06 Outubro 2015
Na relação incial do Sínodo que começou no domingo, no Vaticano, apresentada pelo cardeal Erdo, arcebispo de Budapest, uma afirmação notável, que lida e bem compreendida trará grandes consequências também para a pastoral da Igreja católica, e nas suas relações com a sociedade contemporânea e com as instituições.
O comentário é de Gianni Gennari, teólogo e jornalista, em artigo publicado no jornal La Stampa-Vatican Insider, 06-10-2015.
Cito do ca´p. II.7: "A Igreja, é preciso recordá-lo, sempre reconheceu a existência de um verdadeiro matrimônio natural entre dois não batizados. Desde o início da humanidade tais alianças entre um homem e uma mulher que correspondiam ao plano criador de Deus eram e são abençoadas (Gen 1, 27-28). Entre os verdadeiros matrimônios, por isso, também hoje no mundo há muitíssimos naturais, entre não batizados, e outros sacramentais contraídos entre batizados que comportam uma graça especial (cf. Instrumentum Laboris, no. 57): "A seriedade da adesão a este projeto e a coragem desta requerem que sejam apreciadas de modo especial nos dias de hoje".
Leia e pense: Se Deus abençoou, por sua parte, as alianças entre um homem e uma mulher que correspondiam ao plano criador, e os abençoa também hoje! Portanto, tais alianças, sérias, livres, responsáveis, são 'verdadeiros matrimônios", também no desígnio de Deus e deve ser reconhecidas e valorizadas na sociedade e também pela Igreja. O matrimônio sacramento é o que se dá entre batizados e crentes que o escolhem livremente, mas um verdadeiro matrimônio é também aquele - que Deus do alto abençoa porque corresponde ao seu plano criador desde o início - entre dois não batizados.
A afirmação é forte e significativa. Ou seja, Deus não abençoará também uma aliança entre um homem e uma mulher, ambos batizados, mas que depois, por tantas razões se consideram não crentes?
Então, quem na Igreja poderá dizer que esta aliança, séria, consciente, livre, não é um "verdadeiro matrimônio"?
Já se vão transcorridos 60 anos quando o bispo de Prato, D. Fiordelli - que era um santo homem - afixou na porta da catedral um decreto que declarava "concubinos públicos" dois cidadãos: ela era presidente da Associação católica diocesana e ele era um dos dirigentes do então PCI, que que se casaram no civil. Era ou não, verdadeiro casamento? Ou o fato de que um dos dois ou ambos, tivessem sido batizados lhes tirava o valor de um verdadeiro matrimônio, abençoado também este por Deus criador?
Se se leva a sério as palavras de Erdo torna-se dificil crer que o Batismo, nos fatos, seja como uma espécie de maldição, que automaticamente tira o valor a um verdadeiro matrimônio e o transforma num simples concubinato... E portanto, também as assim chamadas "uniões de fato" entre um homem e uma mulher, podem ser um "verdadeiro matrimônio"!
Pensando bem, esta afirmação do cardeal Erdo, proferida tranquilamente no Sínodo, tem ou pode ter um grande significado libertador para tantas coisas, de Igreja, mas também de Estado... Eis o que pode significar uma Igreja que "não fecha nunca as suas portas", que está sempre em saída e sinal de Misericórdia, aquela "misericórdia" encarnada em Cristo, e que os seus discípulos deveriam sempre anunciar, sem a qual o que alguns chamam de justiça - como disse ontem Francisco - é realmente uma injustiça! Talvez também um belo início, para este Sínodo!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O início do Sínodo e os casamentos naturais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU