09 Outubro 2014
O consistório era uma das instituições colegiais de governo da Igreja até a primeira Idade Moderna e foi revogado no início do século XVII. O Papa Francisco o está reanimando – junto com as Conferências Episcopais nacionais, o Sínodo dos bispos e o novo "Conselho dos nove cardeais" por ele criado quatro semanas depois da sua eleição como papa.
A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Minnesota, nos EUA. O artigo foi publicado no sítio TheHuffingtonPost.it, 08-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Debate a portas semifechadas. A coletiva de imprensa do segundo dia confirmou que é um debate a portas fechadas, ou seja, não é uma transmissão ao vivo, e os participantes não podem tuitar da Aula. O padre Lombardi, os outros dois porta-vozes, Rosica e Tamayo, e os cardeais Nichols e Rai fizeram um resumo das 70 intervenções das 24 horas anteriores, mas sem dizer quem disse o quê.
Mas o padre Lombardi especificou que os padres sinodais são livres para falar com os jornalistas: em outras palavras, o Sínodo não é um conclave, é a portas fechadas, mas não é secreto. São conhecidas as posições de alguns cardeais e bispos antes da abertura do Sínodo, mas não de todos os outros, até que estes comecem a falar com os jornalistas.
Há quem veja nessas coletivas de imprensa depois do almoço, sem relatos das intervenções, apenas um simpático minueto midiático curial. Mas há posições diversas na Aula, e elas podem ser vistas. O episcopado alemão, pela boca do cardeal de Munique, Marx, tomou uma posição unânime atrás do cardeal Kasper. Será interessante ver se os norte-americanos farão um jogo de equipe no Sínodo como fizeram no pré-conclave de março de 2013, e se outras nações farão um jogo de equipe (ou outros grupos, como os cinco jesuítas que estão no Sínodo, ou os orientais, ou por continentes).
O Sínodo impulsiona um renascimento do Consistório?
A notícia importante do 7 de outubro está às margens do Sínodo: a convocação por parte do papa de um consistório dos cardeais para o dia 20 de outubro para discutir Oriente Médio, depois que, na semana passada, Francisco recebera os diplomatas vaticanos em missão naquela parte do mundo. A notícia é importante porque deixa claro que o martírio dos cristãos orientais diz respeito a toda a Igreja, mas também porque o consistório do dia 20 de outubro será o segundo dedicado a um tema específico no prazo de oito meses, depois daquele de 20 de fevereiro.
O consistório era uma das instituições colegiais de governo da Igreja até a primeira Idade Moderna e foi revogado no início do século XVII. O Papa Francisco o está reanimando – junto com as Conferências Episcopais nacionais, o Sínodo dos bispos e o novo "Conselho dos nove cardeais" por ele criado quatro semanas depois da sua eleição como papa.
A dinâmica papa-assembleia
Já no Vaticano II, a assembleia dos bispos interagia com o papa e com as decisões tomadas pelo papa, e isso está acontecendo novamente hoje: as homilias cotidianas do papa, os anúncios das viagens (França em 2015) e de outras convocações (o consistório de 20 de outubro). São mensagens que o papa e a assembleia se enviam: não é um papa que está olhando, mas contribui com a dinâmica do Sínodo. Resta saber como o papa irá interagir com as várias vozes do debate, também com aquelas que veem na convocação do Sínodo sobre o matrimônio uma medida arriscada.
O matrimônio espinha no flanco
Por mais que a Igreja Católica (quase sempre) tenha isto o matrimônio como um dos elementos essenciais da vida dos leigos cristãos, a "gestão" por parte do governo da Igreja desse sacramento particular (que a Igreja recebe, mas são os esposos que celebram) sempre foi complicada.
As questões matrimoniais sempre engolfaram a burocracia da Cúria Romana, com mais dicastérios com o bbjetivo de se ocupar com a mesma questão (nulidade matrimonial, dispensas etc.). Já era tão complicada no início do século XX que o Papa Pio X, em 1906-1907, pensou em criar uma "Congregação do Matrimônio" especial: mas não deu em nada.
Do Sínodo ao Concílio e de volta
Uma das passagens mais interessantes do relato do Pe. Lombardi nessa terça-feira foi a comparação entre a descoberta por parte dos bispos da "gradualidade" no caminho dos cristãos rumo à vocação matrimonial (também através de períodos de coabitação pré-matrimonial e matrimônios de fato, não sacramentais) e o modo pelo qual o Vaticano II, em 1962 -1965, finalmente descobriu que existem "elementos de Igreja", ou seja, elementos de valor teológico até mesmo nas Igrejas não católicas.
Trata-se da famosa passagem do "subsistit it" no parágrafo 8 da Constituição Lumen gentium, umas das passagens mais importantes de todo o Vaticano II. Ver o porta-voz do papa repescar a Lumen gentium no. 8 deve ter feito estremecer aqueles (poucos, mas importantes) cardeais e teólogos que, nos últimos anos, haviam feito de tudo para tentar fazer com que se esquecesse esse texto.
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Sínodo: segundo dia abre com o anúncio de debate sobre o Oriente Médio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU