16 Outubro 2012
Bento XVI deve ter causado admiração na noite do dia 11, quando, ao se dirigir a uma multidão na Praça de São Pedro lembrando o famoso "discurso sobre a lua" do Papa João XXIII, às vésperas do Concílio Vaticano II, há 50 anos, disse que a alegria da Igreja de hoje é "mais sóbria" do que era então, porque, nesse meio tempo, "aprendemos e experimentamos que o pecado original existe".
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 12-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Vimos que, mesmo no campo do Senhor, há discórdia", disse Bento XVI, "que, mesmo na rede de Pedro encontramos peixes ruins, que a fraqueza humana está presente até mesmo na Igreja".
Embora o papa não tenha dito isso em voz alta, é difícil não imaginar que ele tivesse os escândalos dos abusos sexuais de crianças ao menos parcialmente em mente quando elaborou essas frases.
No dia 12, a consciência do impacto dos "peixes ruins" da Igreja encontrou um eco claro no Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, na forma de um discurso proferido pelo bispo Brian Dunn, de Antigonish, no Canadá. A diocese foi um dos epicentros dos escândalos, em parte porque o antecessor de Dunn, Dom Raymond Lahey, foi acusado em 2009 de possuir pornografia infantil em seu laptop quando tentava entrar novamente no país. Lahey, no fim, se declarou culpado em 2011 e foi laicizado pelo Vaticano em maio.
Contra esse pano de fundo, Dunn, obviamente, sentiu que não poderia evitar os escândalos dos abusos em seu discurso no Sínodo.
"Como podemos evangelizar aqueles que foram profundamente feridos por homens da Igreja envolvidos em abusos sexuais?", perguntou Dunn, tornando-se o primeiro participante do Sínodo a abordar as consequências da crise.
Dunn propôs uma resposta de quatro pontos para a sua própria pergunta.
Primeiro, ele sugeriu um "ministério da escuta" para as pessoas afetadas pela crise dos abusos, concretizado em um "escritório de reconciliação", que ele sugeriu que cada diocese deveria ter, onde as pessoas pudessem "desabafar a sua dor e buscar uma reconciliação apropriada".
Segundo, ele pediu a implementação de todas as medidas necessárias "para criar ambientes seguros para as crianças e os mais vulneráveis" na Igreja.
Terceiro, Dunn pediu um maior "espírito de comunhão" na Igreja, dirigido especialmente a "todos aqueles que acreditam que sua voz nunca é ouvida".
Quarto, Dunn ensossou "mudanças apropriadas em algumas estruturas da Igreja", no sentido de uma autoridade e responsabilidade mais compartilhada, especialmente com relação aos leigos. Essas reformas estruturais, disse, precisam fluir a partir de uma mudança de "mentalidade", baseada em um "contato próximo com os leigos".
Especificamente, Dunn apoiou:
Tais reformas, argumentou Dunn, significariam que "a nossa fé seja transmitida mais eficazmente" e que o "nosso testemunho pareça mais autêntico em nosso mundo contemporâneo".
É claro, isso nada mais é do que a opinião de um bispo, embora de um bispo que foi obrigado pelas circunstâncias a refletir mais do que a maioria sobre a crise dos abusos e sobre o que é preciso para se recuperar dela. Resta saber o que os outros participantes farão com isso, especialmente com a agenda concreta que Dunn esboçou para o empoderamento dos leigos.
Mesmo assim, um dia depois que Bento XVI praticamente convidou a uma autorreflexão crítica sobre a "fraqueza humana" da Igreja, ninguém pareceu assumi-la mais do que Dunn.
Na tarde do dia 12, o Sínodo ouviu o microbiologista suíço Werner Arber, vencedor do Prêmio Nobel de medicina em 1978, sobre a relação entre ciência e fé. O Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização continua até o dia 28 de outubro.
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Sínodo ouve apelos de reformas para os leigos e as mulheres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU