Por: André | 25 Julho 2014
Enquanto o Papa Francisco enfrenta, do Vaticano, a crise pelos abusos sexuais de menores cometidos por sacerdotes, outro escândalo o preocupa longe de Roma: o de uma guerra entre bispos na Igreja católica do Paraguai.
Fonte: http://bit.ly/1t0iSiz |
A reportagem está publicada no sítio da BBC Mundo, 23-07-2014. A tradução é de André Langer.
Esta semana, um enviado especial do Papa, o cardeal espanhol Santos Abril y Castelló, realiza uma rara visita ao país que é interpretada como uma avaliação no terreno da situação da diocese de Ciudad del Este, onde trabalha há nove anos um sacerdote argentino acusado de abusos sexuais.
Abril y Castelló é arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, cargo que assumiu em 2011 em substituição a Bernard Francis Law, cardeal estadunidense acusado de encobrir sacerdotes pederastas enquanto era arcebispo de Boston.
À missão se somou também o uruguaio Milton Luis Tróccoli Cebelio, bispo auxiliar de Montevidéu.
Investigação sobre abusos
Um dos focos de tensão na Igreja do país é a presença no Paraguai do padre Carlos Urrutigoity (foto), que foi acusado, em 2002, por um estudante da Academia Saint Gregory, Pensilvânia, Estados Unidos, de assédio sexual.
O arcebispo de Assunção, Pastor Cuquejo, sugeriu em junho a abertura de uma investigação para esclarecer as acusações contra o padre argentino, algo que foi rapidamente rechaçado pelo bispo de Ciudad del Este, Rogelio Livieres, que defende sua inocência.
“Não há acusações de pedofilia, salvo uma repetição de calúnias das partes interessadas. A verdade é que não foi acusado de pedofilia por nenhuma vítima. Também não houve, consequentemente, processos nem condenações em tribunais de nenhum país, nem da Santa Sé. Para corroborar esta posição, sua heterossexualidade ficou confirmada por duas avaliações psicológicas independentes”, diz um comunicado de apoio ao sacerdote no sítio da diocese de Ciudad del Este.
O bispo de Ciudad del Este acusou o seu companheiro de Assunção de ser “má pessoa” por pedir a investigação e insinuou que deveria deixar seu cargo por ser “homossexual”.
Além disso, Livieres negou que a visita apostólica dos enviados de Francisco tenha como fim afastá-lo da diocese de Ciudad del Este.
O enviado de Francisco não esclareceu se esse foi o motivo principal da sua visita à diocese. “Não vou entrar no mérito da questão, apenas que o Santo Padre quis e quer estar informado, ter uma presença e poder falar entre nós e dialogar”, disse à imprensa local.
Divisão
O bispo de Ciudad del Este está, além disso, na mira por uma suposta malversação de doações e acusado de ter dilapidado o patrimônio imobiliário da diocese.
De acordo com sua equipe, Livieres gastou “até o último centavo na cobertura das necessidades da Igreja, sem desvios para bolsos particulares”. E garantem que vendeu imóveis sem benefícios econômicos para custear a educação de seminaristas.
Mas, como recordou o correspondente da BBC Mundo no Cone Sul, Ignacio de los Reyes, o conflito entre os bispos da Igreja paraguaia vem de longe.
“A origem de muitas desavenças foi a nomeação do ex-bispo Fernando Lugo como candidato à presidência do país, cargo que ocupou entre 2008 e 2012”, explica o correspondente.
O bispo de Ciudad del Este, membro da Opus Dei, havia acusado os seus companheiros da Conferência Episcopal Paraguaia de terem permitido que um religioso se metesse na política e inclusive chegou a assinalar que há décadas a Igreja do país é dirigida por bispos de esquerda e simpatizantes da Teologia da Libertação.
O presidente da Conferência Episcopal Paraguaia, Claudio Giménez, disse estar “surpreso” com os conflitos entre os bispos de Assunção e Ciudad del Este.
“Foi uma situação muito dolorosa. Ficamos com muita vergonha. Somos fracos e quebradiços, mas os problemas, com a ajuda de Deus, serão superados”, disse.
No Paraguai, acompanha-se com atenção a visita dos enviados do Papa Francisco e as repercussões que poderá ter na hierarquia católica local.
Tanto assim que alguns chegaram a chamar a viagem como uma missão para “sacudir o bispeiro”.
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Paraguai. A guerra de bispos que preocupa o Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU