em primeiro lugar “uma doutrina ou uma moral”. Apontando a dúvida, ele reconhece que a fé não é algo simples, que ela não responde a todas as perguntas, mas que é “o que nos torna felizes, dá um sentido, uma direção à existência”.
Nos passos de Francisco: a atenção aos mais pobres, aos refugiados e ao ambiente
Na linha direta de Francisco, dom De Kesel faz referência ao Soberano Pontífice e à sua primeira exortação apostólica chamada de “A alegria do Evangelho”, assim como ao Ano da Misericórdia. De maneira mais indireta, ele retoma temas caros ao Papa. Assim, evoca o risco da indiferença em relação ao outro, “sobretudo em relação àqueles que são marginalizados e que não contam, os pobres e os vulneráveis”.
Ele destaca mais precisamente os refugiados “que fogem da guerra e da violência” e apela para o respeito de todos, quaisquer que sejam suas crenças. Sempre na esteira de Francisco, cuja primeira encíclica se centra na defesa do ambiente, dom De Kesel defende, em seguida, o “respeito e o cuidado do planeta que habitamos”, em nome das “gerações futuras”. Assim como Francisco, dá nome à maior ameaça hoje: “a mundialização da indiferença”.
Empenho contra o fundamentalismo religioso e o fechamento
Dom De Kesel situa a Igreja, e sua missão, no contexto atual: “Proclamar esta misericórdia de Deus e apelar ao respeito e ao amor, esta é a missão da Igreja. Este é o espaço que ela busca em nossa sociedade pluralista e moderna. Nada mais, mas também nada menos. É numa cultura secularizada que ela pode e deve fazer ouvir sua voz. Mais ainda quando um fundamentalismo religioso constitui, no momento presente, realmente uma ameaça”.
O novo primaz da Bélgica insiste: ele não quer uma “Igreja que se fecha sobre si mesma”. De Kesel termina sua homilia do mesmo jeito que começou, com humildade: “Por isso, nós queremos consagrar as nossas melhores energias à missão que me foi confiada hoje. Eu estou com vocês e vocês estão comigo. Como nós ouvimos de João, nada de projetos extravagantes ou espetaculares. Mas a busca de uma experiência coerente do Evangelho. E com isso temos uma certeza: que Deus nos conhece e ama, Ele que é a nossa alegria e a nossa confiança”.
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“O coração da Igreja não é a doutrina”, diz novo arcebispo primaz da Bélgica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU