15 Dezembro 2015
A sua primeira missa como arcebispo ainda não começou, no altar de uma basílica de São Petrônio lotada, com filas até os portões para os controles de segurança, e Dom Matteo Maria Zuppi está lendo a saudação à sua nova cidade, o agradecimento ao seu antecessor, Caffara (que não está), e ao papa que lhe enviou a essa cidade "de humanismo sábio", ele "romano-romano".
A reportagem é de Michele Smargiassi, publicada no jornal La Repubblica – Bologna, 13-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois, uma citação pop não está fora de lugar. A modo mio / avrei bisogno di carezze anch’io [Do meu modo, eu também precisaria de carícias] cantava o errante da Piazza Grande, Lucio Dalla, portanto, "do meu modo, como dizia o poeta, demos as carícias em quem dorme sobre os bancos. Todos precisamos delas, assim como de rezar a Deus".
Há outra música a partir desse domingo na comunidade cristã de Bolonha. "Um novo e imprevisível início", promete. Início a partir de onde? "Dos sem-casa, daqueles que fogem da guerra, dos desempregados, dos novos italianos: e deixemos de chamar de estrangeiros os colegas de escola dos nossos filhos." Uma música que pede "para não ter medo de tudo o que é humano, de não nos acreditarmos puros, porque não gostamos de sujar as mãos", porque "a Igreja não é um forte longe da estrada".
O padre Zuppi não esperou muito para mudar a partitura de uma Cúria que, há 30 anos, é o feudo conservador da Igreja italiana e, nos últimos meses, também o da oposição à pastoral familiar do Papa Francisco. Que Dom Zuppi cita de mãos cheias. Mas ainda antes é com os símbolos, com os gestos que ele escolhe falar. A estação é o seu primeiro desembarque. "Se ele começa a partir daqui, ele já entendeu muitas coisas sobre esta cidade", acolhe, ainda surpreso, o presidente da Associação Vittime, Paolo Bolognesi, diante da cratera da bomba do dia 2 de agosto.
Aqui ele pode dar logo as carícias aos mendigos que ninguém teve a coragem de limpar da sala de espera. Carícias e beijos na testa. E, depois, diante da inscrição: "Mas quantos anos tinha a menor?", pergunta consternado, "poderíamos ser todos nós. A verdade não apaga a dor, mas é um dever". E, diante do presépio dos ferroviários, onde a manjedoura está entre os escombros do massacre: "É certo, Jesus não nasceu em uma casa de ricos".
Em seguida, o departamento de oncologia pediátrica do Hospital Sant'Orsola, onde mora a dor mais injusta e incompreensível do mundo. E, depois, finalmente, debaixo das Duas Torres, a entrada oficial, mas é impossível dizer que é uma procissão solene, apesar dos esforços dos porta-bandeiras, é um mar de cabeças e de mãos que o espremem e o buscam, "Matteo! Matteo!", o vigário Silvagni se finge de ingênuo, "mas todos o conhecem pessoalmente?".
Bem, não é preciso muito, o padre Matteo, quando alguém o chama, para, pergunta, fala, ri, escapa-lhe o sotaque romanesco, vê uma faixa de boas-vindas e exulta "'mmazza chebbello!", vê um rosto conhecido, "ettepareva che non venivi!".
Em 500 metros ele para mil vezes, para o desespero de Paolo Castaldini, chefe de segurança da Cúria, que viu muitos bispos, mas talvez não um como esse, "vamos, vamos, porque eu tenho tempos para respeitar!". Em alguns momentos, até lhe dá um tapinha nas costas, ao bispo, para desencravá-lo de lá, e ele, obediente, se despede, "desculpe, tenho que ir, mas depois nos vemos".
Realmente, ele parece mais confortável aqui, nesta "praça grande que é a cidade inteira", nesta Igreja-estrada de "pecadores perdoados", mais do que na Igreja-castelo onde vivem como "condôminos" (e isso ele diz na homilia de verdade) certos "cristãos de laboratório", talvez "julgadores", mas, depois, posicionados na sua "elegante resignação" a este "tempo de crise e de medos".
A procissão, da basílica da cidade à catedral do bispo, San Pietro, é um pouco surreal, entre luminárias e papais-noéis, mas essa é a cidade real. A abertura da Porta Santa, "que abre o coração para a cidade": começa o Jubileu bolonhês.
E lá, um dia que não quer terminar, um assédio, todos debaixo do altar para buscar o aperto de mão, "não é difícil gostar de vocês", agradece o bispo transtornado, abraçando a todos, um por um, de Romano Prodi aos seus ex-paroquianos de Trastevere, que alugaram um ônibus, passando pelos doentes, pelos padres.
"Ele começa muito bem, um verdadeiro operador de paz", diz o prefeito Merola, bastante impressionado. O protocolo se quebra, é hora da janta, e os abraços continuam. De vez em quando, o novo bispo olha ao redor, aponta para alguém e exclama em voz alta: "Esta é uma pessoa importante, você sabiam? Vocês já a conheciam?". Não. Ainda não.
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O batismo de um novo arcebispo: "Recomecemos por quem não tem casa" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU