02 Junho 2010
"Precisamos de uma gestão tecnológica que incentive processos e aproveite oportunidades econômicas" é o que diz o professor Thales Andrade nesta entrevista, concedida por telefone à IHU On-Line. Durante a conversa ele tratou dos impasses da inovação tecnológica, principalmente no que diz respeito às nanotecnologias frente à questão ambiental e destacou o fato de que a tecnologia nano está presente nos mais diversos produtos usados no dia-a-dia, mas a discussão sobre suas possibilidades e, principalmente, seus riscos ainda é fechada. “Estamos tratando de um tema que só uma pequena elite tecnológica vai saber lidar com os possíveis riscos. Por isso, é emergencial hoje nós ampliarmos a gama de agentes que possam lidar com esses riscos possíveis para que a sociedade saiba a quem cobrar e responsabilizar”, apontou.
Thales Novaes de Andrade é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, onde também realizou o mestrado e doutorado na mesma área. Atualmente, é professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR-SP).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais são os impasses da inovação tecnológica frente à temática ambiental?
Thales Novaes de Andrade – Essa relação entre meio ambiente e tecnologia é uma questão muito antiga, cuja discussão tem sido marcada também por questões ideológicas e pouco cientificas. Hoje, estamos vivendo uma grande convergência de tecnologias e formando um grande sistema tecnológico e científico. Agora a questão não é mais segurar ou limitar a tecnologia, uma questão que perdurou por muito tempo. Temos que entender essa grande convergência e como ela tem que se abrir para uma discussão ambiental. Agora, é necessário participar da grande discussão científico-tecnológica que está ficando fora de controle e se tornando uma problemática, pois grande parte da população não está participando.
A nanotecnologia é um exemplo claro disso. Quem está discutindo a nanotecnologia? Hoje, há uma incapacidade de discutir essa questão de forma qualificada. As nanotecnologias estão tendo um grande desenvolvimento, muito aplicado, muito interessante, só que a discussão não é politizada.
"A nanotecnologia nos traz grandes possibilidades de intervenção científica, de criação de novas formas de terapia, só que isso também vai criar uma crise sobre a natureza humana"
O problema não é frear ou barrar a nanotecnologia, mas sim torná-la acessível, aberta e politizada para que vários agentes a discutam também. É necessário que empresas e governos criem canais para que vários agentes possam também debater essas questões. A nanotecnologia nos traz grandes possibilidades de intervenção científica, de criação de novas formas de terapia, só que isso também vai criar uma crise sobre a natureza humana. As nanocriações estão recriando aquilo que é autoconsciência da natureza humana, o que é o ser humano e o que o compõe. Mas as regras devem ser redefinidas e estipular novos acordos e formas de entender o que é propriedade, produtividade, autoconsciência da natureza humana.
IHU On-Line – Como o senhor vê a relação entre gestão tecnológica e prática cientista em relação ao meio ambiente?
Thales Novaes de Andrade – Ninguém pode negar que certas tecnologias trazem potencialidades. Agora, é necessário termos um acompanhamento dessas novas formas de conhecimento, porque temos uma volatilidade muito grande. A ciência é insegura. O comportamento das nanopartículas muda com o tempo. Então, o fato de você desenvolver uma nova nanopartícula hoje não quer dizer que daqui 20 anos ela terá o mesmo comportamento, pois ela sofrerá mutações totalmente imprevistas.
É necessário, portanto, criar canais para que não tenhamos riscos futuros. É aí que temos um embate entre a racionalidade empresarial e os procedimentos científicos. A nanotecnologia deve estar com um pé em cada um. Precisamos de uma gestão tecnológica que incentive processos e aproveite oportunidades econômicas, mas a pesquisa em nanotecnologia tem que acompanhar esse desenvolvimento empresarial, senão cada um vai para um lado.
"Se a tecnologia se alia à empresa, acaba deixando a ciência de lado"
Se a tecnologia se alia à empresa, acaba deixando a ciência de lado. O controle e o acompanhamento científico precisam existir. Em países como os EUA, onde há uma aplicação empresarial muito grande em pesquisas com nanotecnologia, o controle das agências ambientais está ficando cada vez mais frágil.
IHU On-Line – Qual é o risco de poluição ambiental por partículas muito pequenas flutuando no ar?
Thales Novaes de Andrade – É difícil prever iso. Temos que tomar cuidado com um certo catastrofismo. A verdade é que a nanotecnologia trabalha com partículas muito pequenas, e o controle sobre elas é muito frágil. As nanopartículas podem sofrer mutações de uma maneira que não há como você controlar ou antecipar as tendências. Estamos tratando de um tema que só uma pequena elite tecnológica sabe lidar com os possíveis riscos. Por isso, é emergencial hoje nós ampliarmos a gama de agentes que possam lidar com esses riscos possíveis para que a sociedade saiba a quem cobrar e responsabilizar. Se tivermos uma crise relacionada com nanotecnologias, quem vai poder agir?
IHU On-Line – As nanotecnologias podem contribuir para a redução da pegada ecológica dos processos industriais?
Thales Novaes de Andrade – Sim, você pode reduzir as pegadas ecológicas que conhecemos, mas também podemos criar outras. Há um otimismo justificável, mas outros problemas ambientais, que não existem, podem ser criados. O que me incomoda na discussão sobre nanotecnologia é que ela ainda não se tornou pública e sem isso não é possível saber que problemas ela pode gerar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Nanotecnologias para todos. Entrevista especial com Thales Novaes de Andrade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU