28 Março 2014
E, no fim, o papa também conquistou os salesianos. De fato, a congregação elegeu nessa terça-feira o seu novo reitor-mor: trata-se do 10º sucessor de Dom João Bosco e corresponde ao nome do padre Ángel Fernández Artime, de origem espanhola, 53 anos, até agora Inspetor para o sul da Argentina, cargo que ocupava desde 2009. E é justamente nessa veste que o padre Artime pôde conhecer e colaborar com o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada no jornal Il Secolo XIX, 26-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Além disso, Bergoglio está ligado pessoalmente à experiência salesiana, ao ter passado um período importante da sua formação no colégio Wilfrid Barón de los Santos Ángeles, estrutura educacional da família de Dom Bosco. Recentemente, o L'Osservatore Romano publicou algumas páginas inéditas de recordações que Bergoglio escreveu sobre aquela decisiva experiência feita ao redor dos 13 anos.
Explicava o pontífice: "No colégio, eu aprendi a estudar. As horas de estudo, em silêncio, criavam um hábito de concentração, de domínio da dispersão, bastante forte". E acrescentava: "O colégio criava, através do redespertar da consciência na verdade das coisas, uma cultura católica que não era nada 'beata' ou 'desorientada'".
A presença salesiana na Argentina também foi muito significativa, e se o novo reitor sucede a um espanhol, Pascual Chávez Villanueva, o antecessor deste último, padre Juan Edmundo Vecchi – reitor de 1996 a 2002 – era um argentino filho de imigrantes italianos, um percurso semelhante ao do Papa Francisco.
O capítulo geral que elegeu o padre Artime ocorreu, no entanto, em um período de grave crise para a congregação. É preciso considerar que o último secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone, representou os salesianos durante o pontificado de Ratzinger na cúpula da Igreja. Bertone nomeou vários salesianos entre os bispos e na Cúria vaticana, alimentando uma certa impaciência dentro do mundo eclesial em relação à congregação.
Além disso, é conhecida a contraposição que ele teve com a Conferência Episcopal Italiana a respeito da gestão dos assuntos internos da Itália, em particular nas relações com a política, isto é, se o primado cabia ao Vaticano ou à Igreja local.
Também foram atribuídas a Bertone escolhas infelizes no plano da gestão e da administração (dentre outras coisas, a tentativa de resgatar o Hospital San Raffaele, de Milão, com o dinheiro do IOR) e uma fraca atitude diplomática no plano internacional. Bertone, no entanto, também sofreu com uma visível ausência de Bento XVI da atividade de governo, acabando por servir, de fato, como um para-raios em muitos acontecimentos.
Bergoglio, em todo caso, o excluiu tanto da Secretaria de Estado quanto da comissão cardinalícia de controle do IOR. Ao mesmo tempo, porém, o papa reduziu o papel da CEI, ocupando-se, ele mesmo, em primeira pessoa, da Itália, à espera de que os bispos escolhessem o sucessor do cardeal Angelo Bagnasco.
Mas, para além do dano de imagem, os salesianos também estão vivendo uma crise de gestão mais séria, de tipo financeiro, com a qual o padre Artime terá que lidar rapidamente. De fato, chegou a um ponto crucial a disputa entre a congregação e os herdeiros do Marquês Gerini. Este último, em sua morte, em 1990, havia destinado o seu enorme patrimônio aos salesianos. Os bens, na realidade, eram deixados à Fundação Gerini, entidade eclesiástica da qual também faz parte o ecônomo da congregação religiosa. O marquês não tinha filhos, mas os sobrinhos contestaram a validade da herança.
A partir desse momento, teve início uma longa disputa legal que levou os salesianos à beira da falência depois de ter sido reconhecido uma indenização devida pela congregação aos herdeiros e aos seus mediadores na negociação, de cerca de 130 milhões de euros. A Casa Generalícia também acabou indo a leilão.
O episódio, depois, envolveu o próprio Bertone, cujo testemunho foi ouvido pelos magistrados. No entanto, no último minuto, veio à tona outro aspecto: as cartas da negociação teriam sido falsificadas, talvez com a cumplicidade de alguém de dentro da própria congregação. Em suma, poderia se tratar de uma fraude.
Uma solução, esta última, que salvaria os salesianos do rompimento, mas colocaria sérias interrogações sobre a gestão econômica e financeira, como já ocorrera com várias outras congregações religiosas.
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Papa também conquistou os salesianos, que agora têm um novo reitor-mor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU