Mais de 2 milhões de refugiados em duas semanas. O Papa paga o diesel para os caminhões humanitários

Cardeal Krajewski visita uma família em Lviv. (Foto: Vatican Media))

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

11 Março 2022

 

O cardeal Konrad Krajewski fala conosco por telefone olhando pela janela de um prédio secreto em Lviv. A cidade é "fantasmagórica, deserta, pelo toque de recolher e pelo medo". O Esmoleiro pontifício está na Ucrânia a pedido do Papa Francisco - com quem mantém uma linha direta e constante – em missão humanitária. E diplomática. O cardeal passou pela "sua" Polônia e depois atravessou a fronteira na direção oposta às mulheres e crianças que fogem dos tanques russos.

 

A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 10-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Após 15 dias de guerra, o número de refugiados que fugiram subiu para 2.155.271 (cerca de 5% dos 44 milhões de habitantes), incluindo centenas de milhares de crianças, muitas separadas de seus pais, segundo informações do ACNUR. Mais de 1,294 milhões de refugiados chegaram à Polônia, mais 203.000 à Hungria, mais 153.303 à Eslováquia, 99.300 à Rússia, 82.762 à Moldávia, 85.444 à Romênia e 592 à Bielorrússia. Em outros países europeus um total de 235 mil. Na Itália, o número é comunicado pelo primeiro-ministro Mario Draghi: “23.872. A principal fronteira pela qual passam é a ítalo-eslovena”.

 

Krajewski já cruzou com rios de gente “que vêm de Kiev. Há também aqueles que se deslocam para Lviv, por enquanto poupada dos ataques. Aqui estima-se que estejam meio milhão a mais de habitantes, alojados em escolas, paróquias ou em abrigos provisórios”.

 

Cardeal Krajewski com dom Mokrzycki em Lviv, na Ucrânia. (Foto: Vatican Media))

 

O enviado do Papa relata como os ucranianos “não ignoram o fato de que sou polonês. Muitos me abraçam agradecidos pela calorosa acolhida que a Polônia está dando aos refugiados, acolhidos não em campos, mas nas casas de meus compatriotas”.

 

Os primeiros passos do cardeal foram de natureza religiosa: “Tive uma reunião com Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja greco-católica, e o Metropolita de Lviv Mieczyslaw Mokszycki. Houve também uma conversa telefônica com o Santo Padre. E logo organizamos uma iniciativa ecumênica”.

 

Hoje, de fato, "com os chefes das várias confissões - católicos, judeus, ortodoxos, inclusive os que dependem de Moscou - nos reuniremos para uma oração na catedral". Krajewski diz estar “convencido de que esta guerra poderá ser parada também e principalmente com a nossa fé. E com o testemunho que estão dando bispos, padres, religiosos e freiras, todos os quais permaneceram no país, em seu lugar”. Quando os evacuados veem o Alto Prelado e entendem que ele vem do Vaticano em nome do Papa, “lágrimas muitas vezes escorrem por seus rostos. Eles estão comovidos, porque se o Santo Padre enviou seu cardeal para o meio da guerra, isso significa que ele realmente deseja transmitir seu amor às pessoas em fuga das bombas”.

 

Krajewski revela as palavras proferidas por Bergoglio quando lhe confiou a tarefa: “Vá lá e leve minha proximidade às pessoas que estão fugindo da violência. Aos que sofrem, leve ajuda, consolação e coragem. E a bênção do Papa. Seja o Evangelho puro em meio a uma dor absurda”.

 

Um cardeal no meio do inferno da batalha, mas sem medo: “Antes de partir, confessei-me e fiz o meu testamento. E agora, que a vontade de Deus seja feita."

 

Por razões de segurança, ele não anunciará seus movimentos. Na zona onde “me encontro, chegam grandes ajudas da Comunidade Europeia, à qual os ucranianos são gratos. Tudo é descarregado em armazéns e daqui partem os caminhões para Kiev, Odessa, em direção ao sul do país. E temos informações que as doações chegam ao seu destino, apesar dos bombardeios”. Também graças a uma intervenção prática do Papa: “Aqui há dificuldade em encontrar óleo diesel e por isso, através da Esmolaria apostólica, o Santo Padre pagou muitas viagens dos caminhões”.

 

Leia mais