Por: André | 18 Mai 2015
Após discurso de Humala, a mineradora mexicana Southern Copper anunciou que suspenderá seu projeto por dois meses numa tentativa de frear os protestos na Província de Islay, que em mais de 50 dias deixou um saldo de três mortos e mais de 200 feridos.
A reportagem é publicada por Página/12, 17-05-2015. A tradução é de André Langer.
Organizações sociais e civis de sete regiões do sul do Peru convocaram, no sábado passado, uma greve de 48 horas para os dias 27 e 28 deste mês, em protesto contra o projeto de mineração Tia Maria, da Southern Copper, filial do Grupo México. Os dirigentes se reuniram no sábado durante mais de quatro horas para analisar as medidas a serem tomadas depois que a Southern anunciara, no sábado, que faria uma “pausa” de dois meses na implantação do projeto para conversar com seus opositores.
Ao final da reunião, os representantes formaram um comitê de luta e convocaram uma “greve macrorregional” em Arequipa, Cuzco, Tacna e Puno, à qual se juntarão com mobilizações representantes de Apurimac, Ayacucho e Cajamarca, informou a rádio RPP Noticias. Os protestos, assinalaram, também serão realizados em repúdio à gestão do presidente Ollanta Humala e pode converter-se em uma greve indefinida a partir de junho próximo.
Após o anúncio da Southern, que tentou frear os protestos na Província de Islay contra o projeto mineiro, que em mais de 50 dias deixou um saldo de três mortos e mais de 200 feridos, essa localidade se manteve em calma embora com as principais vias de acesso bloqueadas.
A imprensa local informou que em Cocachara, o centro dos protestos contra o projeto, parte do comércio voltou a funcionar e não houve confrontos com as forças de segurança. Moradores de Cocachara consideram que o projeto mineiro pode afetar sua agricultura e contaminar a cidade.
O procurador do Ministério do Interior, Juan Carlos Portocarrero, também informou no sábado que a prisão do dirigente Pepe Julio Gutiérrez, o principal promotor dos protestos, foi ampliada para sete dias, enquanto é investigado pela acusação de ter pedido dinheiro à mineradora para acabar com os protestos. Os protestos na Província de Islay, às quais na última semana se somaram manifestações em Arequipa e em Lima, frearam temporariamente o projeto de mineração do Grupo México, questionado pelos defensores da agricultura no Peru.
A Southern planeja investir 400 milhões de dólares na construção de Tia Maria, cuja produção estimada é de 120 mil toneladas métricas anuais de catodo de cobre a partir do início de suas operações.
Humala descartou no sábado que o Executivo vá romper o projeto de maneira unilateral, porque considerou que seu país corre o risco de ser denunciado em tribunais internacionais. “Peço à empresa encarregada pelo projeto Tia Maria para que manifeste sua vontade e execute ações concretas para gerar as bases do entendimento requeridas para obter a paz social e o desenvolvimento”, disse Humala em uma mensagem veiculada pela televisão. Em sua mensagem, o presidente descartou a suspensão do projeto. “Não se pode suspender o que não foi iniciado”, disse, recordando que Tia Maria ainda não começou a ser construída, mas que se espera que entre em operação em 2017. “O Estado não pode adotar uma decisão unilateral que não esteja contemplada no marco da lei, porque uma decisão arbitrária o exporia a demandas internacionais por descumprimento”, acrescentou, para depois deixar a bola no campo da Southern.
A companhia acusou imediato recebimento da mensagem e, através de um comunicado, fez um apelo à paz e pediu uma “pausa” para buscar soluções para o conflito. “Solicitamos o tempo e as facilidades necessárias para poder socializar o projeto e dissipar todas as dúvidas existentes nos próximos 60 dias”, disse o presidente executivo da Southern Peru, Oscar González Rocha, no documento. No Peru, segundo maior produtor mundial de cobre, a mineração é fundamental para o seu crescimento econômico.
Em sua mensagem de quinta-feira, 14 de maio, Humala reiterou que Tia Maria “cumpre com os requisitos exigidos pela lei”, mas estas explicações não foram suficientes para os moradores, que se opõem ao projeto avaliado em 1,4 bilhão de dólares. Humala assegurou que o envio de tropas policiais e militares à zona em conflito não é para defender “interesses individuais ou de uma empresa em particular, mas o estado de direito, a estabilidade jurídica, o marco legal do país e as condições para a boa convivência”.
Para ajudar na contenção dos protestos, o governo enviou a Islay, no sábado passado, um contingente das forças armadas, enquanto avalia a possibilidade de decretar estado de emergência que permitirá aos militares tomar o controle da zona. “As pessoas estão esperando a suspensão do projeto (...). Não sei o que vai acontecer em Arequipa (...). Nestas condições, que causaram tanto sofrimento material e físico, este projeto não vai para frente, está morto”, disse, por sua vez, o dirigente do movimento ambientalista Terra e Liberdade ao Canal N.
Os protestos contra a indústria de extração de recursos naturais se intensificaram no Peru a um ano das eleições gerais.
Segundo a Defensoria Pública, até março foram contabilizados 211 conflitos sociais. Destes, quase 67% são socioambientais.
A chamada ao entendimento por parte do presidente ocorre em um momento em que um importante dirigente vinculado aos violentos protestos contra Tia Maria foi preso. Trata-se de Pepe Julio Gutiérrez, presidente da Frente de Defesa do Vale do Tambo, acusado de extorsão, resistência à autoridade e associação ilícita para a delinquência.
Segundo a denúncia, Gutiérrez teria pedido dinheiro para terminar com os protestos contra o projeto iniciado em 23 de março e que deixaram, até o momento, um saldo de dois civis e um policial mortos, dezenas de feridos e prejuízos. A denúncia apóia-se sobre uma conversa gravada.
O governo quer ampliar a detenção para incluir o crime de homicídio, por conta da morte de um policial nos protestos, que foi atacado com uma corrente por manifestantes. Segundo reportagens da imprensa local, Gutiérrez qualificou de “injusta” sua detenção e responsabilizou o presidente Humala pelo fato.
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Os protestos contra os projetos de mineração colocam Humala em xeque - Instituto Humanitas Unisinos - IHU