Por: Caroline | 07 Mai 2014
O papa Francisco chama para as “periferias” do mundo, mas talvez não para Alemanha e França, visto a maneira pela qual a população vê a doutrina e a práxis da Igreja sobre o casamento gay e a comunhão aos casais em segunda união.
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Chiesa.it, 06-05-2014. A tradução é do Cepat.
Na preparação do sínodo sobre a família, um dos elementos mais marcantes foi o questionário distribuído “com o fim de obter dados concretos e reais sobre a temática sinodal”.
Tanto a formulação das 39 perguntas do questionário, quanto as modalidades de coleta das respostas não foram pensadas visando uma elaboração estatística dos resultados. As respostas deviam permanecer em sigilo. Porém alguns episcopados, especialmente da língua alemã, na Alemanha, na Áustria e na Suíça, tornaram as informações públicas, o que tornou evidente, em seus respectivos países, a forte distância que há entre o ensino moral da Igreja e a opinião e o comportamento de muitos fiéis.
A secretaria do sínodo está preparando um informe geral sobre as respostas do questionário.
Contudo também pode ser útil observar os resultados de uma pesquisa científica realizada em 40 nações dos cinco continentes pelo mais prestigiado centro de pesquisa sobre as religiões, o Pew Research Center, com sede em Washington.
A pesquisa, realizada entre 2013 e no começo de 2014, foi entregue aos fiéis em 15 de abril e solicitou aos entrevistados que declarassem se consideravam moralmente aceitável ou não oito situações ou comportamentos, seis das quais referiam-se precisamente ao tema do sínodo, isto é, a família:
-o aborto;
- a homossexualidade;
-as relações extraconjugais por parte de pessoas casadas;
- as relações sexuais entre adultos não casados;
-o divórcio;
-os anticoncepcionais;
Na Europa, os países nos quais a pesquisa foi realizada são o Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Grécia, Polônia, República Checa e Rússia.
Na América do Norte são os Estados Unidos e Canadá.
Na América Latina são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, El Salvador, México e Venezuela.
Na Ásia são Turquia, Jordânia, Líbano, os Territórios Palestinos, Israel, China, Indonésia, Japão, Malásia, Paquistão, Índia, Filipinas e Coréia do Sul.
Na África são Egito, Tunísia, Gana, Quênia, Nigéria, Senegal, África do Sul e Uganda.
Na Oceania é a Austrália.
As respostas variam de acordo com o tema assim como apresentam diferenças entre um país e outro. Contudo enquanto os anticoncepcionais e o divórcio são admitidos em todas as partes e pela maioria da população, o contrário ocorre com o aborto, a homossexualidade e as relações extraconjugais, que são julgadas como moralmente inaceitáveis pela maior parte dos entrevistados, na maioria dos países.
Como continuação temos, por exemplo, as porcentagens de pessoas que, em cada um dos seguintes países, julgam o aborto moralmente inaceitável:
Filipinas, em 93%
Gana, em 92%
Indonésia, em 89%
Uganda, em 88%
El Salvador, em 85%
Paquistão, em 85%
Bolívia, em 83%
Quênia, em 82%
Nigéria, em 80%
Brasil, em 79%
Malásia, em 79%
Tunísia, em 77%
Venezuela, em 77%
Chile, em 64%
México, em 63%
Egito, em 62%
África do Sul, em 61%
Índia, em 58%
Coréia do Sul, em 58%
Argentina, em 56%
Líbano, em 56%
Grécia, em 54%
Territórios Palestinos, em 54%
Jordânia, em 53%
Senegal, em 52%
Turquia, em 52%
Estados Unidos, em 49%
Polônia, em 47%
Rússia, em 44%
Itália, em 41%
China, em 37%
Israel, em 35%
Japão, em 28%
Austrália, em 26%
Canadá, em 26%
Espanha, em 26%
Reino Unido, em 25%
Alemanha, em 19%
República Checa, em 18%
Francia, em 14%
Enquanto essas são as porcentagens daqueles que julgam moralmente inaceitável a homossexualidade:
Gana, em 98%
Egito, em 95%
Jordânia, em 95%
Territórios Palestinos, em 94%
Indonésia, em 93%
Uganda, em 93%
Tunísia, em 92%
Quênia, em 88%
Malásia, em 88%
Nigéria, em 85%
Paquistão, em 85%
Líbano, em 80%
Turquia, em 78%
Rússia, em 72%
El Salvador, em 70%
Senegal, em 68%
Índia, em 67%
Filipinas, em 65%
África do Sul, em 62%
China, em 61%
Coréia do Sul, em 57%
Bolívia, em 51%
Venezuela, em 49%
Grécia, em 45%
Polônia, em 44%
Israel, em 43%
México, em 40%
Brasil, em 39%
Estados Unidos, em 37%
Chile, em 32%
Japão, em 31%
Argentina, em 27%
Itália, em 19%
Austrália, em 18%
Reino Unido, em 17%
Canadá, em 15%
República Checa, em 14%
França, em 14%
Alemanha, em 8%
Espanha, em 6%
Como se pode observar, a maior distancia dos dados está entre alguns países europeus e o Canadá, de um lado e, de outro, os países africanos ou no quais prevalece a população muçulmana.
Na América Latina, a Argentina é a nação que mais se aproxima dos padrões europeus.
Todavia a pesquisa do Pew Research Center evidencia também a natureza da distância: que está entre a opinião majoritária de algumas regiões europeias e a norte-americanas, onde reina a indiferença frente ao aborto, a dissolução do matrimônio e a ideologia de “gênero”, e a oposta sensibilidade de outras grandes regiões do mundo, especialmente na África e na Ásia, onde também apresentam-se sérios problemas de outro tipo, como os matrimônios com a poligamia.
Contudo, como propõe incansavelmente o papa Francisco, se a missão da Igreja não é a de se fechar em seus velhos perímetros geográficos e culturais, mas abrir-se à “periferia” do mundo, é evidente que não poderá ser a catolicidade da Alemanha – como está se configurando atualmente – o parâmetro universal da mudança da doutrina e da práxis da Igreja em matéria da família, da comunhão dos divorciados em segunda união e do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.
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Sobre a homossexualidade e o aborto, a voz do Terceiro Mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU