Por: André | 14 Outubro 2015
“Quem vazou isso busca apenas entorpecer o Sínodo”. O Pe. Federico Lombardi abordou a polêmica suscitada pelo vazamento de uma carta supostamente assinada por 13 cardeais (ao menos seis deles já voltaram atrás), uma informação que provocou “confusão” no ambiente, diante do que pede aos participantes para que não se deixem “perturbar” por este fato.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 13-10-2015. A tradução é de André Langer.
O clima do Sínodo dos Bispos sobre a Família segue sendo “positivo”, apesar do vazamento de “supostas” críticas de vários cardeais à metodologia do encontro que, no entanto, sim, causaram “confusão” entre os padres sinodais, segundo afirmou o Vaticano.
“Está havendo uma grande colaboração para que o Sínodo siga pelo bom caminho. O clima da assembleia é, sem dúvida, positivo”, afirmou na terça-feira o porta-voz da Santa Sé, o Pe. Federico Lombardi, durante uma entrevista coletiva.
Lombardi acredita que o vazamento da “estranha carta” enviada ao Papa Francisco e assinada supostamente por vários cardeais conservadores que criticam a metodologia do Sínodo procura apenas “entorpecer” os trabalhos da assembleia eclesial. “Quem vazou isso busca apenas entorpecer o Sínodo”, precisou.
O porta-voz do Vaticano também disse que “não surpreende” o fato de que se façam observações sobre a metodologia. Mas precisou que, uma vez estabelecida, deve ser respeitada. Em qualquer caso, Lombardi esclareceu que “nem o texto nem as assinaturas publicadas correspondem ao documento recebido pelo Papa”.
A carta, publicada na segunda-feira 12 de outubro pelo vaticanista italiano Sandro Magister, evidencia o descontentamento de alguns cardeais com a assembleia eclesial convocada pelo Papa para encarar os desafios da família moderna.
“A ausência de propostas e das correspondentes discussões e votações parece desencorajar um debate aberto e limitar as discussões aos círculos menores. Por conseguinte, parece-nos urgente que se restabeleça a redação de propostas que deverão ser votadas por todo o Sínodo”, observam os cardeais.
A autenticidade da carta foi questionada depois que vários cardeais negaram que a tivessem assinado. No entanto, o prefeito da nova Secretaria de Economia, o cardeal George Pell, afirmou que confirma a existência do documento escrito ao Papa, embora negue que o conteúdo que foi publicado seja o mesmo que foi entregue ao Papa. Em declarações ao jornal La Repubblica garantiu que “as assinaturas estão erradas”, mas que, “acima de tudo”, é o conteúdo que está errado.
“A maior parte do conteúdo não corresponde. Não sei por que isso aconteceu e quem a vazou assim”, lamentou Pell. Alguns especialistas classificaram a questão como um ataque à legitimidade da direção tomada pelo Papa e como um ataque direto ao Pontífice.
Dos doze supostos assinantes, quatro cardeais negaram rotundamente que a tivessem assinado, como o arcebispo de Milão, o cardeal Angelo Scola, ou o arcebispo de Paris, o francês André Vingt-Trois. A carta – escrita em inglês – foi entregue a Francisco durante a abertura do Sínodo, em 05 de outubro, e os cardeais manifestavam abertamente seu medo de que o Sínodo acabe aceitando a comunhão para os divorciados casados novamente pelo civil.
Além disso, criticavam o fato de que o Papa tenha nomeado um grupo de prelados próximos a ele para a redação do documento final e cuja votação não tenha sido submetida à votação.
O Papa pediu, na semana passada, aos participantes do Sínodo para que não caíssem “em teorias conspiratórias” e que não cedessem “à hermenêutica conspirativa, que é sociologicamente fraca e espiritualmente não ajuda”, segundo informou através da sua conta no Twitter o padre jesuíta Antonio Spadaro, um dos mais de 340 participantes do Sínodo.
O Sínodo dos Bispos, que reúne mais de 330 pessoas no Vaticano até o próximo dia 25 de outubro para debater sobre a família, ressaltou a beleza da família e o uso dos métodos naturais anticoncepcionais.
Foi o que relatou a ruandesa Thérèse Nyirabukeye, consultora e formadora da Federação Africana de Ação Familiar, que detalhou sua experiência ajudando as famílias de Ruanda.
Nyirabukeye explicou que muitos formadores colegas seus lhe haviam pedido que comunicasse ao Sínodo que “apreciam enormemente a beleza da família e os métodos naturais”.
Na tradicional coletiva de imprensa depois das sessões de debate do Sínodo, da qual participaram duas mulheres, estas evidenciaram que o gênero feminino se sente “ouvido” e “reconhecido” pelos bispos. No Sínodo participam 30 mulheres, 18 das quais intervêm junto com seus maridos para aconselhar os padres sinodais sobre a pastoral familiar. “Como mulher estou contente de participar e de poder dar a minha contribuição no Círculo Menor”, destacou Nyirabukeye.
Moira Mcqueen, diretora do Instituto Católico de Bioética do Canadá, disse, por sua vez, que os padres sinodais as animaram em todos momentos para participar e expressar seu ponto de vista. “Não é apenas uma sensação. As conclusões ao final do dia mostram que nos ouviram”, explicou.
Neste sentido, manifestou que não sentiu nenhum tipo de discriminação, nem diferença por ser mulher e destacou “a democracia” que se respira no Sínodo. “Quando os ouvintes (ou auditores) têm a oportunidade de falar, creio que o processo é democrático. Isto é muito positivo”, assinalou.
Sobre o ritmo de trabalho nas sessões do Sínodo, o padre Jeremias Schröder, O.S.B., arquiabade presidente da Congregação Beneditina de Santa Otília, Equador, disse que o ambiente é de serenidade e que “os Circuli Minores (os grupos linguísticos) permitem que os membros se conheçam e trabalhem mais próximos, com tenacidade e paciência”.
“É necessário uma certa consciência histórica sobre as mudanças que houve na doutrina do matrimônio”, disse o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé e diretor da nossa rádio, o Pe. Federico Lombardi, S.J., na coletiva de imprensa da segunda-feira, 12 de outubro. Entre alguns temas tratados com os jornalistas sobressaíram o da publicação da Relatio finalis, a carta escrita por 13 cardeais, o acompanhamento da Igreja dos separados recasados, a preparação para o sacramento do matrimônio e os processos de nulidade matrimonial.
Das 43 intervenções na Aula Sinodal sobre a terceira parte do Instrumentum Laboris, o porta-voz da Santa Sé ressaltou a importância da evolução do caráter disciplinar e doutrinal do matrimônio apresentado pela maioria dos grupos linguísticos: “uma questão importante refere-se às numerosas intervenções sobre os ensinamentos da Igreja e da teologia sobre as questões do matrimônio e do sacramento do matrimônio sobre a doutrina não absolutamente fixa, isto é, necessita-se de uma certa consciência histórica das mudanças que houve ao longo dos séculos, sobre os temas dos quais estamos falando de caráter disciplinar ou doutrinal”.
Neste sentido, é necessário recordar que a questão em debate não é “a unidade e a indissolubilidade do vínculo matrimonial”, já que este é uma demonstração da graça de Deus e da capacidade do homem de amar seriamente.
A indissolubilidade do matrimônio (“O que Deus uniu o homem não separa” – Mt 19, 6), não deve ser entendido como um “jugo” imposto aos homens, mas como um “dom” concedido às pessoas unidas em matrimônio. Por isso, a indissolubilidade representa a resposta do homem ao desejo profundo de amor mútuo e duradouro: um amor “para sempre” que é uma eleição e uma doação de cada um dos cônjuges ao outro, do casal a Deus mesmo e a quantos Deus lhes confia. Nesta perspectiva, deve-se ter em conta a sensibilidade do nosso tempo e as efetivas dificuldades para manter os compromissos para sempre, sobretudo nos jovens.
O Pe. Lombardi assinalou, além disso, a importância de uma “certa consciência histórica das mudanças que houve ao longo dos séculos” sobre a doutrina do matrimônio. Isto só se pode compreender à luz da pedagogia divina, isto é, tendo presente que tudo é determinado pela orientação a Cristo. É preciso distinguir, sem separar, os diversos graus mediante os quais Deus comunica à humanidade a graça da aliança. Porque a ordem da criação evolui na ordem da redenção mediante etapas sucessivas, é necessário compreender a novidade do sacramento nupcial cristão em continuidade com o matrimônio natural das origens. Assim, aqui se entende o modo de agir salvífico de Deus, tanto na criação como na vida cristã.
Por isso, a Igreja tem a vocação de buscar e curar a humanidade ferida, os casais feridos, mantendo as portas abertas, acolhendo a quem bate à porta e caminhando junto com a humanidade para conduzi-la à fonte da salvação, sendo uma Igreja em saída. Trata-se de um caminho de fé no qual “pastoral e teologia” não podem estar separadas. Pelo contrário, é necessário que pensamento (reflexão teológica) e ação (pastoral) caminhem juntos para enfrentar os desafios e urgentes interrogações que a cultura hodierna coloca às famílias.
O bispo auxiliar de Bahía Blanca, Argentina, dom Pedro Laxague, explica à Rádio Vaticano a relevância do Sínodo e da família. A entrevista foi feita pelo jesuíta Guillermo Ortiz.
“É um fato muito importante e ansiosamente aguardado. É a primeira fez que um Sínodo toca uma realidade que interesse a tantos dentro e fora da Igreja. E creio que a família é o coração da humanidade, então este Sínodo tem uma importância muito maior do que outros Sínodos fora da Igreja, em toda a comunidade humana, e isso nos dá muita alegria e creio que está muito presente”.
“Há muita dificuldade na família hoje, sobretudo, no plano social, econômico, as dificuldades da vida diária, cotidiana que tem toda família e a Igreja quer mostrar sua proximidade, quer mostrar a esperança. Eu creio que o cristão tem que olhar muito para este bom Deus que quer estar presente na família, que quer ajudá-lo, que não o deixa sozinho”.
“Talvez a família esteja um pouco deixada à sua própria sorte inclusive entre as famílias cristãs. E queremos mostrar que não é assim, que não tem que ser assim, para que nos sintamos todos apoiados. O mundo é difícil, mas Deus é muito maior, muito mais bondoso do que tudo o que pode acontecer aqui. Temos que buscar essa força, esse apoio, essa alegria de ser família, essa força que ela tem. Estamos falando muito da força que a família tem. Creio que é um momento positivo de reflexão sobre a família, para que tome consciência dos valores e de todas as qualidades que ela tem”.
“Isto é um colocar-nos em marcha, descobrir a força da família, tê-la mais presente na própria Igreja; a família é fundamental na Igreja. Jesus nasceu em uma família, apostou fortemente na família. Toda a Bíblia fala da família e creio que é um bom momento para valorizá-la”.
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Lombardi pede aos participantes do Sínodo para que não se deixem “perturbar” pela “estranha carta” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU