16 Mai 2022
Fala o Arcebispo de Argel, Mons. Jean-Paul Vesco, sobre a canonização de Charles de Foucauld no domingo, 15 de maio: “Quando Charles de Foucauld morreu, a Europa era dilacerada pela Primeira Guerra Mundial. Sua morte e sua canonização ocorrem, portanto, em dois momentos difíceis e paralelos de guerra na Europa. Mas se olharmos para o futuro santo hoje, retorna a sua mensagem de fraternidade que constantemente perpassou a sua vida."
"Para nós, Igreja da Argélia, é um momento importante porque Charles de Foucauld é uma figura emblemática do carisma nossa Igreja e porque os momentos essenciais do seu caminho espiritual e de vida aconteceram aqui na Argélia. Seu desejo de chegar a todos e tornar-se amigo das pessoas mais distantes o engajou ao longo de sua vida e no coração do mundo muçulmano. E isso é para nós ainda hoje motivo de inspiração para nossa pequena Igreja.” Assim, contatado por telefone, o novo arcebispo de Argel, Mons. Jean-Paul Vesco, conta ao SIR o que significa para a Igreja Católica na Argélia a canonização de Charles de Foucauld, que será celebrada em Roma no domingo, 15 de maio. A liderar uma delegação francesa à cerimônia na Praça São Pedro estará o primeiro-ministro Jean Castex. A canonização requer, entre as condições, também ter realizado pelo menos dois milagres. Após o caso de cura do câncer em 1984, que permitiu a sua beatificação, o Vaticano reconheceu um segundo milagre atribuído a Charles de Foucauld: a incrível história de um jovem carpinteiro de Saumur (Maine-et-Loire) que sobreviveu em 2016 a uma queda de 15 metros em um banco que perfurou seu flanco esquerdo.
A entrevista é de Chiara Biagioni, publicada por SIR, 14-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mons. Vesco, que legado deixa Charles de Foucauld à Igreja universal hoje?
Para mim, pessoalmente, seu legado é seu fogo. Ele não teve discípulos ou grandes resultados imediatos, por isso é difícil hoje falar de uma 'herança' entendida no sentido literal da palavra. O que permaneceu dele, em vez disso, é essa chama que ardeu e o motivou por toda a vida. Era um homem que ardia por Deus e esse fogo o levou aos lugares mais desconhecidos e distantes. Nesta jornada, ele semeou fraternidade em todos os lugares. E o levou a se tornar irmão e amigo de todos, mesmo daqueles que eram mais distantes. Charles de Foucauld deu tudo de si para seguir Deus neste caminho.
Quem era Charles de Foucauld?
Uma personalidade extremamente complexa. Ele é frequentemente apresentado como um eremita, mas era um homem em relação permanente com as pessoas. Os milhares de cartas que ele recebeu e escreveu testemunham isso. Ele também foi ao coração do Saara para conhecer melhor os tuaregues, cuja cultura e língua estudou durante anos, tanto que escreveu o primeiro dicionário tuaregue-francês.
Ele era um homem de relação.
Um homem apaixonado pelo conhecimento de línguas. Um homem que tinha uma paixão pela cultura, por novas descobertas.
Ele morreu aos 58 anos na noite de 1 de dezembro de 1916, assassinado por um bando de saqueadores de passagem. É paradoxal que um homem, apaixonado pelo outro, tenha uma morte violenta.
A Igreja não reconheceu o martírio. Certo ou errado. Ele teve uma morte violenta, assassinado por um bando de saqueadores de passagem, mas não por martírio. Porque aquelas pessoas não foram até ele especificamente para matá-lo. Mas houve um primeiro milagre para sua beatificação e um segundo milagre para a canonização.
Sua canonização ocorre em um momento de guerra na Europa. O que o carisma de Charles de Foucauld tem a dizer hoje a uma Europa que queima sob o fogo das armas?
Quando Charles de Foucauld morreu, a Europa era dilacerada pela Primeira Guerra Mundial. Sua morte e sua canonização ocorrem, portanto, em dois momentos difíceis e paralelos de guerra na Europa. Mas se olharmos para o futuro santo hoje, retorna a sua mensagem de fraternidade que constantemente perpassou a sua vida retorna.
Charles de Foucauld é o emblema da fraternidade, mesmo nestes tempos sombrios de violência e armas.
E para mim esta é a mensagem hoje para a Europa.
Como, porém, podemos reapresentar esta mensagem de fraternidade a uma Europa armada?
Charles de Foucauld foi um militar que depôs as armas. Durante a sua vida, ele permaneceu em contato com soldados. Eles eram seus amigos, e até o ajudaram. Mas ele tinha feito outra escolha. Ele havia escolhido depor as armas para seguir o fogo de Deus e testemunhar o amor de Deus por todos. Este é o seu testemunho hoje. Ele morreu em uma Europa inflamada pela Primeira Guerra Mundial. Ele é canonizado em um tempo em que a guerra voltou como uma grave ameaça para a Europa.
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Charles de Foucauld. Dom Vesco (Argélia): "Emblema da fraternidade mesmo hoje, em tempos sombrios de guerra na Europa" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU