15 Outubro 2012
Publicamos aqui a apresentação e um trecho do livro de Joseph Ratzinger-Bento XVI A infância de Jesus, que completa a trilogia dedicada pelo papa à figura de Cristo. O livro, que será apresentado na Feira do Livro de Frankfurt, Alemanha, foi publicado pela editora Rizzoli, em coedição com a Livraria Editora Vaticana. Na Itália, estará nas livrarias antes do Natal.
O texto foi publicado no jornal Corriere della Sera, 10-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Finalmente posso entregar nas mãos do leitor o pequeno livro há muito tempo prometido sobre os relatos da infância de Jesus. Não se trata de um terceiro volume, mas sim de uma espécie de pequena "sala de entrada" aos dois volumes anteriores sobre a figura e sobre a mensagem de Jesus de Nazaré. Aqui, tentei interpretar, em diálogo com os exegetas do passado e do presente, o que Mateus e Lucas contam no início dos seus Evangelhos sobre a infância de Jesus
Uma interpretação correta, segundo a minha convicção, requer dois passos. De um lado, é preciso se perguntar o que os respectivos autores queriam dizer com o seu texto no seu momento histórico – é o componente histórico da exegese. Mas não basta deixar o texto no passado, arquivando-o assim entre as coisas que aconteceram tempos atrás.
A segunda pergunta do justo exegeta deve ser: é verdade o que foi dito? Diz respeito a mim? E se me diz respeito de que modo o faz? Diante de um texto como o bíblico, cujo último e mais profundo autor, segundo a nossa fé, é Deus mesmo, a pergunta acerca da relação do passado com o presente faz parte inevitavelmente da nossa interpretação. Com isso, a seriedade da pesquisa histórica não é diminuída, mas sim aumentada.
Tive pressa, nesse sentido, para entrar em diálogo com os textos. Com isso, estou bem consciente de que esse colóquio, no entrelaçamento entre passado, presente e futuro, nunca poderá ser cumprido, e que toda interpretação fica atrás com relação à grandeza do texto bíblico. Espero que o meu pequeno livro, apesar dos seus limites, possa ajudar muitas pessoas no seu caminho para e com Jesus.
Castel Gandolfo, na Solenidade da Assunção de Maria ao Céu, 15 de agosto de 2012.
Os significados de um ícone. Na manjedoura, o alimento do Espírito
Maria envolveu o menino em faixas. Sem nenhum sentimentalismo, podemos imaginar com que amor Maria terá ido ao encontro da sua hora, terá preparado o nascimento do seu Filho. A tradição dos ícones, com base na teologia dos Padres, também interpretou manjedoura e faixas teologicamente. O menino estreitamente envolvido em faixa aparece como uma referência antecipada à hora da sua morte: Ele é desde o início o Imolado, como veremos mais detalhadamente refletindo sobre a palavra acerca do primogênito. Assim, a manjedoura era representada como uma espécie de altar.
Agostinho interpretou o significado da manjedoura com um pensamento que, em um primeiro momento, parece quase inconveniente, mas, examinado mais atentamente, no entanto, contém uma profunda verdade. A manjedoura é o lugar em que os animais encontram o seu alimento. Ora, porém, jaz na manjedoura Aquele que indicou a si mesmo como o verdadeiro pão descido do céu – como o verdadeiro alimento de que o ser humano precisa para o seu ser pessoa humana. É o alimento que dá ao ser humano a vida verdadeira, a eterna.
Desse modo, a manjedoura se torna uma referência à mesa de Deus à qual o ser humano é convidado, para receber o pão de Deus. Na pobreza do nascimento de Jesus, delineia-se a grande realidade, em que se realiza de modo misterioso a redenção dos seres humanos.