15 Janeiro 2014
“Venha, suba!” Apenas duas palavras bastaram ao papa para surpreender um velho conhecido na Praça de São Pedro. Na última quarta-feira, durante sua audiência geral e entre milhares de fiéis, o Papa Francisco viu um rosto familiar. Era Fabián Báez, um pároco de sua querida Buenos Aires. Sem pensar duas vezes, convidou-o a subir no papamóvel – e o sacerdote não assim o fez de imediato. “Esta foto dará volta ao mundo!”, gritou Bergoglio sorridente.
A entrevista é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada no sitio Vatican Insider, 09-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na verdade, a imagen capturou a atenção mundial. Foi mais um gesto de proximidade do pontífice, destacaram os meios internacionais de comunicação. Poucos sabem que, quando o papa abraçou o padre, sussurou-lhe o seguinte: “Como estou me divertindo!” Em entrevista ao site Vatican Insider, Fabián Báez contou os detalhes de sua viagem no papamóvel.
Eis a entrevista.
Como se deu o encontro com o papa?
Na noite de terça-feira cheguei a Roma e na quarta-feira pela manhã não conseguia entrar na catequese do papa, porque não sabia de nada, nem onde se buscavam os bilhetes de entrada. Então, fui à Praça de São Pedro e fiquei atrás das barreiras de proteção na esperança de vê-lo passar no papamóvel. Quando ele passou, acabou me vendo e então me reconheceu. Eu gritei muito, porém, com tanto barulho, não consegui me fazer ouvir. Fiquei impressionado como as pessoas ficam efusivas com a presença do papa. Ele então me viu e disse: “Que faz aqui?” Gritei-lhe dizendo que tinha vindo aqui para vê-lo. O papamóvel continuou andando, deu uma volta e, ao regressar, parou. Aí então o papa me chamou, me fez pubar a barreira e me falou: “Vem, suba!” Pensei que ele iria me conseguir um lugar com assento mais na frente, onde eu pudesse me sentar. Mas o que ele disse foi: “Vem, suba no papamóvel!”. Aí então lhe cumprimentei e dei um abraço. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo.
E depois, o que aconteceu?
Ele disse a mim, sorrindo: “Esta foto dará volta ao mundo”. Como tive um pouco de dificuldade para pular a barreira de proteção, ele então fez uma piada sobre isso. Me disse: “Na próxima vez vamos fazer barreiras mais baixas”, algo assim. Fui muito gentil; me fez entrar e pediu que me colocassem numa cadeira próxima dele. Depois me perguntou: “Precisa ir embora agora?” Eu respondi que ficaria até o final. Então replicou: “Bem, depois eu lhe cumprimento”. Me saudou, falamos durante alguns minutos, perguntou por pessoas que conhecemos, conversamos de coisas pessoais... Eu nunca mais tinha visto ou falado com ele desde que se tornou papa, de modo que foi uma emoção muito grande.
Como é o papa em ação?
Percebi-o como um homem feliz e com uma fé muito forte. Fiquei muito impressionado com o seu carinho, o seu afeto. Realmente um representante de Cristo, bom, sereno, humilde. Creio que seja esta a sua mensagem: Venha, suba! É a mensagem que ele dá ao mundo; eu senti isso. A mim me tocou o que ele vem fazendo, ao clamar ao mundo para não perder a esperança. Vi que ele está muito bem, incrivelmente forte porque a parte da manhã foi uma maratona e, mesmo assim, saudou um por um durante duas horas; saudou a cada um dos enfermos, a cada uma das pessoas. Eu já estava um pouco cansado, mas ele continuava. Foi fantástico.
Que relação você tinha com ele quando estava em Buenos Aires?
Ele sempre foi meu bispo; foi quem me ordenou. Era uma relação de bispo e sacerdote, porém com seu toque especial. Bergoglio sempre foi um homem muito próximo, com quem podíamos falar de tudo; especialmente nos momentos difíceis, contávamos com sua presença. Quando o meu pai morreu, ele imediatamente me chamou para conversarmos; eram detalhes assim. Para mim ele nunca deixou de ser um sacerdote. Sim, era meu bispo e era o cardeal, porém no trato sempre foi um sacerdote disponível, muito afetuoso. Esperava vê-lo agora, mas jamais imaginei que seria assim.
Bergoglio evoluiu desde que se tornou papa?
Não acho que podemos falar de evolução. Creio que ele está sendo agora com todo o mundo o mesmo que era antes nos grupos de intimidade. Quando estava entre amigos, era assim mesmo, ria, fazia piadas. Parecia que era tímido quando estava à frente de multidões ou nas missas. Esta era a impressão que eu tinha antes: que era muito afável nos pequenos grupos, em conversas entre amigos, era divertido, alegre, simples e um pouco retraído perante as multidões.
Qual é a contribuição da Argentina à Igreja universal através do Papa Francisco?
Não sei. Posso dizer o que ele está dando à Argentina. Parece bonito que a Igreja tenha um papa do “fim do mundo”, como ele disse ao asumir o papado. Isso demonstra um coração universal da Igreja. A Igreja não é um esquema de luta de poder, como alguns podem pensar. Se assim fosse, um arcebispo quase jubilado, de 76 anos, de uma diocese do fim do mundo não seria eleito papa. É evidente que existe outra racionalidade na Igreja. O que ele apresenta é sua simplicidade, sua proximidade; isso podemos observar claramente. À Argentina ele está ensinando a cultura do encontro, do diálogo, de curar as feridas, de não ficarmos presos às coisas que nos separam, e sim nas que nos unem. Espero, de coração, que nós, argentinos, possamos compreendê-lo, que possamos superar as divisões internas, isso que tanto pesa em nossa pátria. E, nesse aspecto, ele é sinal de algo novo.
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“Venha, suba!” Um padre no papamóvel de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU