06 Fevereiro 2016
A aproximação da Igreja à China e o Concílio pan-ortodoxo: uma dupla festa temática, e o tema é a comunhão como modo de ser.
A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 30-01-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Se, no paraíso, os profetas da comunhão têm uma varanda só para eles e, à sua frente, vastos horizontes para fixar o seu olhar descansado, hoje, essa varanda, está em festa. Por duas razões.
Uma parece pequena e, aparentemente, totalmente católica. A outra, enorme e, aparentemente, totalmente ortodoxa. Ambas dizem respeito àquela zona na fronteira entre política internacional e governo das Igrejas, onde as grandes almas do cristianismo se moveram com a leveza de quem tem os pés no chão, o olhar no céu e o coração que espera firmemente aquilo que tarda em vir.
A primeira razão de festa está na revista La Civiltà Cattolica nas bancas desde sábado. E é um artigo de um prelado chinês, Aloysius Jin Luxian. Nascido em 1916 e falecido em 2013, padre Jin viveu 27 anos de prisão. Jesuíta, reitor do seminário de Xangai, em 1985 foi consagrado bispo sem o mandato papal, que é garantia da comunhão com todo o episcopado.
Jin se tornava, assim, um bispo "ilegítimo", exposto as críticas daqueles que viam na China duas Igrejas e não dois tipos diferentes de testemunhas. Depois de 15 anos de ministério, Jin foi "reconhecido" por Roma e morreu em comunhão com o papa.
A publicação do seu artigo, portanto, é um ressarcimento: mas contém uma mensagem política e teológica. A sua assinatura, de fato, diz que, no tempo de Francisco, o catolicismo não vê na China um estranho com quem "dialogar", mas uma Igreja, que tem dignidade e dons necessários para a Igreja universal.
Além disso, a sua assinatura confirma que as negociações diretas iniciadas entre a República Popular e a Santa Sé, como confirma a conversa do papa com o embaixador da China há alguns dias, não estão indo mal.
Portanto – antes ainda da "viagem do papa a Pequim" que intriga a mentalidade católico-televisiva, animada com a ideia de uma filmagem de uma túnica branca sobre a Grande Muralha – estamos vendo amadurecer a comunhão de uma Igreja onde, amanhã, irão à missa o dobro de fiéis do que na Itália.
A segunda razão de festa na varanda dos profetas é a notícia de que, na quinta-feira passada, os patriarcas ortodoxos reunidos em Chambésy definiram a abertura do Concílio pan-ortodoxo para o dia 16 de junho deste ano. Primeiro concílio de todas as Igrejas hoje em comunhão com o patriarca ecumênico, depois do batismo da Rússia, o concílio será realizado na Grécia, em Creta; para evitar que as tensões entre Ancara e o Kremlin prejudiquem um compromisso que, meio século atrás, o Patriarca Atenágoras só pôde desejar e que agora está próximo, graças à santa paciência do Patriarca Ecumênico Bartolomeu I e à capacidade de Kyril, Patriarca de Moscou e de todas as Rússias, que permitiu que se superassem as tensões teológicas que pareciam intransponíveis.
No Concílio de Creta, portanto, estará toda a ortodoxia, os patriarcas e os metropolitas das diversas Igrejas ("autocéfalas", em grego) e, pela primeira vez na conciliaridade ortodoxa, os "observadores" das outras Igrejas cristãs (orientais, católicos, evangélicos, reformados, anglicanos etc.).
Quer os papas de Roma e de Alexandria vão, isso será o suficiente para dar ao Concílio pan-ortodoxo um selo "ecumênico", que amplifica as suas implicações políticas. Todas as Igrejas ortodoxas que habitam as terras hoje devastadas pela guerra viveram a fé, durante séculos, como minorias ao lado ou sob vários tipos de Islã.
Hoje, são Igrejas de perseguidos (como os dois metropolitas Yazigi e Gregorios Yohanna Ibrahim, sequestrados em 2013). São Igrejas de refugiados na América do Norte. Igrejas de "poucos", como dizia a arrogância católica. Mas são Igrejas que, com o Concílio, trazem ao mundo incendiado pela guerra a própria comunhão: e aqueles que acham que é pouco não conhecem a história.
Uma dupla festa temática; e o tema é a comunhão como modo de ser. Questão apenas aparentemente distante do tema do domingo passado (Family Day): que foi a manifestação de tantos conservadores e conservadores católicos que farão pesar a sua capacidade de dividir. Mas, se Deus não levou na devida conta o risco que corriam as Suas filhas e os Seus filhos homossexuais, nascidos em famílias "verdadeiras", passada esta festa e o seu poder numérico, essas famílias também terão que acertar as contas com a alteridade e a comunhão.
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As duas festas da Igreja. Artigo de Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU