Por: André | 06 Novembro 2015
Publicamos, na sequência, as reflexões do Pe. Federico Lombardi SJ, diretor da Sala de Imprensa do Vaticano sobre um novo capítulo das discussões sobre os temas econômicos da Santa Sé.
A reportagem é de José Manuel Vidal e publicada por Religión Digital, 04-11-2015. A tradução é de André Langer.
“A publicação de dois livros que tratam das instituições e das atividades econômicas e financeiras do Vaticano é objeto de curiosidade e de muitos comentários. Fazemos algumas observações.
Como é do conhecimento de todos, boa parte do que foi publicado é o resultado de uma divulgação de notícias e documentos, reservados e, portanto, ilegal, que por esse motivo, é perseguida penalmente segundo a decisão das autoridades competentes do Vaticano. Mas, nesse momento, não é este o nosso assunto, dado que já é objeto de tanta atenção.
O que agora nos interessa é refletir sobre o conteúdo do que foi divulgado. Podemos dizer que em boa medida trata-se de informações já conhecidas, embora muitas vezes com menos amplitude e detalhes, mas, sobretudo, devemos notar que a documentação publicada está relacionada a um considerável empenho de coleta de dados e de informações posto em marcha pelo próprio Santo Padre, para fazer um estudo e uma reflexão da reforma e melhoria da situação administrativa do Vaticano e da Santa Sé.
A COSEA (Comissão Referente ao Estudo e Orientação sobre a Organização das Estruturas Econômico-Administrativas da Santa Sé) – prossegue Lombardi –, de cujo arquivo provém boa parte das informações publicadas, foi, efetivamente, instituída pelo Papa no dia 18 de julho de 2013 com este objetivo, e depois foi dissolvida após cumprir seu papel.
Portanto, não se trata em sua origem de informações obtidas contra a vontade do Papa ou dos responsáveis das diferentes instituições, mas, de modo geral, de informações obtidas ou oferecidas com a colaboração destas mesmas instituições, para contribuir com o objetivo positivo e comum.
Naturalmente, uma grande quantidade de informações deste tipo deve ser estudada, compreendida e interpretada com cuidado, equilíbrio e atenção. Muitas vezes, são possíveis diferentes leituras partindo dos mesmos dados.
Um exemplo é a situação da Caixa de Pensões, que mereceu, em sucessivos tempos, diversas avaliações, desde aquelas que falam com preocupação de um grande “buraco negro”, àquelas que proporcionam uma leitura tranquilizadora (como resultava dos comunicados oficiais publicados com autoridade pela Sala de Imprensa da Santa Sé).
Como é óbvio, também nos encontramos com a questão dos fins e do uso dos bens que pertencem à Santa Sé. Bens que, analisados em conjunto, parecem ingentes, quando na realidade têm a finalidade de manter ao longo do tempo um leque vastíssimo de atividades de serviço, de cuja gestão se ocupam a Santa Sé e as instituições a ela conexas, tanto em Roma como nas diversas partes do mundo.
A origem da propriedade destes bens é diversa e não de hoje estão também disponíveis várias ferramentas para conhecer sua história e sua evolução (por exemplo, seria bom informar-se sobre os acordos econômicos entre a Itália e a Santa Sé no marco dos Pactos Lateranenses e do trabalho para o estabelecimento de uma administração eficaz, desenvolvido por Pio XI com a ajuda de ótimos e especialistas colaboradores; um trabalho reconhecido comumente como acertado e com visão de futuro, inclusive nos aspectos sobre os investimentos no exterior e não apenas em Roma ou na Itália).
Com respeito ao Óbulo de São Pedro, é necessário levar em conta que seus usos são diferentes, dependendo também das situações, a critério do Santo Padre, às quais são destinadas as oferendas, com a confiança dos fiéis que mantêm seu ministério. As obras de caridade do Papa para os pobres são, sem dúvida, uma das mais importantes, mas desde logo os fiéis não têm a intenção de excluir que o Papa possa avaliar por si mesmo as situações de emergência e o modo de responder a elas à luz do seu serviço para o bem da Igreja universal.
O serviço do Papa inclui também a cúria romana – como instrumento de seu serviço – suas iniciativas fora da diocese de Roma, a comunicação de seu magistério aos fiéis nas diversas partes do mundo, inclusive as mais pobres e distantes, o apoio a 180 missões diplomáticas em todo o mundo, que servem às Igrejas locais e intervêm como agentes principais para distribuir a caridade do Papa nos diferentes países, além de, como representantes do Santo Padre nos governos locais. A história do Óbulo demonstra tudo isso com clareza.
Ao longo do tempo, estes temas voltam periodicamente, mas são sempre motivo de curiosidade ou de polêmica. Seria necessário ter seriedade para aprofundar as situações e os problemas específicos, para saber reconhecer tudo (muito mais do que se diz geralmente e sistematicamente ignorado pelo gênero de publicações de que estamos falando) o que está completamente justificado e que foi bem administrado (inclusive o pagamento dos impostos devidos), e distinguir onde se encontram os inconvenientes que devem ser corrigidos, obscuridades que devem ser esclarecidas, verdadeiras impropriedades ou ilegalidades que devem ser eliminadas.
Justamente para este objetivo orienta-se o cansativo e complexo trabalho que começou pelo empenho do Papa com a constituição da COSEA, que já fez seu trabalho, e com as decisões e iniciativas que ainda devem ser desdobradas e postas em marcha (e que pelo menos em parte foram obtidos graças, justamente, às recomendações da própria COSEA ao final de seu trabalho).
A reorganização dos dicastérios econômicos, a nomeação do auditor-geral, o funcionamento regular das instituições competentes para a vigilância das atividades econômicas e financeiras, etc., são uma realidade objetiva e incontrovertível.
Uma publicação repleta de grande quantidade de informações diferentes, em grande parte relacionadas a uma determinada fase do trabalho, já superada, sem a necessária possibilidade de um aprofundamento e avaliação objetiva chega ao resultado (infelizmente em boa parte buscado) de dar a impressão contrária, de um reino permanente de confusão, de não-transparência ou inclusive da busca de interesses particulares ou incorretos.
Evidentemente, isto não faz justiça de maneira alguma à coragem nem ao esforço com que o Papa e seus colaboradores enfrentaram e continuam enfrentando o desafio de uma melhoria no uso dos bens temporais a serviço dos bens espirituais. No entanto, é o que deveria ser mais apreciado e encorajado em um trabalho correto de informação para responder adequadamente às expectativas do público e às exigências da verdade. A via da boa administração, da retidão e da transparência segue e procede sem incertezas. Esta é, evidentemente, a vontade do Papa Francisco e não faltam aqueles que, no Vaticano, colaboram com plena lealdade e com todas as suas forças.”
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Lombardi garante que o Papa não está sozinho e segue lutando para alcançar uma transparência total no Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU