Por: Jonas | 14 Abril 2015
“Penso que homens como Jorge Costadoat (foto) são uma esperança para a Igreja, para sua renovação no Chile, para a juventude que busca e não encontra, e sinto pena cada vez que homens como ele são desautorizados exatamente pelos que mais deveriam acolhê-los com entusiasmo e alegria”, escreve o sacerdote jesuíta José Aldunate, em artigo publicado por Religión Digital, 10-04-2015. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/VHt7Zk |
Eis o artigo.
Vejamos os fatos. Em seguida, seu significado e gravidade. Depois algumas conclusões.
Os fatos. Jorge Costadoat há 20 anos é professor na Universidade Católica do Chile, sendo muito apreciado como professor pelos seus colegas e alunos.
Considerado como um professor avançado, teólogo da libertação, talvez o mais reconhecido como tal no Chile e entre os mais reputados na América Latina. Por esta razão, sofreu reparações na Roma de Ratzinger, João Paulo II e Bento XVI. Na mesma universidade não foi nomeado “professor ordinário” (possuidor de sua cátedra, mas “professor extraordinário”). Por isso, o grande Chanceler, o cardeal Ezzati, há três anos, advertiu o professor Costadoat para que tivesse cuidado em sua exposição doutrinal.
Esses antecedentes deram margem à decisão atual do cardeal em suspender Jorge, negando-lhe a permissão canônica de continuar seu ensino. Fez isto com o argumento de que as cautelas recomendadas pelo grande Chanceler não foram satisfeitas. A preocupação do cardeal se centra na formação dos sacerdotes que estudam na universidade. Seu julgamento, portanto, é que o ensino de Costadoat compromete a formação requerida. Esta avaliação, confessada pelo próprio cardeal, não se fundamenta em relatórios ou apreciações de autoridades da própria universidade, mas em apreciações vindas de fora da universidade. Em definitivo, em apreciações do próprio cardeal Ezzati.
Foi segundo a confissão do próprio cardeal de fora do mundo universitário que veio a acusação que se referia à doutrina ensinada por Costadoat. A saber, do mundo eclesial. A Igreja chilena, mexida pelos conflitos de Karadima, O’Reilly e da Diocese de Osorno, está muito dividida. Há um setor mais avançado, buscando a reativação do Concílio Vaticano II e outro setor arraigado no tradicional, representado por João Paulo II e o cardeal Ratzinger (depois Bento XVI). As iniciativas do papa Francisco estão no centro das controvérsias. No Chile, estas alcançam as esferas políticas e sociais. Pode-se compreender quais são as raízes desta divisão e como atingem Jorge Costadoat, caso levemos em consideração que Jorge é um teólogo da libertação e dos bons. Talvez, o melhor do Chile, fazendo parte dos melhores da América Latina.
Teríamos que considerar a história da teologia da libertação para calibrar a dimensão da divisão que, na atualidade, atinge a Igreja chilena. A história da teologia da libertação, desde seus inícios, com Gustavo Gutiérrez, em 1967, suas raízes no Concílio Vaticano II, suas expressões nos sínodos de Medellín, Puebla, Santo Domingo e em Aparecida, as oposições romanas e sua reivindicação atual.
Entristece a evolução de nossa teologia latino-americana marcada pela recente atitude do cardeal Ezzati ou, mais exatamente, a ingerência de posições doutrinais tão extrapoladas na história, em um desenvolvimento teológico de autêntico valor.
A Universidade Católica deve caminhar com cuidado para não perder sua autêntica catolicidade. Abriga em sua faculdade de teologia alunos de vários países latino-americanos. Não pode reproduzir a estreiteza do período do governo militar, quando possuiu um reitor da marinha e excluiu do ensino da teologia dois professores de primeira grandeza. Ronaldo Muñoz e Fernando Castillo Lagarrigue. Não tem nenhum sentido reproduzir na atualidade a estreiteza daqueles tempos.
Nosso arcebispo não é teólogo, mas é pastor. Se me coloco na perspectiva do bem pastoral de nossa igreja chilena, confesso que também compreendo a medida do cardeal em suspender Jorge Costadoat. Além do prestígio acadêmico da Universidade Católica, também está em jogo o prestígio de outra entidade que interessa a nós todos, também ao mundo chileno não religioso. É o prestígio da própria Igreja Católica. A Igreja chilena foi universalmente enaltecida por sua defesa dos Direitos Humanos no tempo do governo militar.
Até aqui mencionei dois aspectos que me ligam a Jorge Costadoat e pelos quais me sinto afetado pelas proibições que sofre. Um é o vínculo que me une com a Universidade Católica, na qual durante 33 anos fui professor e pela qual tenho a preocupação de que se mantenha aberta, católica, em diálogo com o mundo moderno. O segundo é a minha qualidade de teólogo moralista, diplomado como doutor na Gregoriana, há 65 anos, e sujeito de um interesse pela teologia, apaixonado, confesso, durante todos estes longos anos. Interessa-me a reflexão teológica e vi em Jorge Costadoat um bom expoente da teologia latino-americana e universal. Causa-me dor vê-lo censurado, na minha avaliação, quando teríamos que esperar tanto dele para América Latina e a teologia católica em geral.
Porém, meu interesse pela teologia não é simplesmente ideológico, é um interesse e preocupação com a Igreja, com a mensagem de Cristo e sua atualização no mundo atual. Preocupa-me a vigência da Igreja no mundo atual e, particularmente, em nosso Chile atual. Quando me atualizei em longos anos de leitura, de diálogo, de reflexão, senti uma preocupação muito especial pela fé cristã e a Igreja viva em nosso país.
Constato que em nossa Igreja perduram estruturas antigas, absolutamente superadas, que estão causando um êxodo da juventude da Igreja. Preocupa-me que essa renovação buscada pelo Concílio Vaticano II ainda não ilumine nosso horizonte apequenado no Chile. Penso que homens como Jorge Costadoat são uma esperança para a Igreja, para sua renovação no Chile, para a juventude que busca e não encontra, e sinto pena cada vez que homens como ele são desautorizados exatamente pelos que mais deveriam acolhê-los com entusiasmo e alegria.
Interessei-me na iniciativa papal, tão necessária, de renovar no mundo a teologia e a prática do matrimônio cristão. Jorge Costadoat prometia ser um fator muito positivo para cooperar com o interesse do Papa e a causa própria do bem comum, vinculado ao matrimônio. Esperava que com Jorge pudéssemos preparar o Sínodo da família que a Igreja projeta celebrar em outubro próximo, mas certamente sua desautorização para ensinar não valoriza sua cooperação.
Não posso deixar de pensar que nosso bispo se equivoca ao retirar Jorge do ensino que seus seminaristas e teólogos devem receber. Precisamente acredito que homens como Jorge são necessários para que nossos futuros diáconos e párocos possam responder mais plenamente aos desejos da Igreja, à modernização que nossa Igreja urgentemente necessita para responder as esperanças do Concílio. Já se vão 60 anos, desde o término do Concílio, e no Chile o Concílio ainda não foi refletido. No Chile, ainda não superamos essa desconfiança na qual a Igreja se meteu, com João Paulo II e o próprio Ratzinger, e que impediu que o Concílio adquirisse plena vigência.
Em resumo, diante das mudanças que a Igreja chilena e as próprias instituições do país pedem, como a Universidade Católica, penso que não podemos desperdiçar a contribuição de um homem valioso, impedindo a carreira que claramente foi chamado a desempenhar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Nosso bispo se equivoca ao retirar o teólogo Jorge Costadoat do ensino”, diz o jesuíta José Aldunate - Instituto Humanitas Unisinos - IHU