Papa Francisco, ''autoridade moral''. Mas metade do Congresso não o aplaude sobre as questões políticas

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26 Setembro 2015

Muito nervoso e comovido para um evento, uma visita papal ao Congresso, que ele tenta realizar há 20 anos, o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, acolhe Francisco com palavras obsequiosas. Depois, tenta quebrar o embaraço com uma piada: "Os meus colaboradores me fizeram vestir esta estranha gravata verde". "É muito bonita, a cor da esperança", responde o papa. "Bem, de fato, hoje eu preciso de muita esperança", acrescenta o líder conservador, referindo-se às contestações que ele sofreu no seu partido pelo convite dirigido a um líder religioso que, em vários campos, da economia ao ambiente, defende teses distantes das suas.

A reportagem é de Massimo Gaggi, publicada no jornal Corriere della Sera, 25-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Tem duas faces o histórico discurso do Papa Bergoglio perante as Câmaras reunidas em sessão conjunta: o caloroso abraço a todos, a admiração e a comoção, as ovações quando presta homenagem à América, terra de homens livres e audazes.

Mas depois, quando o pontífice toca as questões mais delicadas, como a necessidade de lutar contra as mudanças climáticas provocadas pelo ser humano, a acolhida aos refugiados e aos migrantes, a luta contra as desigualdades econômicas, volta o teatro político de um Congresso dividido pela metade, como durante os discursos de Obama sobre o Estado da União: meia sala pula de fé e aplaude, a outra metade permanece sentada e em silêncio.

Ontem, isso aconteceu várias vezes, mas o chefe da Igreja evitou forçar a mão sobre os pontos que ele sabia que eram mais polêmicos e recebeu ovações em todo o restante. Espetáculo estranho: Marco Rubio, com lágrimas nos olhos de comoção, mas rígido quando se fala de ajuda aos pobres. O porquê é explicado pelo próprio senador conservador da Flórida (e candidato presidencial), muito católico, mas também favorável a medidas fiscais que beneficiem ainda mais os ricos, que, diz, criam prosperidade e postos de trabalho: "O papa tem uma autoridade extraordinária, mas é infalível apenas quando se trata de moral: santidade da vida, valor do matrimônio. Sobre a economia, Francisco é uma pessoa comum".

"E ele não deveria entrar em uma esfera que pertence à política, a pessoas que são eleitas pelo povo", acrescenta outro senador da direita, de Oklahoma, James Inhofe. É semelhante a crítica do republicano texano John Cornyn, enquanto outro conservador, o senador Bill Cassidy, da Louisiana, diz concordar com o papa sobre a necessidade de fazer algo contra o efeito estufa.

É o cenário que muitos analistas políticos previram. O papa, que, embora atento para não usar slogans "incendiários" para a direita norte-americana, coloca em algum embaraço, e talvez divide, os republicanos. O melhor, aconselha alguns estrategistas eleitorais aos parlamentares que não sabem bem como reagir à mensagem papal, é escapar com algumas piadas e virar a página.

Mas o evento é histórico e não pode ser ignorado. Nem mesmo pelos democratas: o deputado Adam Schiff, da Califórnia, pede o Prêmio Nobel da Paz para Francisco (reconhecimento jamais entregue a um papa), enquanto Hillary Clinton, no Twitter, aprecia a mensagem do pontífice sobre o ambiente. Mais rápido é o seu rival para a candidatura, Bernie Sanders, um senador que se alegra diante das câmeras de todas as redes de televisão pelas palavras do papa sobre a justiça social.

E enquanto Boehner, ainda com os olhos umedecidos, freia as polêmicas dizendo que "a visita papal transcende tudo, nos leva de volta às nossas obrigações cotidianas, a refletir sobre o seu exemplo", Francisco, declinando o convite de deputados e senadores para o almoço, já está entre os sem-teto da paróquia de St Patrick. "A Washington da política não entende – diz John Carr, diretor da Iniciativa Social Católica em Georgetown, a universidade dos jesuítas –, mas Francisco aqui é um forasteiro: ele tem outra agenda".

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