12 Dezembro 2014
Por enquanto, não há nada a fazer, melhor esperar. O encontro entre Francisco e o Dalai Lama terá que esperar por tempos melhores. E assim, salvo surpresas de última hora, o que é sempre possível, a via diplomática, neste momento, continua sendo a única opção possível.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 11-12-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O pontífice, embora alimentando sentimentos de amizade pela mais alta autoridade espiritual do budismo tibetano, viu-se obrigado a renunciar a uma audiência, mesmo que de caráter privado.
No fundo dessa sofrida decisão, estão cenários complexos que dizem respeito às relações acidentadas entre o governo de Pequim e a pequena minoria católica chinesa, uma realidade em contínuo crescimento e submetida a diversas fases atribuladas, que começaram quando Mao decidiu interromper as relações diplomáticas com a Santa Sé, expulsando o então núncio apostólico.
Desde então, houve uma sucessão de mensagens oblíquas, de tímidas aberturas, de separações, de marchas à ré e até mesmo de despeitos, como quando, em diversas ocasiões, o governo comunista decidiu realizar nomeações episcopais sem o placet do papa. Nomeações defendidas pela Associação Patriótica que, ainda hoje, continua em aberto conflito com o Vaticano.
Nos últimos dez anos, no entanto, a Ostpolitik dos pequenos passos levou a um progressivo reconhecimento dos bispos "ilegítimos", tanto que hoje a maioria dos bispos católicos da China estão em comunhão com Roma. Um quadro fluido e muito delicado.
Com a chegada do Papa Francisco, a situação deixou entrever a possibilidade de soluções positivas a serem exploradas. Recentemente, por exemplo, um jornal de Hong Kong, considerado expressão do governo chinês, falou de negociações em curso, de encontros preliminares, de missivas secretas que chegaram ao seu destino através de emissários de confiança.
Futuro
À espera de entender qual será o próximo passo, a Santa Sé parece proceder com a devida cautela e diplomacia. Por isso, o Papa Bergoglio e o Dalai Lama se verão em outra ocasião, não agora, mesmo que o líder dos budistas tibetanos esteja de passagem e manifestou o desejo de uma audiência papal.
O Dalai Lama participará da cúpula dos Prêmios Nobel da Paz, entre os dias 12 e 14 de dezembro. Só faltará ao encontro Desmond Tutu, por causa da sua saúde precária. Em Roma, há muito expectativa pelo evento.
Inicialmente, ele deveria ser realizado na Cidade do Cabo, na África do Sul, para lembrar Nelson Mandela, mas quando circulou o rumor de que a África do Sul, sob pressão da China, não concederia o visto de entrada ao Dalai Lama, aconteceu o tumulto.
Diversos prêmios Nobel, incluindo Jody Williams, fundador da campanha internacional contra as minas terrestres, e a iraniana Shirin Ebadi avisaram a organização que não participariam por solidariedade e por protesto.
A transferência para Roma da 14ª Cúpula Mundial de Prêmios Nobel foi a direta consequência dessa bagunça. O Papa Francisco, assim, se viu lidando com um dilema.
Em virtude da paridade de condições, ele avisou que não dará audiência nem mesmo aos outros Prêmios Nobel, embora enviará à cúpula um dos seus cardeais de confiança, o africano Appian Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, ao qual confiou uma mensagem afetuosa.
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Francisco diz não ao Dalai Lama: por enquanto, nada de encontro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU