08 Junho 2015
Em uma entrevista publicada no dia 26 de maio no jornal austríaco Salzburger Nachrichten, o Pe. Helmut Schüller falou sobre uma desconexão entre os bispos e o seu povo e sobre a escassez de sacerdotes.
“O papa e as pessoas nas comunidades se entendem bem entre si”, disse Schüller. “No meio deles há o nível episcopal, ou seja, os bispos – e estes parecerem realmente não querer se fazer entender”.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada no sítio National Catholic Reporter, 01-06-2015. A tradução de Isaque Gomes Correa.
Schüller, 63, ex-vigário geral do cardeal de Viena Christoph Schönborn, fundou em 2006 a Iniciativa dos Párocos Austríacos (Pfarrer Initiative, em alemão) pela reforma da Igreja. Em 2011, a entidade começou a campanha “Chamado à Desobediência”, que convocava os sacerdotes a oferecerem a Eucaristia a “todas as pessoas de boa vontade”, inclusive a católicos divorciados e recasados no civil, além de membros de outras igrejas cristãs, sem esperarem pelas reformas necessárias na Igreja. Os sacerdotes das Iniciativa dos Párocos querem pavimentar o caminho para um novo modelo de sacerdócio em vez de precisarem mesclar as paróquias entre si.
Schüller mantém contato direto com a Rede Internacional de Movimentos pela Reforma da Igreja e participou do congresso organizado por esta Rede em Limerick, na Irlanda, em abril deste ano, onde os líderes internacionais defensores da reforma na Igreja Católica discutiram questões tais como o comando da Igreja, uma maior responsabilização das hierarquias, a plena participação dos católicos que se divorciaram e recasaram, o lugar dos católicos LGBTs e as famílias inter-religiosas na vida da Igreja.
No longo prazo, a Igreja não terá condições de evitar questões tais como a da ordenação feminina e de quem pode assumir o comando de comunidades sem sacerdotes, disse Schüller.
A ida de católicos para as igrejas pentecostais na América Latina se dá, em parte, devido à escassez de sacerdotes católicos, afirmou o entrevistado. “Algumas comunidades são visitadas por um padre duas ou três vezes por ano apenas. As comunidades pentecostais, por outro lado, são muito pequenas e cada uma tem o seu pastor”.
Mas, perguntou o entrevistador de Schüller, quanto à liderança comunitária das paróquias na América Latina: elas não estão à frente das comunidades europeias?
“A Igreja Católica está situada numa encruzilhada quanto a essa questão”, respondeu. “Ou ela consegue garantir sacerdotes às suas comunidades ou ela deverá começar a desenvolver novas formas de liderança comunitária. As comunidades latino-americanas estão reagindo a esta situação de maneira bastante pragmática. Até onde sabemos, foi exatamente assim que as primeiras comunidades cristãs reagiram. A liderança comunitária se desenvolvia simultaneamente em diferentes formas”.
Schüller disse que Dom Erwin Kräutler, da Prelazia do Xingu, Brasil, levantou a questão da ordenação dos viri probati (homens de fé e virtudes comprovadas) em uma audiência privada com o Papa Francisco em abril de 2014 por causa da escassez de sacerdotes na América Latina. Na ocasião, Francisco lhe falou contou que cabia às conferências episcopais fazerem sugestões ousadas nos níveis regionais e nacionais quanto sobre este assunto.
“Estou realmente curioso para saber se os bispos brasileiros farão isso”, disse Schüller. “Até onde sei, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está abordando a questão da liderança comunitária. Talvez ela faça algumas sugestões nesse sentido”.
Muitos bispos parecem estar assumindo uma atitude de “esperar para ver”, preferindo assistir as coisas do lado de fora, observou o entrevistador.
“Acho que muitos bispos estão, sobretudo, determinados a não fazer nada errado neste momento porque se nem o papa apresenta alguma novidade, pouco eles podem esperar daqueles em posições de liderança em Roma”, respondeu o entrevistado. “Além disso, o Papa Francisco espera que os bispos se comportem de maneira diferente da que lhes era pedido no passado. Hoje, espera-se que eles façam sugestões ousadas para assuntos que, não muito tempo atrás, poderiam lhes render um disciplinamento por parte de Roma.
É pouco provável que as pautas das conferências episcopais mudaram, disse Schüller. Elas estão defendendo a estratégia administrativa defensiva de mesclar paróquias independentes, transformando-as em associações paroquiais enormes, impessoais.
“Isso é a coisa mais sem imaginação que alguém pode fazer. Até mesmo alguns em cargos de responsabilidade em Roma acham extraordinária esta solução”, disse ele. “Algumas paróquias dos EUA que foram mescladas conseguiram que Roma lhes permitisse voltar atrás e se tornar novamente comunidades independentes”.
Segundo Schüller, o que mais mudou sob o comando do Papa Francisco foi o clima, o ambiente na Igreja. As pessoas estão com menos medo de falar sobre as reformas de que a Igreja necessita, enquanto que antes deste pontificado bastava falar sobre o assunto para a pessoa ser desaprovada.
“A nossa postura agora está direcionada contra a lentidão do sistema, que pouco mudou. No momento, portanto, fazer oposição significa pressionar em busca de fazer valer as nossas reivindicações e apoiar as nossas iniciativas”, disse Schüller.
Não está claro ainda até onde o próprio Francisco quer ir, afirmou o entrevistado.
“É possível que não consigamos empreender as reformas essenciais. Não sabemos ainda qual é a postura dele em relação à ordenação feminina, por exemplo. O papa vem de uma sociedade que ainda é muito tradicional. As controvérsias que os países industrializados da Europa e América do Norte estão enfrentando ainda precisam chegar até a América Latina”, disse Schüller.
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Schüller: juntar paróquias é uma maneira sem imaginação de lidar com a escassez de padres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU