11 Dezembro 2015
O cardeal Gianfranco Ravasi cumprimenta, faz selfies, abençoa. Na basílica, há um clima de festa, com um vai e vem incrível de pessoas.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 09-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
De quantos Anos Santos você participou?
Tive a sorte de ver todos os Anos Santos de 1950 em diante. Em 1950, eu tinha oito anos. Os meus pais, quando viram Pio XII na cadeira gestatória que passava, me levantaram para que eu pudesse observá-lo. Eu ainda me lembro dele. Uma figura hierática. Lembro-me de 1975. Se não me engano, caíram alguns pedregulhos na cabeça de Paulo VI. Depois, o de 1983, convocado por João Paulo II para o aniversário simbólico da morte de Cristo, e o Grande Jubileu do ano 2000, que é o que eu acompanhei melhor.
Por quê?
Porque quem atuou como consultor externo, para a direção, foi um querido amigo meu, Ermanno Olmi.
O ano 2000 parece a anos-luz de distância...
Eram tempos diferentes. O Jubileu atual é mais sóbrio, não só porque reflete o Papa Bergoglio, mas também porque está no espírito dos tempos. Trata-se de estilos diferentes. A casula de João Paulo II, por exemplo, era colorido, dourada, luzente. Era emblemático da suntuosidade do momento, encerrava-se um milênio, entrava-se em outro. Todo o aspecto coreográfico conjugava essa mensagem. Agora, emerge a sobriedade extrema.
Também há dois papas desta vez.
Trata-se de uma imagem que vai entrar na práxis da Igreja. É possível que os pontífices não levem a termo mais até o fim o seu mandato. Seguramente, a imagem dos dois pontífices é um início absoluto e pode ser que se repita no futuro. Não vejo caminhos diferentes. Ratzinger abriu um caminho. E, desta vez, há outra novidade...
Qual?
A primeira Porta Santa foi aberta em Bangui. Trata-se de um elemento único, de ruptura, de enorme porte simbólico, porque difunde pelo mundo a mensagem de que Roma não é mais o coração, porque, naquele momento, se encontrava em outro lugar. Ele também nos lembrou da força das periferias e a dinâmica virtuosa do coração e dos seus membros mais distantes: todos fazem parte de um mesmo organismo vital.
E o que lhe fez refletir mais?
O ritual. A solidão do papa, que cruza o limiar, apenas como um homem qualquer. Naquele momento, ele é uma criatura que vai pedir perdão.
O fato de que a Porta Santa foi aberta na África pode nos fazer imaginar que há lugar para um papa africano?
Bangui nos lembrou que a catolicidade é universal, que a Igreja é intercontinental e que a Igreja vai além. Papas africanos? Naturalmente, não se pode prever, mas, em teoria, é possível, levando-se em conta que, entre os primeiros papas, havia africanos. A imagem de Bangui, porém, forneceu o impulso para ir às raízes bíblicas do Jubileu. No Levítico, ele é descrito com quatro elementos, a libertação dos escravos, a remissão das dívidas, o retorno das terras a quem as tinha perdido, e o repouso da terra, que remete à questão ecológica. Naturalmente, os profetas se lamentavam do fato de que não eles eram observados, mas, no capítulo 25 do Levítico, lembra-se precisamente de que a misericórdia é estrutural do Jubileu.
Então, o Jubileu Extraordinário da Misericórdia não é tão extraordinário.
Nesse sentido, sim. Jesus diz a mesma coisa. Lucas relata que, na sinagoga, quando Ele faz o Seu primeiro discurso público, Ele diz ter vindo para anunciar a boa nova aos pobres, restituir a vista aos cegos e anunciar a graça do Senhor. Eis, o verbo anunciar é jubileu. O jubileu a ser conectado com os pobres, com aqueles que mais sofrem no coração, com os pecadores.
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"Roma não é o coração do Jubileu. Bangui foi a verdadeira mensagem de ruptura." Entrevista com Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU