11 Março 2015
Minimizar as mudanças climáticas é uma “questão de justiça para todos” e requer uma cooperação global, disse na sexta-feira o enviado vaticano às Nações Unidas.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 06-03-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Ninguém está isento nem dos impactos da mudança climática nem da nossa responsabilidade moral em agir, em solidariedade, uns com os outros no sentido de resolver esta preocupação mundial”, disse Dom Silvano Tomasi, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, em Genebra.
Os comentários do religioso foram feitos durante a 28ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, em um dia inteiro de discussão sobre os direitos humanos e as mudanças climáticas.
“A solidariedade com os países e povos mais vulneráveis que estão vivenciando o impacto das mudanças no clima de uma maneira mais acentuada e imediata impele-nos a contribuir para melhorar a situação deles e defender o seu direito ao desenvolvimento. A pobreza e as mudanças climáticas estão, hoje, intimamente ligadas”, disse.
A relação entre a pobreza e as mudanças no clima também foi acentuada pela representante da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, Gina McCarthy, durante uma reunião que teve, em janeiro, com autoridades vaticanas, bem como o fez o quinto relatório de avaliação produzido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU.
O arcebispo citou estatísticas que estimam que 600 milhões de pessoas vão enfrentar desnutrição como resultado das mudanças no clima, com índices particularmente altos no sul da Ásia e na África subsaariana. Além disso, falou que o 1 bilhão de pessoas, segundo estimativas, que vive em favelas urbanas, encostas frágeis e margens de rios sujeita a inundações – todas as áreas vulneráveis à elevação do nível do mar e ondas de tempestades – tem o “direito humano à moradia adequada”.
O discurso de Tomasi é a mais recente declaração do Vaticano sobre o problema das mudanças climáticas. O Papa Francisco afirmou que pensou o momento para a publicação de sua encíclica sobre o meio ambiente – que provavelmente irá abordar este assunto – de tal forma que ela possa ser discutida antes da próxima rodada de negociações sobre o clima na ONU, a acontecer em Paris no mês de dezembro.
“Existe uma falta de coragem”, disse o papa aos jornalistas em janeiro deste ano sobre as negociações de Lima, Peru. “Esperemos que em Paris [os negociadores] sejam um pouco mais corajosos”.
A encíclica deve ser lançada em junho ou julho.
Tomasi descreveu as negociações sobre o clima a ocorrer em Paris como uma ocasião que oferece uma “significa oportunidade para se tomar duas decisões éticas”: em primeiro lugar, que todos os países se comprometam em reduzir as emissões de gás carbono a um nível mínimo “a fim de evitar uma interferência antropogênica perigosa no sistema climático” e, em segundo lugar, que financiarem medidas de adaptação, tais como o Fundo Verde para o Clima, de forma que auxiliem os países e povos que enfrentam os maiores perigos.
“Enquanto a ciência continua a pesquisar todas as implicações das mudanças climáticas, a virtude da prudência nos chama a assumirmos a responsabilidade de agir tendo em vista a redução dos prejuízos potenciais, em particular junto àqueles indivíduos que vivem na pobreza, os que vivem em regiões muito vulneráveis ao impacto climático e as futuras gerações”, disse o arcebispo.
O primeiro prazo para que os países enviem seus planos para a redução das emissões de gás carbono – um resultado do Acordo de Lima alcançado em dezembro passado e impulsionado por promessas feitas diante das negociações internacionais pelos EUA, China e União Europeia – termina em março. Um segundo prazo vai até junho.
Juntos, estes compromissos servirão como base de um potencial acordo internacional para enfrentar as mudanças climáticas a ser assinado pelos líderes mundiais em Paris.
Em sua fala, Tomasi ressaltou que o novo acordo inclui medidas vinculativas e repousa na ideia de que “a mudança climática é, de fato, uma questão de justiça para todos”.
“Tanto os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento têm a responsabilidade de proteger: eles constituem a família humana desta terra com a obrigação igual de administrar e proteger a criação de maneira responsável, garantindo que as nossas futuras gerações encontrem um mundo que permita a eles florescerem”, disse.
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Enviado papal às Nações Unidas: Mudança climática é “uma questão de justiça para todos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU