22 Fevereiro 2016
Ao episcopado americano Francisco deu o bom exemplo reagindo à provocação populista de Donald Trump, e o homem que queria fazer um enorme muro cinza ficou fora das fronteiras do cristianismo. Ao episcopado italiano, no entanto, Francisco deu, como bom exemplo, uma proibição explícita e detalhada: a proibição de "intromissão" em âmbitos nos quais os fiéis devem assumir suas responsabilidades. Proibição crucial nestas horas em que o debate parlamentar sobre as uniões civis procura sair da névoa abrasadora em que caiu.
O artigo é de Alberto Melloni, publicado por La Repubblica, 19-02-2016. A tradução é de Ramiro Mincato.
Se numa circunstância como esta, o Papa pessoalmente diz que não quer "intrometer-se" é porque deve pensar que alguém está se "intrometendo". Não acho que pensasse na gafe do Cardeal Bagnasco, que se prestava à instrumentalização e que foi represada pelo Secretário-Geral Galantino.
Em torno da questão das uniões civis, na verdade, encontraram-se em ação os antigos chefes do establishment wojtyliano e antigas atitudes. Quem diz que o cardeal Sepe convenceu o Cinco Estrelas a mudar o próprio voto na aula do Senado talvez só quisesse causar-lhe constrangimento. Quem diz que o cardeal Re tenha protestado pela falta de apoio da CEI ao Family Day, pode ter enfatizado um inócuo lamento.
E quem leu nas entrevistas do Cardeal Ruini sua oferta como mediador aposentado, pode ter exagerado o alcance de suas reivindicações. No entanto, é certo que quando o Monsenhor Galantino colocou uma prerrogativa constitucional delicadíssima, como aquela do recurso ao voto secreto, nas mãos do presidente do Senado e salvou a Igreja da acusação de não ter o sentido de Estado, não teve muita solidariedade.
Assim, o Papa deu um bom exemplo e foi para a raiz magisterial da tentação de "intromissão", que poderia reaparecer nos próximos dias cruciais: e recordou um documento da Congregação para a Doutrina da Fé, que no início do século XXI, pedia aos parlamentares católicos uma sujeição à autoridade eclesiástica sobre aqueles temas tidos como "não negociáveis".
Ou melhor, disse de "não se lembrar bem" de todo documento... Assim, educadamente, o recolocou em seu lugar na história do magistério das congregações romanas e se alinhou ao Catecismo para indicar a assimetria existente entre cônjuges heterossexuais e esponsalidade homossexual, da qual já falou muitas vezes.
Nos próximos dias, portanto, ninguém poderá usar aqueles instrumentos, de idade ratzingeriana, voltados a impedir uma mediação, que em matéria de uniões civis, é essencial não só para fazer uma boa lei, mas para fazer uma sociedade "boa": aquela em que cada um possa dar explicações diferentes dos mesmos direitos fundamentais e encontrar argumentos próprios para usar o mesmo respeito absoluto pela dignidade das pessoas.
O debate democrático, de fato, não é feito apenas de procedimentos, mas de intenções tornadas límpidas pelos procedimentos. Há aqueles que acreditam, por exemplo, que a discussão do projeto de lei sobre uniões civis seria mais simples se antes de discuti-la, por meio de moção ou outro instrumento processual (Dossetti faria usou o voto de orientação), se fizesse emergir a vasta maioria do Senado que não aceita a mãe de aluguel: seja que a procurem solteiros, heterossexuais ou homossexuais.
Isso consentiria, seja aos que são favoráveis, seja aos que são contrários, de aplicar as normas sobre adoção do filho do cônjuge atual para as pessoas unidas em matrimônio ao filho do cônjuge da união, sem empenhar o catolicismo como "marker" de correntes efêmeras e frágeis.
Mas, para chegar a solução deste tipo ou a qualquer compromisso "alto", é necessário que se expressem as "consciências formadas", para citar uma expressão usada pelo Papa em voo. Expressão técnica, porque implica que do seu operar, especialmente do seu operar nas instituições, a consciência responde somente a si mesma, porque é a pessoa na sua liberdade madura que tem a competência sobre a competência e não a incompetência sobre a incompetência.
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A lição de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU