Por: Jonas | 12 Novembro 2015
“Uma família que quase nunca se reúne para as refeições, ou em cuja mesa não se fala, mas se vê televisão, ou smartphone, é uma família ‘pouco família’”. Durante a Audiência Geral na Praça São Pedro, o Papa Francisco dedicou a catequese ao tema da convivência e enfatizou que “em nosso tempo, marcado por tantas rejeições e tantos muros, a convivência, gerada pela família e dilatada na Eucaristia, converte-se em uma oportunidade crucial. A Eucaristia e a família nutrida por ela podem vencer as rejeições e construir pontes de acolhida e de caridade”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 11-11-2015. A tradução é do Cepat.
“Hoje – apontou Francisco – refletiremos sobre uma qualidade característica da vida familiar, que se aprende desde os primeiros anos de vida: convivência, ou seja, a atitude de compartilhar os bens da vida e ser felizes por poder agir assim. Compartilhar e saber compartilhar é uma virtude preciosa! Seu símbolo, seu “ícone”, é a família reunida ao redor da mesa doméstica. Compartilhar os alimentos – e, portanto, além dos alimentos, também os afetos, as histórias, os fatos... – é uma experiência fundamental. Quando há uma festa, um aniversário, reunimo-nos ao redor da mesa. Em algumas culturas, isto também é comum no luto, para estar próximo de quem se encontra na dor pela perda de um familiar. A convivência – explicou – é um termômetro seguro para medir a saúde das relações. Se na família há algo que não está bem, ou alguma ferida escondida, na mesa se percebe. Uma família que quase nunca se reúne para as refeições, ou em cuja mesa não se fala, mas se vê televisão, ou smartphone, é uma família ‘pouco família’. Quando os filhos na mesa estão presos ao computador, ao celular, e não se escutam entre eles, isto não é família, é um retirado”.
O cristianismo, enfatizou Jorge Mario Bergoglio, “possui uma especial vocação para a convivência, todos sabem. O Senhor Jesus ensinava frequentemente na mesa, e representava algumas vezes o Reino de Deus como um banquete gozoso. Jesus também escolheu a comida para entregar a seus discípulos seu testamento espiritual – fez isto na ceia –, condensado no gesto memorial de seu Sacrifício: doação de seu Corpo e de seu Sangue como Alimento e Bebida de salvação, que nutrem o amor verdadeiro e duradouro”. Nesta perspectiva, “bem podemos dizer que a família é “de casa” à Missa, porque leva à Eucaristia a própria experiência de convivência e a abre para a graça de uma convivência universal, do amor de Deus pelo mundo. Participando da Eucaristia, a família é purificada da tentação de se fechar em si mesma, fortalecida no amor e na fidelidade, e estende os confins de sua própria fraternidade segundo o coração de Cristo”. Em nosso tempo, “marcado por tantas rejeições e tantos muros, a convivência, gerada pela família e dilatada na Eucaristia, converte-se em uma oportunidade crucial. A Eucaristia e a família nutrida por ela podem vencer as rejeições e construir pontes de acolhida e de caridade. Sim, a Eucaristia de uma Igreja de famílias, capazes de restituir à comunidade o fermento dinâmico da convivência e da hospitalidade recíproca, é uma escola de inclusão humana que não teme confrontações! Não existem pequenos, órfãos, frágeis, indefesos, feridos e desiludidos, desesperados e abandonados, que a convivência eucarística das famílias não possa nutrir, restaurar, proteger e hospedar”.
“Hoje – continuou –, muitos contextos sociais colocam obstáculos à convivência familiar. É verdade, hoje não é fácil. Devemos encontrar a forma de recuperá-la; na mesa se fala, na mesa se escuta. Nada de silêncio, esse silêncio que não é o silêncio das religiões, é o silêncio do egoísmo: cada um tem o seu, ou a televisão ou o computador... e não se fala. Não, nada de silêncio. Recuperar esta convivência familiar, ainda que seja adaptando-a aos tempos. A convivência parece que se tornou uma coisa que se compra e se vende, mas, assim, é outra coisa. E a nutrição não é sempre o símbolo de um justo compartilhar dos bens, capaz de alcançar a quem não tem nem pão, nem afetos. Nos países ricos, somos estimulados a gastar em uma nutrição excessiva, e depois fazemos isto novamente para remediar o excesso. E este “negócio” insensato desvia nossa atenção da fome verdadeira, do corpo e da alma. Quando não há convivência, há egoísmo, cada um pensa em si mesmo. Tanto é assim, que a publicidade a reduziu a um desejo de bolachas e doces. Enquanto isso, muitos irmãos e irmãs ficam de fora da mesa. É um pouco vergonhoso! Não, é?”. Neste sentido, apontou, “a aliança viva e vital das famílias cristãs, que precede, sustenta e abraça no dinamismo de sua hospitalidade as fadigas e as alegrias cotidianas, coopera com a graça da Eucaristia, que é capaz de criar comunhão sempre nova com a força que inclui e que salva. A família cristã mostrará assim, a amplitude de seu verdadeiro horizonte, que é o horizonte da Igreja Mãe de todos os homens, de todos os abandonados e dos excluídos, em todos os povos. Oremos para que esta convivência familiar possa crescer e amadurecer no tempo da graça do próximo Jubileu da Misericórdia”.
O Papa, que ontem pronunciou um discurso programático à Igreja italiana, reunida em Florença, em razão de seu 5º Congresso, começou a audiência convidando a multidão de fiéis, reunida na Praça São Pedro, a rezar uma Ave Maria para acompanhar o evento.
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Smartphones e televisão durante as refeições? “Tem pouco de família”, afirma Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU