03 Mai 2013
Um terremoto político na aliança direitista que governa o Chile pode polarizar ideologicamente a eleição presidencial e favorecer a volta ao poder da ex-presidente socialista Michelle Bachelet.
Desgastado depois que sua gestão como executivo do grupo varejista Cencosud foi alvo de condenação na Suprema Corte e pela divulgação de uma conta não declarada num paraíso fiscal, o ex-ministro de Obras Públicas Laurence Golborne desistiu da candidatura presidencial pela União Democrata Independente (UDI), o maior partido da coligação do presidente Sebastián Piñera. Foi substituído pelo ministro da Economia, Pablo Longueira, que irá disputar as prévias com o pré-candidato da Renovação Nacional (RN), o ex-ministro da Defesa Andrés Allamand.
A reportagem é de César Felício e publicada pelo jornal Valor, 03-05-2013.
Golborne se notabilizou com o resgaste de um grupo de 33 mineiros soterrados num desabamento e tinha um perfil de gestor, pouco vinculado à política tradicional.
Longueira foi deputado e tem passado ligado ao regime militar de Augusto Pinochet (1973-90). A filha de Pinochet, Lucía, vereadora na região metropolitana de Santiago, disse em entrevista em 2012 que Longueira era o "queridinho do papai", tendo recebido ajuda financeira do general em sua primeira candidatura. Segundo ela, Longueira teria rompido com o pai só em 1998, quando o ex-presidente deixou o comando do Exército e acabou preso em Londres, a pedido da justiça espanhola.
Allamand participou da campanha do "sim" de Pinochet em 1988, no plebiscito que rejeitou a permanência do ditador no poder por mais oito anos, tema de um filme que concorreu ao Oscar de melhor película estrangeira este ano.
Com perfis conservadores, Longueira e Allamand terão dificuldades de ocupar o espaço do centro. "No Chile ganha este ano quem estiver no centro político", disse o analista Patricio Gajardo. Eles disputarão as prévias em 30 de junho. Piñera prometeu neutralidade. "O fato de Golborne já ter anunciado que concorrerá ao Senado é sinal de que não saiu da disputa pelos questionamentos que sofria, mas porque a UDI não acredita mais na vitória. A nova estratégia do governismo é resguardar-se com um bom resultado no Congresso", escreveu o cientista político Patricio Navia no jornal "La Tercera".
Pela oposição, Bachelet tem mais 40% nas pesquisas de intenção de voto, enquanto nenhum adversário passa de 10%. Mas ela deve enfrentar dissidências na sua coligação de centro-esquerda, a Concertação, em função da disputa por lugares na lista para a eleição ao Congresso. Irritado com a falta de espaço para seu grupo, o ex-ministro da Economia Andrés Velasco ameaça se lançar candidato independente à Presidência..
Os demais candidatos são Franco Parisi, comunicador centrista bem conhecido no Chile, e o socialista dissidente Marco Enriquez Ominami. O primeiro turno da eleição será em novembro.
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Polarização favorece Bachelet no Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU