28 Junho 2013
A decisão do presidente Barack Obama de dar à agência ambiental dos EUA poder para impor uma redução das emissões de carbono provenientes das usinas de eletricidade americanas colocou a indústria carbonífera, já em dificuldades, no centro das eleições parlamentares do próximo ano.
A reportagem é de Richard McGregor, foi publicada no Financial Times e reproduzida no jornal Valor, 27-06-2013.
Mitt Romney e seus apoiadores gastaram dezenas de milhões de dólares nas eleições de 2012 acusando Obama e os democratas de travar uma "guerra contra o carvão", estratégia que retornou escassos dividendos seja nas eleições presidenciais ou para o Congresso.
Mas o tema problema poderá repercutir mais favoravelmente em proveito dos candidatos republicanos nas eleições parlamentares de meio de mandato presidencial, em 2014, agora que Obama, que recuara de sua proposta de reduzir a produção de carvão na campanha do ano passado, assumiu claramente essa bandeira.
"A diferença é que, desta vez, a questão é real", disse Jennifer Duffy, que cobre o Senado americano para a "Cook Political Report".
Republicanos e entidades do setor do carvão voltaram ao tema com redobrado vigor após o discurso de Obama anteontem, no qual o presidente prometeu levar a questão da mudança climática de volta ao topo da agenda, tanto internamente como no exterior.
"A fala do presidente, essencialmente anunciando um imposto nacional sobre energia e uma continuação da guerra ao carvão, provocará o desemprego de milhares e milhares de americanos", disse o republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Deputados.
Obama delineou um plano visando reduzir as emissões dos EUA de gases causadores do efeito estufa e ordenou à Agência de Proteção Ambiental (EPA) que defina padrões de poluição de carbono para usinas de eletricidade - tanto as já existentes com as futuras.
A agência ambiental anunciou uma regra para limitar as emissões de novas usinas a carvão no ano passado, mas descumpriu seu próprio prazo, findo em abril, para concluir tal regulamentação. Espera-se, para os próximos meses, que a EPA anuncie a norma para emissões das usinas já existentes.
A expectativa é que os republicanos manterão o controle da Câmara dos Deputados em 2014. Assim, o campo de batalha é o Senado, onde os democratas estão vulneráveis. Os democratas hoje controlam 54 das 100 cadeiras, mas 33 delas estarão em jogo em 2014.
Joe Manchin, senador democrata da Virgínia Ocidental, um Estado rico em carvão, qualificou a decisão de Obama de "simplesmente absurda". A outra vaga do Estado no Senado estará em disputa em 2014 devido à aposentaria do democrata Jay Rockefeller.
"Oito bilhões de toneladas de carvão estão sendo queimadas no mundo neste momento, e os EUA consomem cerca de um bilhão de toneladas. O que acontecerá com os outros sete bilhões de toneladas?", disse Manchin à Fox News.
Se o impacto da decisão de Obama se restringir aos Estados carboníferos, grupo que também inclui Wyoming, Kentucky e Tennessee, as consequências políticas podem ser limitadas. Estados como Pensilvânia e Ohio, alvo de captura de votos por Romney em 2012, eliminaram postos de trabalho na indústria do carvão, mas registraram forte crescimento do emprego no setor energético em geral, devido ao boom do gás de xisto.
Com as geradoras usando mais e mais gás, a participação da eletricidade gerada pela queima do carvão nos EUA caiu para 37% em 2012, seu mais baixo nível desde 1970. Era normalmente em torno de 50% desde os anos 1980.
Mas após caírem para um mínimo em 10 anos, no ano passado, os preços do gás começaram a subir novamente, tendência que poderá deixar o carvão economicamente mais atraente e causar uma elevação das emissões de gases-estufa.
Além das questões energéticas, os conservadores consideram o anúncio de Obama um símbolo do "intervencionismo" do governo federal (nos Estados), um tema cuja discussão poderá não ficar confinada aos Estados carboníferos.
"Os republicanos fizeram um trabalho muito bom em caracterizar a EPA como o maior problema nessa questão", disse Duffy.
A ironia decorrente do importante discurso de Obama sobre mudança climática está no fato de que ele também forneceu uma fórmula para possível aprovação do oleoduto Keystone XL, projeto energético que a Casa Branca protelou. Obama disse que os "efeitos líquidos" do oleoduto Keystone (cuja construção visa levar petróleo das areias betuminosas do Canadá às refinarias americanas no Golfo do México) sobre as emissões de gases-estufa será fundamental para determinar se ele merecerá seu aval.
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Corte de emissões põe carvão no centro da eleição nos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU