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18 Dezembro 2015

"Na ausência de notícias, comemorações ou debates para marcar a efeméride desta semana, uma pergunta paira no ar há duzentos anos: deveríamos ter mantido o Reino Unido, sem fazer a independência em 1822?", questiona Ancelmo Gois, jornalista, em artigo publicado por O Globo, 13-12-2015. 

Eis o artigo.

Quarta agora, dia 16, completam-se 200 anos da criação do Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves, com sede no Rio. Aqui, o coleguinha Laurentino Gomes, 59 anos, paranaense de Maringá e autor de livros de História de sucesso como “1808”, escreve sobre esta data meio esquecida.

Passa em branco na memória nacional esta semana — sem grandes debates, eventos ou celebrações oficiais — um dos mais importantes acontecimentos da História de Brasil e Portugal. A criação do Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves há duzentos anos, no dia 16 de dezembro de 1815, representou o fim do período colonial e início efetivo da História do Brasil independente. Deveria ser a grande notícia entre brasileiros e portugueses por esses dias. E, no entanto, a data vai passar em branco. Rara exceção foi um seminário de historiadores brasileiros e portugueses em outubro no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) do Rio de Janeiro e, ainda assim, com escassa repercussão. A julgar pelo silêncio em torno da efeméride, ninguém se deu conta da sua importância. É uma prova do quanto andamos hoje desanimados nos dois lados do Atlântico.

Para a relação entre Brasil e Portugal, não há nenhum outro acontecimento histórico ao Reino Unido. O Descobrimento, em 1500, foi um evento limitado aos portugueses e bastante controvertido. Os brasileiros que havia aqui na época, cerca de cinco milhões de índios, foram quase todos dizimados nos séculos seguintes. A vinda da corte para o Rio de Janeiro, em 1808, é celebrada pelos brasileiros, mas vista com desprezo pelos portugueses, que ainda hoje se consideram traídos pela fuga de Dom João. O Grito do Ipiranga, em 1822, é igualmente uma data épica para o Brasil, mas sombria para Portugal, que, ao perder o Brasil em meio uma desgastante guerra da Independência, viu evaporar o seu antigo império colonial. Resta, portanto, o Reino Unido de 1815 como um momento de rara e estreita aproximação entre os destinos desses dois países, sem que um fosse metrópole ou colônia do outro.

O Reino Unido foi um dos maiores e mais efêmeros impérios da história humana. Com capital no Rio de Janeiro, seus domínios se estendiam por quatro continentes: Europa, América, África e Ásia. Teve apenas dois soberanos. Dona Maria I, que fazia aniversário no dia 16 de dezembro de 1815, estava tão louca e senil que provavelmente sequer soube da criação do seu novo reino. Seu filho Dom João VI, que a sucedeu meses mais tarde, foi também o coveiro do Reino Unido, como responsável pela assinatura do tratado de 1825 que reconheceu a independência do Brasil.

Na ausência de notícias, comemorações ou debates para marcar a efeméride desta semana, uma pergunta paira no ar há duzentos anos: deveríamos ter mantido o Reino Unido, sem fazer a independência em 1822? Pessoalmente, acho que sim. Ligados a Portugal e com uma economia maior e mais dinâmica do que a da antiga pequenina metrópole, seríamos hoje um parceiro comercial de peso na Comunidade Europeia, membros da OTAN, e coisas assim, em vez de ficarmos nos flagelando na insignificância da periferia do mundo.