Um vocabulário do Sínodo. Artigo de Alberto Melloni

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27 Outubro 2015

Publicamos aqui um "vocabulário" das palavras do Sínodo de 2015, escolhidas pelo historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII de Bolonha.

O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 26-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Sinodalidade

Sem modificar um único cânone, o Papa Francisco deu uma estatura inédita ao Sínodo dos bispos: mesmo tendo sofrido a ausência dos peritos teólogos que desde sempre alimentam cada conciliaridade, o Sínodo foi um órgão deliberante. E todos, hoje, o percebem como tal. Ele colocou novamente na agenda da Igreja – também das Igrejas nacionais e diocesanas – a sinodalidade como instrumento de comunhão. "A colegialidade episcopal se manifesta em um caminho de discernimento espiritual e pastoral" é um princípio operante.

Bispo

Não é verdade que o Sínodo disse para se abordar a questão dos divorciados recasados "caso a caso". Teria sido uma banalidade. Ele disse que o "bispo" é "pastor e cabeça" da sua Igreja e, portanto, "juiz". Por isso, os seus padres não são os terminais de ordens centrais, mas produtores da "discretio" com a qual devem "acompanhar" as pessoas "de acordo com o ensinamento da Igreja e as orientações do bispo". E é difícil imaginar que a orientação do bispo ou dos bispos de uma nação não nasça sinodalmente, para escutar não os quadros, mas as comunidades.

Universal

No Sínodo, há uma implícita mas seca reformulação da categoria de "universal". Não há um poder universal que é exercido em nome da "Igreja universal" (nunca citada) através do monarcato pontifício, guardião da doutrina e hermeneuta da natureza. Tudo foi deslocado para as comunidades. "Universal" é o adjetivo da fraternidade na família humana e da declaração "universal" dos direitos humanos.

Objetivo

Antes do Sínodo, em um livro-manifesto alarmado e alarmante, Ruini dissera que os divorciados estavam em uma "condição objetiva" de pecado. A bofetada do Sínodo é firme e implacável: ele diz que "o juízo sobre uma situação objetiva não deve levar a um juízo sobre a imputabilidade subjetiva", com muitas citações de um ato do cardeal Herránz do ano 2000. As implicações da tese de Ruini era muitas; as desta, ainda mais.

Gênero

O Sínodo abandona as polêmicas sobre as "teorias" do gênero. Ele denuncia uma "ideologia do gênero", que prospecta "uma sociedade sem diferenças de sexo" (denúncia tão extrema que não tem imputados e é politicamente inutilizável). Ele reconhece, contudo, que, "segundo o princípio cristão, alma e corpo, bem como sexo biológico (sex) e papel sociocultural do sexo (gender) podem ser distinguidos, mas não separados". Se não tivesse feito isso, a cristologia entraria em colapso.

Reino

"Cristo. A palavra e a atitude de Jesus mostram claramente que o Reino de Deus é o horizonte dentro do qual toda relação se define", diz o Sínodo. Contra aqueles que, há um ano, diziam que bastava repetir "a doutrina", Francisco mostrou que o trabalho do papa não é fazer repetições do catecismo, mas compreender mais a fundo as exigências e a graça do Evangelho. Uma "boa notícia" que supera as odiosas categorizações dos seres humanos em namorados, noivos, casados, quase casados, não casados, pré-casados, pós-casados, conviventes, divorciados etc.

Pessoas homossexuais

O Sínodo não chamou de amor aquilo que é vivido entre pessoas do mesmo sexo (mas reconheceu que, nas pessoas unidas pelo casamento civil e nas coabitações, pode haver "aqueles sinais de amor que propriamente correspondem ao reflexo do amor de Deus"). Mas disse que cada pessoa deve ser "respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito". Para alguns países, incluindo a Itália, isso já seria um progresso.