15 Dezembro 2014
Francisco não irá se encontrar com o Dalai Lama, que chegou a Roma nessa quinta-feira para a cúpula dos Prêmios Nobel da Paz. A Sala de Imprensa vaticana confirmou que o papa irá enviar uma mensagem para os participantes e explicou que Bergoglio alimenta sentimentos de "estima" pelo líder budista tibetano, mas não haverá audiências nem para ele, nem para os outros prêmios Nobel.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 12-12-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Qual é o motivo para não haver a audiência pedida pelo Dalai Lama? Foi o próprio líder budista que revelou o que lhe foi respondido: "Não é possível, porque se poderiam criar alguns inconvenientes".
É evidente que os possíveis "inconvenientes" dizem respeito à relação entre a Santa Sé e o governo de Pequim, em um momento muito delicado ou, melhor, crucial, que viu chegar sinais de diálogo e de abertura nas últimas semanas do ex-Celeste Império.
O Dalai Lama tornou-se, apesar dele mesmo e para além das suas intenções, uma figura no centro de uma polêmica política. A diplomacia vaticana busca, na medida do possível, não tomar medidas que aumentem a instabilidade em situações já por si complicadas. Nem tomar decisões cujas consequências sejam pagas por outros, neste caso, pelos católicos chineses.
O papa não é o líder de uma "superpotência" espiritual que se defronta com as superpotências terrenas, mas olha para a realidade concreta da minoria cristã que vive na China.
Desde os tempos de Mao Tsé-tung, as relações diplomáticas entre Pequim e a Santa Sé estão interrompidas. Há anos, está em curso um diálogo, muitas vezes complicado: o Vaticano tenta explicar que não tem objetivos políticos nem quer ser retratado como um agente religioso que apoia os interesses ocidentais.
O que está em jogo é a possibilidade de chegar a um acordo sobre a nomeação dos bispos, que elimine para sempre a possibilidade de ordenações que não estejam em comunhão com o bispo de Roma.
O fato de levar em conta as possíveis consequências para as comunidades locais dificilmente é compreendido por aqueles que criticam a Santa Sé pelos seus silêncios ou compromissos, ou talvez peçam com insistência condenações nominais do "malvado" de plantão, às vezes, instrumentalizando para os seus próprios fins até mesmo os sofrimentos dos cristãos perseguidos.
Por fim, também não se deve esquecer que, depois de um primeiro encontro de forma estritamente privada em outubro de 2006, em outras duas vezes – em 2007 e depois em 2009 –, por ocasião das visitas romanas do Dalai Lama, o Papa Bento XVI também optou por adiar a audiência, como fez agora o seu sucessor.
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Papa e Dalai Lama: as razões para o desencontro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU