23 Outubro 2015
Na medida em que o Sínodo dos Bispos 2015 entre naquela que deve ser uma semana de debates acalorados, centrando-se em assuntos contenciosos como uma “nova linguagem” sobre a homossexualidade e na permissão a católicos divorciados e recasados no civil para receberem a Comunhão, o Cardeal Daniel N. DiNardo, de Galveston-Houston, no Texas, diz duas coisas bem claras.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 19-10-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Uma delas é que os 13 grupos de trabalho, nos quais os bispos participam distribuídos por critérios linguísticos, estão produzindo uma grande quantidade de ideias, refletindo o que as diferentes vozes estão expressando. A outra, segundo ele, é que ninguém parece saber ao certo o que sairá como resultado do evento.
“Tudo parece estar em aberto”, disse sorrindo o prelado ao sítio Crux no domingo.
Ele disse que os 10 bispos que compõem a equipe de redação do documento final do Sínodo – grupo que inclui o Cardeal Donald Wuerl, de Washington, DC – terão de encontrar uma maneira de levar em conta as sugestões dos pequenos grupos (tecnicamente chamadas de “modi”) e costurá-las dentro de um documento que reflita, com honestidade, o pensamento do Sínodo.
Este documento deve estar baseado num texto de trabalho distribuído no início chamado Instrumentum Laboris, explica DiNardo.
No início, houve queixas de que o processo sinodal não estava dando aos bispos uma oportunidade adequada para eles se manifestarem claramente, e DiNardo esteve entre a dúzia de cardeais que assinaram uma carta ao Papa Francisco levantando algumas destas preocupações.
Até agora, disse ele, parece que o campo de jogo está “bastante horizontal” para os vários grupos. No entanto, DiNardo advertiu que um juízo final sobre a condução das três semanas de encontro irá depender do que acontecer no documento final.
“Em minha opinião, esse será o ponto principal”, disse ele. “Se o que vier daí der a entender que as pessoas prestaram atenção ao que os bispos de fato disseram, então acho que teremos feito um belo trabalho”.
Sobre as questões específicas em pauta esta semana, DiNardo falou ser contra a “proposta do Cardeal Kasper”, em que se quer permitir aos fiéis divorciados e recasados no civil retornarem à Sagrada Comunhão.
“Basicamente, não sou a favor dessa ideia”, disse. “Não acho que ela é coerente. A meu ver, indissolúvel significa ‘inquebrantável’, e não se pode dizer, depois, que o casamento é indissolúvel mas não exclusivo”.
DiNardo disse esperar que seu grupo de trabalho (grupo D de língua inglesa, coordenado pelo Cardeal Thomas Collins, de Toronto) encontre-se dividido nessa questão, mas que seja “mais contra do que a favor”.
Quanto à intenção de se ter uma linguagem mais inclusiva e acolhedora para com a homossexualidade, DiNardo igualmente expressou cautela.
“Se eles querem dizer que deveríamos falar com respeito, eu estou de acordo, mas não sei se irei gostar de tornar a linguagem de nossa Igreja um tanto vaga”, completou.
Segundo o prelado, especialmente na sequência de uma decisão recente da Suprema Corte [dos Estados Unidos], que aprovou o casamento gay, qualquer coisa que fomente a “confusão” neste país sobre o ensinamento da Igreja será inútil.
DiNardo disse que, em Houston, logo após a decisão da Suprema Corte, um casal gay contatou a arquidiocese querendo se matricular num programa católico de preparação ao matrimônio – no pressuposto de que, segundo também DiNardo, tal oposição ao casamento gay “é apenas uma questão disciplinar da Igreja a qual irá ser mudada algum dia”.
Nesse contexto, “muito me preocupo que a doutrina não fique clara”.
DiNardo disse que, no Sínodo, as atitudes em relação à nova linguagem sobre a homossexualidade, muitas vezes depende do lugar de onde um bispo vem – “do sul do Equador ou norte” –, com os prelados africanos e asiáticos manifestando reservas enquanto os europeus ocidentais tendem a serem mais entusiasmados.
Por outro lado, DiNardo disse que há um forte consenso emergente sobre vários outros pontos, incluindo a necessidade de uma melhor preparação para o matrimônio – algo como um “Ritual da Iniciação Cristã de Adultos” só que par casais.
“Os bispos estão dizendo que a preparação tem que começar mais cedo”, disse ele, “e que ele tem que ser muito mais completo, e não apenas terminando com a declaração do casamento no altar. Precisamos ajudar as pessoas a se verem como discípulos que estão se casando (…)”.
No todo, DiNardo disse que, apesar das claras diferenças em alguns pontos, a atmosfera permanece cordial.
“Algumas pessoas estão dizendo que, no lado de dentro do Sínodo, há todos os tipos de coisas horríveis acontecendo, mas isso realmente não é verdade”, disse ele. “Aqueles que há pouco disseram algo contrário a algum outro prelado se veem, logo em seguida, saindo juntos no intervalo”.
No final, declarou DiNardo, muito pode ser dito sobre os detalhes dos debates sinodais, pois as decisões finais ulteriores repousam com o Papa Francisco – que, segundo ele, “realmente ainda não mostrou as suas cartas” em termos de onde ele se encontra diante das questões debatidas.
Francisco receberá as conclusões do Sínodo, mas DiNardo ressaltou que o pontífice não tem de se conformar a elas.
“El pode as aceitar ou as deixar de lado”.
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DiNardo diz que o lance final do Sínodo repousa com Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU